(II Sent., dist. XXXVI, a . 5).
O quarto discute-se assim. ― Parece que a bondade e a malícia dos atos humanos não provêm do fim.
1. ― Pois, como diz Dionísio, nenhum ato visa o mal como fim do agir. Logo, se pelo fim é que os atos são bons ou maus, nenhum será mau, o que é evidentemente falso.
2. Demais. ― A bondade de um ato lhe é algo de intrínseco. Ora, o fim é causa extrínseca. Logo, não é em virtude do fim que uma ação se torna boa ou má.
3. Demais. ― Um ato bom pode se ordenar a um fim mau, como quando alguém dá esmola por vanglória; e inversamente, um ato mau pode se ordenar a um fim bom, como quando alguém furta para dar aos pobres. Logo, não é o fim que confere a bondade ou a malícia aos atos.
Mas, em contrário, diz Boécio: quem visa um fim bom é bom, e quem visa um mau, é mau.
Solução. ― As coisas se dispõem para a bondade como para o ser. Ora, há certas que têm o ser independente, e em relação a essas basta lhes consideremos o ser, absolutamente. Há outras porém que são dependentes, e devemos então considerar-lhes a causa de que dependem. Ora, assim como o ser de uma coisa depende do agente e da forma, assim a bondade depende do fim. Por isso, a bondade das Pessoas divinas, independente de tudo, não a julgamos relativamente a nenhum fim. As ações humanas porém e quaisquer outras, cuja bondade é dependente, tiram a bondade do fim de que dependem, abstraindo-se da bondade absoluta que lhes é intrínseca.
Assim pois a bondade de uma ação humana pode ser considerada em quatro pontos de vista. Uma é genérica, que convém à ação como tal; pois, é boa na medida em que é ação, como já se disse. Outra é específica, e lhe resulta do objeto conveniente. A terceira, dependente das circunstâncias, é como que acidental. E a quarta, depende do fim, é constituída pela relação com a causa mesma da bondade.
Donde a resposta à primeira objeção. ― O bem que visamos, quando agimos nem sempre o é verdadeiramente, mas às vezes é bem apenas aparente. E por isso, do fim resulta uma ação má.
Resposta à segunda. ― Embora o fim seja causa extrínseca, contudo a proporção devida e a relação com ele são inerentes à ação.
Resposta à terceira. ― Nada impede que uma ação deixa de ter todas as quatro bondades referidas. E então pode se dar que a ação boa na sua espécie e relativamente às circunstâncias se ordene a um fim mau, e inversamente. De modo que é absolutamente boa só a ação na qual concorrem todas as bondades; pois, ao passo que qualquer defeito, por pequeno que seja, causa o mal, o bem procede só de uma causa íntegra, como diz Dionísio.