Senhora! O vosso altar já foi sacrário
De riquezas do céu, que o céu vos dava
Em prol de Portugal.
Em cada português tínheis um filho,
De todos éreis Mãe, refúgio a todos,
Nas angústias do mal.
Em vosso coração imaculado
As lágrimas da dor tinham asilo,
Ó! Rainha dos Céus!
As lágrimas com vosso patrocínio
Erguiam-se da terra, qual perfume,
Ao trono do meu Deus!
Em transes d’aflição, nos grandes riscos,
No afogo das pelejas duvidosas,
Vosso nome se ouvia:
As ramas orgulhosas, destemidas,
Afrouxavam nas mãos dos inimigos,
Ao nome de Maria!
Lá nas iras do mar, quando o sepulcro,
Ao convulso baixel a tempestade
Nos recifes abria;
Azulavam-se o céus, fugia a nuvem,
Voava a viração, vinha a bonança
Ao nome de Maria!
Quando em leito de pálida doença
Febril enfermo abandonado e triste,
Sem esp’ranças jazia;
De novo o coração lhe palpitava,
Erguia-se robusto, as mãos erguendo
Ao nome de Maria!
Donzela que a chorar passara noites,
De saudades, por quem tamanho afeto
Lhe não agradecia;
Lá vinha a ser feliz com quem amara,
Pois dera o seu futuro em segurança
Ao nome de Maria!
E a carinhosa mãe, que o filho amado
De seus amigos braços para a guerra
Chorando, despedia;
Joelhava-se depois, ante o oratório,
E a vida de seu filho confiava
Ao nome de Maria!
E seu filho, mais tarde, em vivas ânsias.
À porta do seu lar, com mão tremente,
Receoso, batia.
Nos braços maternais contava, ufano,
Triunfos, que tivera sobre a morte
Ao nome de Maria!
O nome de Maria hoje invocamos,
Nós, filhos desses homens d’outras eras,
Que morreram na fé!
Senhora! Protegei nossos trabalhos!
Sem proteção do Céu o esforço humano
Baldado esforço é!
No coração dos vossos portugueses
Despertai o temor, tão vivo um dia,
No porvir immortal.
De vosso resplendor a luz das crenças,
Descei sobre este solo, escuro e pobre;
— Salvareis Portugal!