O segundo discute-se assim. ― Parece que usar convém aos brutos.
1. ― Pois, fruir é mais nobre que usar, porque, como diz Agostinho, o que usamos referimos ao que vamos goza. Ora, fruir convém aos brutos, como já se disse. Logo, com maior razão o usar.
2. Demais. ― Usar é aplicar os membros para agir. Ora, os animais fazem tal, pois usam dos pés para andar e dos chifres para chifrar. Logo, aos brutos convém o usar.
Mas, em contrário, diz Agostinho: Só o animal dotado da razão é que pode usar das coisas.
Solução. ― Como já se disse, usar é aplicar um princípio de ação para agir, assim como consentir é aplicar o movimento apetitivo para desejar alguma coisa, conforme ficou estabelecido. Ora, só o ser que tem livre arbítrio sobre outro é que pode aplicar este último a um terceiro; ora, esse arbítrio só o tem o ser que sabe referir uma coisa à outra, o que pertence à razão. Por onde, só o animal racional pode consentir e usar.
Donde a resposta à primeira objeção. — Fruir implica o movimento absoluto do apetite para o apetível; ao passo que usar implica esse movimento para uma coisa que se refere à outra. Se pois compararmos o usar e o fruir, quanto aos seus objetos, este é mais nobre que aquele, pois, o absolutamente desejável é melhor que aquilo que só relativamente o é. Se os compararmos porém, quanto à virtude apreensiva precedente, maior nobreza requer o uso, porque ordenar uma coisa a outra é próprio da razão; absolutamente falando, porém, também o sentido pode apreender uma realidade.
Resposta à segunda. ― Os animais usam de seus membros por instinto natural e não por conhecerem a relação deles com as suas operações. Por onde, não se diz propriamente, que aplicam os membros à ação nem que deles usam.