(II Sent., dist. XXXVIII, a. 3; De Verit., q. 22, a . 13).
O primeiro discute-se assim. Parece que a intenção é ato do intelecto e não da vontade.
1. ― Pois, diz a Escritura (Mt 6, 22): Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso, significando olho, a intenção, como diz Agostinho. Ora, os olhos, sendo instrumentos da visão, significam potência apreensiva. Logo, a intenção não é ato da potência apetitiva, mas da apreensiva.
2. Demais. ― No mesmo passo observa Agostinho, que a intenção é chamada luz pelo Senhor, quando o Evangelho diz (Mt 6, 23): Se pois a luz que em ti há são trevas, etc. Ora, a luz diz respeito ao conhecimento. Logo, também a intenção.
3. Demais. ― A intenção designa um certo ordenar-se ao fim. Ora, ordenar é próprio da razão. Logo, a intenção pertence a esta e não à vontade.
4. Demais. ― O ato da vontade recai sobre o fim ou sobre os meios. Quando recai sobre o fim chama-se vontade ou fruição; quando recai sobre os meios, eleição; ora, de uma e outra difere a intenção. Logo, esta não é ato da vontade.
Mas, em contrário, diz Agostinho: a intenção da vontade une o corpo visto à vista; e semelhantemente, a imagem existente na memória à fina ponta do espírito, que cogita interiormente. Logo, a intenção é ato da vontade.
Solução. ― Intenção, como o próprio nome o indica, significa tender para alguma coisa. Ora, para alguma coisa tende tanto a ação do motor como o movimento do móvel. Ora, pela ação do motor é que o movimento do móvel tende. Logo, a intenção, primária e principalmente é própria do que move para o fim; e por isso dizemos que o arquiteto, bem como todos os que ordenam, move os outros pelo seu império, ao fim para o qual ele tende. Ora, como já se estabeleceu, a vontade move para o fim todas as outras potências da alma. Por onde é manifesto, que a intenção é propriamente ato da vontade.
Donde a resposta à primeira objeção. — Chama-se intenção aos olhos, metaforicamente; não que ela seja própria do conhecimento, mas porque pressupõe este, pelo qual é proposto à vontade o fim para onde ela a move. Assim, com os olhos prevemos para onde devemos corporalmente tender.
Resposta à segunda. ― Chama-se à intenção luz porque é manifesta ao que entende. Por isso também as obras se chamam trevas, porque o homem sabe o que entende, mas não o que resulta da obra, como Agostinho expõe no mesmo passo.
Resposta à terceira. ― Por certo que a vontade não ordena, mas tende contudo para alguma coisa, segundo a ordem da razão. Por onde, esse nome de intenção designa um ato da vontade, pressuposta à ordenação da razão, que ordena uma coisa para o fim.
Resposta à quarta. ― A intenção é ato da vontade relativamente ao fim. Ora, de tríplice modo a vontade visa o fim. Absolutamente, e então chama-se vontade o ato pelo qual queremos, de modo absoluto, a saúde ou coisa semelhante, que exista. De outra maneira, o fim é considerado como o em que a vontade descansa, e então a fruição respeita ao fim. Em terceiro lugar, o fim é considerado como o termo de algo que para ele ordena, e é assim que a intenção diz respeito ao fim. Pois, não intendemos a saúde só porque a queremos, mas porque queremos alcançá-la por alguma meio.