TOLERÂNCIA
"A grande doença de nossa época, e principalmente de nosso país, é a da insensibilidade moral travestida em bondade. Todos toleram tudo, e depois se espantam com o antinômico resultado dos vagões de gases."
(Pode-se transigir em religião?, A Ordem, Fevereiro de 1954)
"Ah! essa caridade assim definida, eu a vomito! A que aprendi, e tão mal sirvo, soa como bronze e queima como fogo. É paciente, sem dúvida, conforme diz o apóstolo, mas é paciente quando está em jogo o seu próprio interesse, e impetuosa, terrível, colérica, quando vê a injustiça triunfar, quando vê nos postos de mando os que deviam estar na cadeia, quando vê o bem comum mal servido, quando vê o pobre humilhado, o inocente ferido, e sobretudo, sobretudo! quando vê o culpado engrandecido."
(Caridade e caridade, in Dez Anos)
"Há inúmeras situações humanas em que a solução acertada é um meio termo. Assim acontece quando, por exemplo, queremos regular o uso dos bens materiais; e assim também acontece quando devemos navegar entre escolhos. Seria, entretanto um erro gravíssimo supor que a boa solução está sempre no meio termo ou na bissetriz. Costuma-se hoje criticar, apostrofar as pessoas que em certas situações de dilema tomam posições extremadas ou radicais. Há também inúmeros casos em que o acerto está num extremo e não no meio. A integridade e a totalidade da Fé estão nesse caso.
"A Fé divina constituirá para nós a mais bela e adamantina intolerância; ou a maior das exigências feitas aos homens. Seria insustentável se Deus mesmo, para tanto, não nos desse a força interna, a virtude teologal, visão obscura, mas certa, semente de vida eterna, mas já eternidade diante de Deus. E para nós é especialmente grato lembrarmo-nos de que aparelho, de que obra, nos vêm essa energia espiritual — a Cruz de nosso Salvador."
(Curso de Religião, Cadernos Permanência, 1979)
"A propósito de maus e bons mosteiros, escreveu assim o abade de Solesmes: "Um mau mosteiro não é aquele em que os monges cometem muitas faltas; é aquele em que as faltas não são punidas". E eu creio firmemente que o próprio São Bento não diria melhor. Realmente, onde alguns monges cometem muitas faltas pode-se dizer que existem diversos maus monges; mas onde essas faltas não tem conseqüências, são todos que se tornaram maus, sim, maus por indiferença à linha divisória entre o bem e o mal, maus por negação da ordem moral, e sobretudo maus por indiferença ao mal que causa o mal praticado impunemente.
"Ora, esse princípio elementar, essa decorrência imediata da Caridade, ou essa exigência primeira da lei moral, não somente está em desuso como também em descrédito. Ninguém corrige, ninguém pune. Nas famílias, nas dioceses, nas universidades, na sociedade civil (...) E quando se esboça um pequeno movimento de reação e de virilidade, surgem logo os bons moços a gritar contra o "terrorismo cultural", ainda que reconheçam, como Tristão de Ataíde, que se trata de um "terrorismo suave".
"Depois, o bom moço recebe abraços dos patifes, é elogiadíssimo pelos corruptos, recebe telegrama dos apóstatas, e cartas efusivas dos blasfemos. E o bom moço fica contente consigo mesmo e com o mundo, porque a forma mais alta da caridade é a tolerância, como me escreve um imbecil, ou algum interessado em pensão de moças."
(Impunidades, O Globo, 16/09/65)
“É impossível, no convívio dos homens, sempre dizer sim e nunca dizer não. Há situações em que o sim é a expressão triste de um grande egoísmo e o não, a forte manifestação de ardente amor. A caridade nem sempre agrada e a prudência só é autêntica se aliada à força. Se em casa os pais não sabem dizer não ao filho e à filha desde a terna infância, mais tarde certamente irão dizer a eles vítimas do tóxico e do amor-livre um sim entristecido.”
(Editorial Permanência)
"Reconheço que usei expressões que a muitos parecerão excessivas e que corri os inevitáveis riscos de quem escreve com amor. Mas ainda não consegui encontrar um tom avaselinado quando vejo o incêndio lavrar na Cidade de Deus, e quando está em jogo o Sangue de nosso Salvador."
(Cavalos, Avestruzes e Cães Cegos, O Globo, 5 de Março de 1970)
TRABALHO
"Uma errônea filosofia, em reação a outra não menos errônea, afirma em nossos dias o "primado do trabalho", não apenas no contrato de trabalho entre os operários e empregadores, mas em todas as situações da vida, como se o homem tivesse nascido para trabalhar, e viva para trabalhar em vez de trabalhar para viver como diz o bom-senso e a reta filosofia [...] É fácil compreender que estaremos irremediavelmente perdidos, como pessoas, se concedermos esse primado do trabalho pelo qual seríamos essencialmente, antes de mais nada, um animal produtor. Não [...] o homem trabalhar "para"... descansar "para"... para o quê? Para ser dono de si mesmo, fazer o que lhe agrada, amar, meditar, rezar e tudo o mais que não é "trabalho" nem "lazer", que não é divertimento nem descanso, mas plenitude de vida, ainda que a manifestação seja a mais humilde.
"[...] E é para isto que existem as refinarias de petróleo, as usinas siderúrgicas, os computadores eletrônicos, mesmo porque, se não tiverem esta serventia, não terão nenhuma."
(A Volta para Casa, 23/08/64)