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SÉCULO XX
"O que sou eu principalmente? O habitante do século XX não sabe responder a essa pergunta, e conseqüentemente não sabe se deve andar ou parar, se deve sentar-se para estudar, se deve deitar-se e deixar a vida correr, se deve virar de cabeça para baixo como os palhaços, se deve cair de quatro como os imbecis, se deve erguer a cabeça, ou se deve dobrar o joelho. O mundo em que vivemos é a projeção de todas estas perplexidade dos "eus" que já não sabem o que são."
(A Crise de autoridade e o Democratismo, Permanência, junho de 1969 )
 
"Em nome de um otimismo confiante nos recursos humanos, na ida à Lua e nos transplantes de corações logo rejeitados, em nome de um novo humanismo que ousa dar o qualificativo de novo ao capricho inconstante dos homens, em nome do nada e da vaidade das vaidades, perseguição de vento, o caudal de erros se alargou neste estuário de disparates que inunda o mundo e produz na Igreja devastações incalculáveis. Que nome daremos ao mal deste século? 
 
"Este: DESESPERANÇA.
 
"Ei-lo, o mal de nosso tormentoso e turbulento século que ousou horizontalizar as promessas de Deus transformadas em promessas humanas. Que ousou tentar a secularização do Reino de Deus que não é deste mundo. Ei-los os escavadores do nada a construir em baixo-relevo, en creux, a nova torre de Babel. Esperantes às avessas, eles querem fazer revoluções niilistas, querem voltar ao zero, querem destruir, querem contestar, rejeitar, querem niilizar. E se chamam "progressistas". 
 
"No século anterior as agressões e traições convergiram contra a Fé, como se viu na crise modernista que São Pio X represou. Tremo de pensar que o próximo século será o do desamor. Perguntando ao mar, às árvores, ao vento, o que querem esses homens que se agitam e meditam coisas vãs, parece-me ouvir uma resposta de pesadelo. Eles querem produzir uma sinarquia, uma espécie de unanimidade, uma espécie terrível de paz e bem-estar. Qual? 
 
"Querem chegar ao PECADO TERMINAL.
 
(...) 
 
"Que fazer? Lutar. Combater. Clamar. Guerrear. Mas lutar sabendo que lutamos não somente contra a carne e o mundo, mas contra o principado das trevas. É preciso gritar por cima dos telhados que, se o cristianismo se diluir, se a Igreja tiver ainda menos visível o ouro de sua santa visibilidade, se seu brilho se empanar pela estupidez e pela perversidade de seus levitas, o mundo se tornará por um milênio espantosamente, inacreditavelmente, inimaginavelmente estúpido e cruel. 
 
"Roguemos pois a Deus, com todas as forças; desfaçamo-nos em lágrimas de rogo e gritemos a súplica que nos estala o coração: enviai-nos, Senhor, ainda neste século, um reforço de grandes santos, de grandes soldados que queiram dar a vida, no sangue ou na mortificação de cada dia, pela honra e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Compadecei-vos, Senhor, de nossa extrema miséria, e sacudi os homens para que eles saibam quem é o Senhor! 
 
"É preciso lutar; e sobretudo não desanimar quando nos disserem que o inimigo cerca a Cidade de Deus com cavalos e carros de combate. Ouçamos Eliseu: "Não tenhais medo porque os que estão conosco são muito mais fortes do que os que estão contra nós". E elevando a voz Eliseu exclamou: "Senhor, abri-lhes os olhos para que eles vejam. E abrindo-lhes os olhos o Senhor, eles viram, em torno de Eliseu, a montanha coberta com cavalos de guerra e carros de fogo". (II Reis, VI,16) 
(O Século do Nada, Conclusão)
 
SINCERIDADE
"Uma das mais monstruosas deformações de nosso tempo é a que faz da SINCERIDADE a suprema virtude. Ora, a sinceridade não chega a ser uma virtude; é necessária mas não é bastante para a integridade do ato moral. Será, materialiter, uma meia-virtude.
 
"Se definirmos a sinceridade como uma concordância entre a consciência e o ato exterior, ação ou palavra, podemos facilmente mostrar que os grandes celerados da humanidade foram sinceros. Hitler, por exemplo, foi um modelo de sinceridade e de autenticidade. Durante a guerra, evidentemente, teve de mentir e enganar o inimigo; mas antes da guerra disse em palavras dispersas, e no livro que imprimiu, tudo o que contava fazer, e que fez.
 
"Raskolnikoff foi levado a assassinar uma velha por um ditame da sinceridade. Convenceu-se a si mesmo de que sua vida era um bem infinitamente superior ao da vida de uma pobre velha, e com este sistema instalado e transformado em instância última de sua consciência, concluiu que podia matar a velha rica e usurária.
 
"A sinceridade só será boa se vier acompanhada da clara notícia de que precisa um complemento. Normalmente, a consciência é a regra próxima do agir humano, e, portanto, sua consulta é boa e necessária. Mas não é o bastante. É preciso que a consciência se reconheça incompleta e dependente, e obrigada a procurar sempre a regra exterior que vem de Deus, ou pela revelação, para a vida sobrenatural, ou pela experiência humana, e pelos ensinamentos da Igreja, para a lei natural.
 
"A consciência moral que não sabe e não sente que está obrigada a uma regra exterior, ou que julga ter atingido sua plenitude quando prescinde dessa regra e se basta, na verdade atingiu o ponto mais baixo da humana monstrificação. Quando o homem quer ser sua própria lei e seu próprio Deus, só consegue aproximar-se dos modelos atrás citados."
(Editorial da revista Permanência n° 7, abril de 1969, Ano II)
 

SOCIALISMO

“Dizem alguns intelectuais que o mundo marcha para o socialismo: e dizem-no alegremente. Talvez tenham razão: o mundo marcha para o socialismo como eu, ele e você marchamos em passos desiguais para a mesma terra que nos alimentou, e no fim se alimentará de nós. Se ao menos enunciassem a idéia em toada de marcha fúnebre, teriam mais lógica, e até certa graça tarjada de preto” (Jornal do Brasil, As verdades de Gustavo Corção, 7/7/78)
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