REMBRANDT
"Outros dez passos, e estamos diante de Rembrandt. Auto-retrato. Da juventude. Mais tarde pintará outro auto-retrato, que está no Louvre, e que os entendidos consideram obra mais perfeita. Vi-o, anos atrás, mas não tive a mesma forte impressão, ou não fiz a mesma descoberta de ontem: Rembrandt é o Bach da pintura (...) Quem será o Mozart da pintura?"
(Quadros em uma Exposição, in O Desconcerto do Mundo)
REVOLUÇÃO DE 1964
"Com um mínimo de choques libertamo-nos da sarna esquerdista que já estava No Poder e já iniciara o assassinato de um grande povo. E agora os outros países que se afogam em sangue e naquela outra substância a que Bernanos aludia freqüentemente, ousam criticar as prisões que se efetuaram, e dão ouvidos, e proporcionam todos os meios de publicidade aos maus brasileiros expulsos do país. Em abril de 1964 nós fizemos aquela única Revolução que Peguy admitiu: a revolução moral. Seremos nós brasileiros os herdeiros do sangue de Peguy?" (Jornal do Brasil, antologia de citações, 7/7/78)
RIO ANTIGO
"A cidade era bela como as moças daquele tempo. Enquanto eram meninas cantavam de roda e não havia bairro sem cantos infantis a marcar o anoitecer. As meninas também brincavam com a boneca. Depois, quando acontecia nelas o mistério da transformação, que nesse tempo era posto em surdina, a menina punha vestidinhos compridos e virara flor à espera de quem descobrisse dentro da corola uma sede de amor. As moças de meu tempo ficavam à janela, ou no portão, cercadas de madressilvas. O namorado, olhava para ela de longe, muito tempo, encostado num lampião com as pernas trançadas, a torcer o bigode que nascia. Gestos, bigodes, lampião, calças, tudo passou. E como vento foi-se a suavidade e a doçura de viver acreditando em almas de flor. A rua da Cidade ajudava a viver. O transporte ajudava a respeitar. Quem nesse tempo ousava encostar de leve no sagrado corpo da menina-moça? Vinha o mundo abaixo, e o bonde inteiro ameaçava o audacioso, o perverso."
("Reminiscências", in Conversa em Sol Menor)
"O povo era mais bem vestido, e, sobretudo, a tenue, a posição do corpo era mais ereta, mais briosa, mais desempenhada que a de hoje. Corra você mesmo, leitor, seu álbum de avós e repare como eles eram mais altivos e verticais. E então? O que foi que houve com os homens, com as cidades? O que foi que aconteceu?"
("Rio Antigo", in Conversa em Sol Menor)
RISOS
"O cômico, como Bergson tão bem assinalou, supõe o social, isto é, supõe a possibilidade de imaginar um picadeiro para o personagem que se singulariza e uma arquibancada para seus juízes, que pronunciam às gargalhadas o seu curioso veredicto.
"Quem será então que se ri desse generalizado espetáculo que envolve três bilhões de palhaços? Às vezes nós conseguimos a ilusão de um camarote confortável que nos permita rir dos outros. Mas de onde vem esse eco, essa ressonância de um riso muito mais poderoso do que o meu? Quem está aí? Quem está por aí, nessas cadeiras vazias, a rir-se de mim?
"O mundo é um circo em que a arena e as arquibancadas são relativas. Três bilhões de autores mal ensaiados passam a vida a divertir-se, cada um apontando no outro o rabo de papel. Ou a trave no olho."
(Lições de Abismo, 15a. edição, Agir, pág. 92).
ROSÁRIO
"Uma das grandes crises de nosso tempo, especialmente dolorosa em meio católico, é a crise moral que se traduz no amolecimento chamado “falta de caráter” que parece ter-se tornado o novo caráter do homem mutacionado de nosso século.
"Ora, o melhor exercício espiritual para ganharmos a virilidade evanescente, para recuperarmos a coragem e o vigor de amar o bem e detestar o mal é o de tomar viva consciência de nossa linhagem sobrenatural, e das armas com que venceremos o mundo sob o signo da cruz de Nosso Senhor, que “já venceu o mundo”. E entre as armas do céu, especialmente eficazes contra os demônios que devastam as almas, é oportuno lembrar o santo rosário, cuja festa instituída por São Pio V em 1571 em agradecimento pela vitória de Lepanto, hoje esquecida e desdenhada pelos católicos que invocam a paz da carne e do sangue, por já não terem fibra e fé para pelejarem pela paz de Cristo."
(Editorial, Permanência, no. 48, Out. 72)
ROUSSEAU, JEAN JACQUES
"O leitor de sã formação filosófica, ou de robusto bom senso, descobrirá logo que Jean Jacques Rousseau, pretendendo arvorar a bandeira da santidade natural, da bondade sem contágios, da pureza sem salpicos, na verdade professava horror à natureza propriamente humana, valorizando a subnatureza, a sensibilidade em detrimento dos valores espirituais."
(Dois Amores Duas Cidades, Ia parte III capítulo, "conjunção dos pares")