Category: Gustavo Corção
Trechos de artigos publicados em "O Globo" de 10 e 17 de Outubro de 1970.
Parte destas linhas já foram publicadas; posso mesmo dizer que elas giram em torno de uma idéia insistentemente transmitida há 30 anos de pregação, ensino e polêmica. Giram em torno do PRECEITO de ouro que Jesus nos deixou nestas palavras: Vem e Segue-me.
Todas as grandes almas semeadas por Deus nestes vinte séculos de cristianismo e que a Igreja nos oferece como exemplos do Exemplo perfeito deixaram-nos, por atos e palavras, a mesma doutrina de santificação pregada por Jesus. A doutrina do Sangue. A doutrina da Cruz.
“Depois, o Celebrante sobe os degraus do altar pelo lado da Epístola, e descobre o braço direito... e em tom mais alto canta pela segunda vez o Ecce lignum Crucis...” E pode-se dizer que esta cerimônia do descobrimento da Santa Cruz resume bem a notícia central da liturgia da Semana Santa.
E o mundo? Que rumo tomará esse monstro de complexidade e de diversidade, que rosna em todos os tons a vanglória de suas conquistas, para logo, em todos os timbres gemer as misérias das mesmíssimas glórias; e o mundo? o mundo?
Ainda uma vez estamos nós, caro leitor, enquanto por aqui andamos, no limiar da Semana das semanas, a Semana Santa, onde a alma antes de se rejubilar com os hinos da Ressurreição, contempla e sofre a Paixão do seu Senhor.
Todos que possuem rudimentos de iniciação da Sagrada doutrina sabem que foi na Quinta-feira Santa, véspera de sua morte na cruz, que o Cristo Nosso Senhor instituiu o sacramento da Eucaristia (Mt. XXVI, 20-25); (Mc. XIV, 17-21); (Luc. XXII, 14-20); (Jo. XIII, 18-30) e (1 Cor. XI, 23-26).
A vida cristã vista com os critérios do mundo parece um disparate; e quanto mais perto seguirmos as pegadas de nosso Salvador mais bem fundada parece a exclamação do Apóstolo: — “Escândalo para os judeus, loucura para os gentios.”
“Nós, porém, nos gloriamos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossa salvação, nossa vida e nossa ressurreição...” (Gal. VI, 14). Estas palavras do Apóstolo Paulo, que estão no Intróito da Missa de hoje, dão-nos o diapasão, o lá fundamental para afinação de todos os muitos movimentos de nossa alma.
No torvelinho das horas e dos dias convém considerarmos, vez por outra, os marcos imóveis, os sinais da eternidade.