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Category: EspiritismoConteúdo sindicalizado

Qual o problema do espiritismo?

Pe. Sarda y Salvany

Ao leitor

Este opúsculo não tem a pretensão de ser obra teológica ou filosófica, longe disso. É pura e simplesmente uma breve instrução caseira para o uso dos fiéis. Por isso, ao longo dele, e sobretudo na sua primeira parte, apela-se ao bom senso católico do leitor, mais do que a elevadas argumentações científicas. O espiritismo não precisa, para o seu deslustre, mais do que ser conhecido à luz das mais triviais noções da fé cristã e do sentido comum. Decidi, portanto, expô-lo sob estes dois pontos de vistas. Os que desejarem estudos mais profundos, poderão ler a obra excelente do Pe. Pailloux: Le magnétisme, le spiritisme et la possession, e também a série de artigos magníficos publicados em La Civiltà cattolica, e com o título: El espiritismo en el mundo moderno, traduzidos para o espanhol e editados em Lugo, casa editorial de Soto. (Continue a ler)

Semana Santa e o centenário do espiritismo

Gustavo Corção

 

Por uma infeliz coincidência é nos dias 13 a 18 do corrente, e portanto na Semana Santa, que ocorrerão as solenidades em comemoração do primeiro centenário da codificação do espiritismo. E assim, enquanto os cristãos celebram os passos da obra salvadora de Cristo, e seguem o caminho da dor infinitamente fecunda que culmina na Cruz, os espíritas festejam o centenário da obra do sr. Leão Hipólito Denizard Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo de Allan Karden. Foi efetivamente em 18 de abril de 1857 que o mencionado autor publicou “O Livro dos Espíritos”, que até hoje é a principal obra de codificação dos ensinos “dados pelos Espíritos Superiores com o concurso de diversos médiuns”. Nessa doutrina, que a seguir tomou o nome de Espiritismo, pretendem seus adeptos, entre outras coisas, ver a verdadeira doutrina ensinada por Jesus Cristo. Em suas “Obras Póstumas” (10ª. Edição, p. 268 e seg.) diz o festejado codificador: “O Espiritismo... restaurará a religião de Cristo, que se tornou nas mãos dos padres objeto de comércio e trafego vil, instituirá a verdadeira religião natural, a que parte do coração do homem e vai diretamente a Deus...” E mais adiante: “Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada por Cristo...”.

A pretensão dos seguidores de Leão Hipólito, como se vê, não é pequena. Para começar, pulverizam a Igreja Católica. Vinte séculos de tradição, de culto desenvolvido em torno do Sacrifício da Cruz e da instituição da Eucaristia, de sofrimentos produzidos pelas perseguições externas e pelas internas, que ainda são piores, vinte séculos de doutrina apurada e depurada, de doutrina ofendida e defendida, de pensamento teológico e filosófico trabalhado pelas mais altas inteligências e afiançado pelas vidas dos maiores santos, vinte séculos torrenciais de estudo, de arte, de santidade, de apostolado, de missões – tudo isso – as cruzadas, as catedrais, os mosteiros, as fundações, as obras, as escolas – tudo isso, para os seguidores do espiritismo, é coisa a ser corrigida pelos livros de Allan Kardec e pela telegrafia do Além. Lutero e Calvino também quiseram derrubar a Igreja, e todos nós conhecemos as tremendas repercussões históricas dessas tentativas. Para os espíritas a Igreja são “os padres” que adulteraram o ensino de Cristo. Onde é então que está a verdadeira doutrina? Os protestantes ficaram com os Evangelhos, mas os espíritas além de derrubar a Igreja Católica, acabam também com os evangelhos... Como se vê, não é modesta a pretensão.

Aos católicos que vêem no espiritismo uma inofensiva prática ou uma medicina pouco dispendiosa convém lembrar o antagonismo total das duas doutrinas. Apregoam eles uma “religião natural” que parte do homem, e acrescentam que “a missão do Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade” porque “cada um deve resgatar-se a si mesmo” (Leão Denis, “Cristianismo e Espiritismo”, 5ª. Ed., pág. 88). Ora, o ensinamento essencial dos Evangelhos consiste em marcar o caráter sobrenatural e transcendente da obra e da herança de Cristo, e em assinalar a iniciativa primeira de Deus em todas as coisas da nossa religião.

Ao contrário do que diz o autor que os espíritas festejam, nossa religião não é natural, é sobrenatural; não parte do homem, parte de Deus. Não é por engenho nosso que perscrutamos os segredos da vida divina, é pela Revelação que temos a notícia que de outro modo seria inacessível. Não é por esforço nosso que galgamos o abismo que separa o Criador das criaturas, é pela Graça que desce de Deus para a Deus nos elevar. “Descida de Deus para subida do Homem”, como disse Camões – eis aí uma fórmula perfeita de nossa doutrina. Dentro dessa doutrina a criatura humana tem uma transcendência sobrenatural, religiosa, pela qual o homem é chamado a viver na intimidade de Deus, em situação acima de tudo, o que poderia ser exigido pela dignidade já bastante alta de sua natureza. A vida religiosa será pois medida pela conformidade com a sobrenatural transcendência de nossa vocação, ou em outras palavras, pela obediência às luzes da Revelação e às operações da Graça. Não nos compete a iniciativa primeira, que é de Deus. Compete-nos responder, corresponder, obedecer. Ainda mais, como é em Cristo que se condensa toda a Revelação e toda a fonte de Graça, a posição religiosa do cristão se aferirá por esse divino Centro. Seremos cristãos se formos seguidores de Cristo; e seremos seguidores de Cristo se estivermos em contacto vivo com a sua herança que são os seus sacramentos e a sua Igreja. E é a realidade dessa obra de Cristo que nos alimenta todos os dias, e que, com ênfase especial, celebramos na Semana Santa, nessa mesma semana em que os seguidores de Leão Hipólito Denizard Rivail celebram, neste ano, o centenário do Espiritismo.

Teologicamente, espiritismo é uma doutrina herética formada pela confusa mistura de diversas heresias antigas. Há um pouco de pelagianismo, de arianismo e de maniqueísmo no conjunto doutrinal recebido do Além por Allan Kardec e seus seguidores. Filosoficamente, e culturalmente, é uma das formas mais espessas e brutais do individualismo que tantas desgraças já trouxe ao mundo nesses últimos séculos de civilização burguesa. Pelo experimentalismo, se liga à filosofia empiricista e assim vem a dar, apesar de todo o seu vocabulário, num mal disfarçado materialismo.

Tomada em seu heteróclito conjunto, a doutrina espírita tem todas as negativas qualidades para medrar numa cultura maltratada. Tem todos os equívocos para agradar, por isto ou por aquilo, às multidões privadas de instrução e de formação religiosa. Tem o nome e o Além, para parecer que é uma espiritualidade; tem os fluidos e a mecânica, para anteder à sede de técnica e de dados sensíveis; tem uma vaga filantropia e uma cômica boa-vontade para nada exigir moralmente de ninguém. Aspira assim à universalidade pela mediocridade, e seduz as almas cansadas pela desvalorização da vida.

O fenômeno do espiritismo brasileiro está ligado a esse conjunto de qualidades negativas. O espiritismo, como o comunismo na ordem social e política, é produzido pelas omissões. No caso brasileiro não hesito em reconhecer que é nossa, dos católicos, a mais grave responsabilidade. O espiritismo se propaga porque o nosso catolicismo é pouco convincente e pouco generoso. A prova disto está na miséria das vocações sacerdotais, e na enorme facilidade com que se misturam com a doutrina católica a convicção divorcista e a prática espírita.

Sendo assim, pouco adiantará combater o espiritismo diretamente, se ao mesmo tempo, e com vigor ainda maior não nos dedicarmos à obra mais positiva de ensinar a doutrina católica, de despertar o gosto por sua coerência, e de formar mentalidades nítidas e sadias que se defendam dos erros. Na verdade, aos kardecistas que sonham acabar com a Igreja Católica, nós podemos responder como um papa respondeu a Napoleão: nós mesmos temos feito o possível para arrasar a Igreja, mas não conseguimos.

(O Estado de São Paulo, 14/4/57)

A reencarnação sob o olhar da filosofia

Na primeira parte, o confronto da teoria da reencarnação com a fé católica nos mostrou sua oposição radical. Resta-nos esclarecer o tema à luz da razão natural. A tese com que nos deparamos conforma-se com a realidade? É compatível com a natureza das coisas? A segunda parte de nosso estudo exige notas preliminares. Nosso primeiro ponto de vista fora o da fé, o principal argumento era a autoridade de Deus, que fala pela Tradição, pela Santa Escritura e pelo Magistério da Igreja. Por assim dizer, contribuímos passivamente ao julgamento da reencarnação pelos guardiões da fé.

A reencarnação sob o olhar da fé

Em 1982, uma sondagem do instituto Gallup revelava um fenômeno impressionante da mentalidade ocidental. Um em cada quatro europeus declarava ser adepto da teoria da reencarnação. O fenômeno tinha todas as oportunidades para se expandir, uma vez que, no mesmo ano, 28% dos britânicos apoiavam esta doutrina enquanto, dez anos antes, não eram mais de 18%.

 
As cifras crescem sem parar nos últimos 12 anos. Mostram de modo evidente que essa crença não se limita às margens do Ganges, mas que exerce uma real força de sedução nas mentalidades ocidentais. A multiplicação dos livros, artigos, programas televisivos, filmes, que se prestam a gravá-la na inteligência, convida-nos a examiná-la atentamente.
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