“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Evangelho)
Paramentos verdes
A história de Tobias que se lê por esta altura no Ofício divino coincide frequentemente com este domingo. Julgamos, pois, conveniente estuda-la para estabelecer, conforme o nosso plano, a íntima união que existe e que muitas vezes não se nota entre o Breviário e o Missal.
Tobias terá vivido no tempo de Salmanasar pelos fins do século VIII antes de Cristo, ao tempo das deportações dos israelitas do Norte para a Síria. Foi homem pobre, observava todas as coisas conforme a Lei de Deus. Porém, depois que chegou à idade varonil casou-se com Ana, mulher da sua tribo, e teve dela um filho, a quem deu o seu nome e ensinou desde a infância a temer a Deus e a abster-se do pecado. Levado cativo para Nínive, Tobias não esqueceu o nome do Senhor e visitando os seus irmãos de exílio e de raça, dava-lhes salutares conselhos e distribuía com eles do seu pouco.
Dava de comer aos famintos, vestia os nus e sepultava com paternal solicitude os que morriam enfermos ou ao cutelo do tirano. “E Deus para acrescentar a sua coroa e dar aos homens um nobre exemplo de paciência e fidelidade, quis que ele cegasse já no fim dos seus dias”. E continua a Escritura: “tendo temido o Senhor desde a infância e andado sempre na sua Lei, não se contristou nem se revoltou contra Deus por causa da chaga com que o feriu, mas ficou imóvel no temor do Senhor, dando graças a Deus todos os dias da sua vida”
Somos filhos de santos, dizia, e esperamos a vida que Deus prometeu aos que põem N’Ele a sua esperança. E como a esposa o insultasse, Tobias gemeu dentro da sua alma e orou ao Senhor quase pelas palavras do Intróito de hoje: “Senhor, Vós sois justo e todos os vossos juízos são retos. Tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia”. Depois, voltando-se para o seu filho: “Meu filho, guarda no teu coração o nome do Senhor e foge de consentires no pecado. Dá esmola do que tens e não desvies a tua face do que tem fome. Faz todo o bem que puderes. O que não queres que te façam, livra-te de o fazeres a alguém”. Em resumo, o amor de Deus e do próximo, na sua realização magnífica, tal como a Epístola e o Evangelho de hoje no-lo aconselham. Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito e ao próximo como a ti mesmo (Evangelho). Praticai em tudo a humildade, a mansidão e a paciência. Sofrei-vos mutuamente e sede solícitos em vos conservar unidos nos vínculos da paz. Praticando estes sapientíssimos conselhos poderemos exclamar um dia com o velho Tobias ao recobrar a vista do corpo: “Ó Jerusalém, tu hás de brilhar como os astros e todas as nações virão adorar dentro dos teus muros o Deus de Israel. As tuas praças serão pavimentadas de pedras preciosas e nas tuas ruas ressoará para sempre o Aleluia eterno” Assim é a Jerusalém celeste e o reino de Deus na Terra, a Igreja Católica, Apostólica, Romana. “Quem a abençoar será bendito”. Todos são chamados a formar nela um só corpo, animado dum só espírito, que é o mesmo Espírito Santo que lhe foi infundido no dia de Pentecostes. “Todos temos a mesma Esperança, a mesma Fé e o mesmo Batismo”
Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952.