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Editorial no Centenário do nascimento de Santa Teresinha

Julgamos oportuno dedicar um número inteiro de PERMANÊNCIA à memória de Thérèse Martin (2 de janeiro de 1873) que entrou no Carmelo de Lisieux com quinze anos de idade, e pronunciou os santos votos em 8 de setembro de 1890. No mesmo mês recebeu o hábito com o nome de Soeur Thérèse de l’Enfant-Jesus et de la Saint Face. Viveu somente sete anos a vida obscura e silenciosa de uma pequenina religiosa ignorada do mundo, rejeitada pelo mundo, mortificada, morta antes de morrer porque nunca escolheu nada entre os nadas do mundo, tendo escolhido TUDO da Santa Vontade de DEUS. Deixou por obediência um caderno de apontamentos onde registrou os pequeninos passos, ínfimos, quase imperceptíveis, de uma vida exterior insignificante. Esse caderno, depois de sua morte, foi publicado pelas freiras de Lisieux com o título “História de uma Alma”. E aqui começa uma outra história, a desse livro, que pode sem nenhum exagero ser considerada um dos espantosos milagres do século que terminava engalanado, estrepitoso, iluminado para festejar as grandezas de uma civilização desviada de Deus. Misteriosamente, incompreensivelmente, milagrosamente o insignificante livro de uma história insignificante, que facilmente poderia ser afastada como convencional ou como presunçosa, começa a difundir-se, aos milhares, aos milhões, e chega em pouco tempo até os confins do Extremo Oriente. Mas o milagre ainda maior foi o de ter sido compreendido, diríamos quase adivinhado, por carvoeiros, cozinheiros, por padres, por Papas e até por intelectuais. Muitos desses leitores descobriram o segredo profundo de Teresinha, o segredo da santidade, a grandeza da pequenês, a glória da humildade, e todos os demais paradoxos da Cruz, sinal de contradição, de tropeço e de escândalo. O sucesso explosivo, humanamente inexplicável da pequenina carmelita de Lisieux foi uma resposta de Deus ao estardalhaço dos homens.

Nas matinas de Natal a Igreja rezava (ainda reza?) o Salmo II com que a Esposa de Cristo muito visivelmente respondia às insolências do mundo: “Quare fremuerunt gentes: et populi medittati sunt insânia?” E adiante: “Aqueles que habita nos céus se rirá deles”, se rirá dos poderosos que se coligaram contra o Senhor.

O nascimento de Jesus na terra foi, como nos ensina assim a liturgia sagrada, um grande riso de Deus; o nascimento de Teresinha no céu foi um eco daquele, e outra vez às almas de fé foi oferecido, como consolo dos escárnios dos homens que meditam coisas vãs, um largo clarão do riso do céu. Vejam! Mas passados treze anos de sua morte obscura e pequenina, a insignificante carmelita Teresinha, sempre inha, sempre pequenina, tem o diminuído nome espalhado no mundo inteiro, e um Papa imenso lê com pasmo a história de uma freira escondida em Lisieux, e manda logo iniciar-se o processo de sua beatificação. Consta que exclamou: “é a maior santa dos tempos modernos!”; mas só teve vida para assinar, dois meses antes de sua própria morte, o decreto de beatificação. A alegria da canonização Pio X só a teve no céu; mas não esperou muito porque seu antecessor Benedicto XV mandou suspender a isenção canônica que manda esperar cinqüenta anos post mortem para o inicio do processo de canonização. Também este Papa não viu Teresinha nos altares, mas seu sucessor parecia impaciente, e em 23 de abril de 1925 foi solenemente declarada Santa, e oferecida à veneração de milhões de impacientes fiéis, Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. E Pio XI logo declarou que seria ela a “estrela de seu pontificado”. E desde 1927 a pequenina e imóvel religiosa de Lisieux, que depois da entrada no convento só saiu para entrar no céu, a menos viajada religiosa do mundo, a menos espalhada, a menos empreendedora foi escolhida como padroeira de todas as Missões.

Os paradoxos da santidade se multiplicam em torno da bendita humildade dessa menina imensa. Em 1944, no ano trágico em que a França se deixou vencer por si mesma, mais humilhantemente do que em 1940, Santa Teresinha é colocada ao lado de Joana d’Arc como padroeira da França que tão bem serviu quando, logo depois de sua canonização fez tudo no céu para convencer Pio XI na terra que fora vítima de uma conjuração dos inimigos da Igreja no ato que o levou a separar dolorosamente os melhores católicos franceses. Hoje é conhecidíssima a atuação de Lisieux na reconciliação do Papa Pio XI com Charles Maurras, e as bênçãos com que o cumulou, anos antes da reconciliação oficial da Igreja com a Action Française em 1939, num dos primeiros atos de Pio XII.

E a nossa convicção é que o trabalho de Teresinha no céu é o de amparar a Igreja da Terra neste século de demências. E a menina que nunca, nos mínimos atos se esqueceu da vontade do Senhor Jesus, poderá agora interceder poderosamente pela Igreja, pelo Papa, pelo clero, pelo povo de Deus, com a amorosa certeza de que agora é a vez de Jesus fazer a vontade de Teresinha. Nesta intenção, e contra todas as malignidades que desfiguram a Igreja tão bela e tão amada pelas almas sensíveis à santidade, que vem de Deus, “tu solus sanctus” mas tão maravilhosamente se manifesta nos pequeninos, peçamos a intercessão de Santa Teresinha. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, ora por nós.

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