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Art. 2 — Se Cristo foi ao mesmo tempo sacerdote e vítima.

O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não foi ao mesmo tempo sacerdote e vítima.

1 Pois, é função do sacerdote imolar a vitima. Ora, Cristo não se imolou a si mesmo. Logo, não foi simultaneamente sacerdote e vítima.

2. Demais. O sacerdócio de Cristo era mais semelhante ao sacerdócio dos Judeus, instituído por Deus, que ao sacerdócio dos gentios, adoradores do demônio. Ora, na lei antiga, nunca o homem era oferecido em sacrifício, o que a Escritura sobretudo incrimina nos sacrifícios gentílicos, quando diz: Derramaram o sangue inocente, o sangue de seus filhos e de suas filhas, que haviam sacrificado aos ídolos de Canaã, Logo, o sacerdócio de Cristo não devia ter o próprio homem Cristo como vítima.

3. Demais.  Toda hóstia, por ser oferecida a Deus, é santificada por Deus. Ora a humanidade mesma de Cristo foi desde o princípio santificada por Deus, com quem estava unida. Logo, não podemos convenientemente dizer que Cristo, enquanto homem, fosse vítima.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós outros, como oferenda e hóstia a Deus em odor de suavidade.

SOLUÇÃO. — Como diz Agostinho, todo sacrifício visível é sacramento, isto é, sinal sagrado, do sacrifício invisível. Ora, pelo sacrifício invisível, o homem oferece a Deus o seu espírito, segundo aquilo da Escritura: Sacrifício para Deus é o espírito tributado. Por onde, tudo o oferecido a Deus, para elevarmos a ele o nosso espírito, pode chamar-se sacrifício.

Ora, o homem precisa de sacrifícios por três razões.  Primeiro, para remissão dos pecados, que o afastam de Deus. E por isso diz o Apóstolo, que ao sacerdote pertence oferecer dons e sacrifícios pelo pecado.  Segundo, para conservar-se em estado de graça, sempre unido a Deus, que lhe constitui a paz e a salvação. Por isso, na lei antiga imolavam-se hóstias pacíficas pela saúde dos oferentes, como se lê na Escrituras.  Terceiro, para o seu espírito se unir perfeitamente com Deus, o que sobretudo se dará na glória. Por isso, na lei antiga oferecia-se o holocausto, que quer dizer como totalmente queimado.

Ora, tudo isso nos resultou da humanidade de Cristo.  Assim, primeiro, os nossos pecados foram delidos, conforme àquilo do Apóstolo: Foi entregue por nossos pecados.  Segundo, por ele recebemos a graça salvífica, como se lê no Apóstolo: Veio a fazer-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecerem. Terceiro, por alcançarmos a perfeição da glória, ainda no dizer do Apóstolo: Temos confiança de entrar no santuário, pelo seu sangue, isto é, na glória celeste. Por onde, o próprio Cristo, enquanto homem, não só foi sacerdote, mas também hóstia perfeita, ao mesmo tempo hóstia pelo pecado, hóstia pacífica e holocausto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Cristo não se imolou a si mesmo, mas se expôs voluntariamente à morte, conforme o diz a Escritura: Foi oferecido porque ele mesmo quis. Por isso dizemos que ele se ofereceu.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A imolação do homem Cristo é relativa a uma dupla vontade. - Primeiro, à vontade dos que o imolaram. E então, não tem natureza de vítima; pois, não dizemos que os imoladores de Cristo ofereceram uma hóstia a Deus, mas que delinquiram gravemente. E semelhança desse pecado eram os ímpios sacrifícios dos Gentios, nos quais imolavam homens aos ídolos. - Noutro sentido, podemos considerar a imolação de Cristo relativamente à sua vontade de paciente, que voluntariamente se ofereceu à paixão. E por aí tem natureza de vítima. No que não convém com os sacrifícios dos Gentios.

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