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MACHADO DE ASSIS
"... sua obra foi um milagre. Dentro de um ambiente de verborréia que ofendia a palavra e traía de modo elementar o espírito de nossa língua, Machado soube guardar-se e, compreendendo que o português é avesso às rotundidades, escreveu como seus antigos, curto de fôlego e enxuto de formas. Foi verdadeiro no instrumento e verdadeiro na obra."
(A Descoberta do Outro, pág. 130)
 
"Tempos atrás, para escândalo de um crítico musical, ousei um paralelo entre Machado e Mozart. E torno a perpetrá-lo, pois não sei de outros, nas línguas ou na música, que saiba entrar com tamanha graça e tão notável desenvoltura. Dêem-nos dois ou três acordes, duas ou três frases, e logo identificamos a inigualável figura de um desses autores."
("Na mesma língua em que chorou Camões", in O Desconcerto do Mundo)
 
"Os autores das modernas filosofias existencialistas optaram pelo absurdo. O que vale dizer que não optaram, e que ficaram detidos, imobilizados, sem ímpeto para atravessar o espelho e entrar no mundo das maravilhas. Dessa paralisação da inteligência resulta um pessimismo real, profundo, desconsolado e degradante, que não era, de modo algum, o pessimismo de Machado de Assis. (...)
 
"Até seus últimos dias, na desolação da velhice e da viuvez, Machado de Assis conserva intacto o senso moral. Se nos romances parece ter atingido um cansaço da vida e um desconsolo supremo, aí está sua correspondência Para nos mostrar o outro lado do homem que persiste em crer no homem e na realidade moral. E a explicação desse dualismo está no Eclesiastes, ou melhor, naquilo que falta no Eclesiastes, que é por assim dizer um livro onde o principal é justamente o que falta: a notícia de nossa transcendência e de nossa ressurreição." 
("Na mesma língua em que chorou Camões", in O Desconcerto do Mundo)
 
MARCEL LEFEBVRE
"De início eu diria ao meu escandalizado leitor que é fácil julgar-se mais católico, mais virtuoso do que Dom Lefebvre, mas que não é tão fácil sê-lo efetivamente.
  
"A Europa inteira está emocionada e aturdida diante da suspensão do venerável ancião que se achou colocado na situação prevista na famosa carta que os cardeais Ottaviani e Bacci dirigiram ao Sumo Pontífice em 1969: «...a promulgação do Novo Ordo coloca o fiel católico diante de uma trágica opção».
  
"Coube à grande alma católica do Bispo fundador de seminários católicos o encargo de condensar em sua obra, em seu coração, o sofrimento de todos os sacerdotes e leigos do mundo que sofrem o mesmo dilaceramento."
("Dom M. Lefebvre fala", Revista Permanência n° 140-141, Julho-Agosto 1980)
 
"Tantos são os sinais mais ou menos graves da ruptura da tradição, que sem hesitação podemos dizer ― com o que aprendemos no regaço da Igreja onde queremos viver e morrer ― que o rumoroso caso de Dom Lefebvre ultrapassa de muito a dimensão de uma questão disciplinar: o que esta em jogo é o valor que damos ao Sangue de nosso Salvador."
("A Necessidade de Explicar tudo", O Globo 2/9/76)
 
"Estas singelas considerações talvez ajudem os católicos que sinceramente amam a Igreja a compreender que não há nenhuma desobediência nas missas rezadas por Dom Lefebvre: ele obedece ao Espírito de sua Igreja; os padres extravagantes citados pelo Pe. Auvray obedecem materialmente ao espírito que inspirou os falsos princípios.
   
"Entre esses dois exemplos há a maioria dos vacilantes, dos tímidos, dos mornos, que obedecem materialmente a papéis marcados com o sinete do Vaticano, e ficam com a consciência em paz enquanto a Religião de Cristo sofre perseguição e as almas se perdem."
("Onde irá parar a Missa?", O Globo 9/9/76)
 
MATEMÁTICOS
"Os matemáticos são os joalheiros do senso comum, mas às vezes entusiasmam-se pensando que o ouro foi também feito por eles."
(Descoberta do Outro, pág. 77)
 
MILITÂNCIA CATÓLICA
"Um dia de aniversário festivo Manuel Bandeira e outro conhecido acadêmico cordialmente me saudaram e me disseram que a Academia reclamava a minha presença. Volto ao mesmo sábado de poesia e de loucura para responder ao convite amável: "Não sei, Manuel Bandeira, se alguma vez, nas vezes das Marias, das Terezas, você encontrou quem lhe dissesse estar comprometido. Digo-lhe hoje eu. Chego a ter, Deus me perdoe, inveja de sua graciosa liberdade, inveja de não poder desatar o prisioneiro que trago. Sou hoje militante. Engajado. Comprometido. Com sete deveres de estado e um noivado no Céu. Ousarei confessar-lhe, ó poeta, que ainda não morreu o poeta-menos-do-que-menor que não fui? Muitas vezes vou visitá-lo às escondidas, como um Nicodemus, e de nossas confabulações trago o pouco que põe a vida e calor nas obras de meus compromissos, dos sete deveres de estado."
 
"(...) não recebi o dom de bem discorrer sobre rosas e rubis para servir as academias. Não posso pois reclamar omissão alguma no país dos homens de letras; mas posso pedir ao leitor a compreensão, a paciência de reconhecer que eu devo continuar a escrever contra os discursos do Congresso Eucarístico de Manaus, os pronunciamentos da CNBB e outros tediosíssimos assuntos. No fim de todo este delírio, conservo a convicção da inutilidade de meu serviço, mas sobeja a certeza de que, feitas todas as contas, Deus quer o meu testemunho.
"E ai de mim se o não der."
(Sereis minhas testemunhas, O Globo, 27/09/75)
 
MISSA
"(...) há hoje todo um esforço de covardia e traição universal para conjurar o insuportável espetáculo da Cruz. E então, para fugir à visão daquele divino pára-raios da cólera divina, para tirar os olhos do sangue, inventaram o recurso de fazer a missa derivar mais da ceia do que da Cruz, e com esse estratagema malicioso e parvo, fizeram da Santa Missa um espetáculo de feira, aonde a assembléia dos fiéis é aquele “respeitável público” dos palhaços de circo".
(O GLOBO 7/4/77 )
 
"Quando nós vamos à Missa não vamos para constituí-la, para fazê-la o que ela é por nossa reunião. Vamos à Missa para usar a oportunidade maravilhosa e misteriosa que Deus nos oferece de estarmos misticamente, mas realmente, ao pé da Cruz, naquele dia e naquela hora da Salvação.
 
"E assim, qualquer católico alfabetizado, e ainda não imbecilizado pela onda de novidades, compreenderá que definir a Missa pela assembléia dos fiéis é sacrílego, herético e estúpido. Dir-se-ia que somos nós, assembléia de fiéis, que fazemos ao Cristo o favor de rememorar seus feitos, e não que é o Cristo que nos faz o infinito e incompreensível favor de nos oferecer uma oportunidade de colhermos os frutos da árvore da salvação, e uma possibilidade de participarmos de sua obra."
(De Roma a Olinda, O Globo 28/7/77)
 
"Sem nenhum prurido latinista eu me pergunto se terá sido boa a substituição da língua universal pelas diversas línguas nacionais. A meu ver há boa dose de exagero nos meios em que tenho visto adotarem a renovação com entusiasmo. A Igreja tem que ir ao povo mas não num estilo que se aproxima da demagogia. Creio que se enganam os que julgam que o povo gosta dos sermões em que o padre diz que está batendo um papo com os fiéis. Estou convencido que se enganam os que julgam que o povo se encontra mais bem representado pela mediocridade, pela chulice, do que pela nobreza do estilo, pela elevação do tom e até pela pompa dos paramentos. Essas coisas, ao contrário do que pensam os que vivem falando na pobreza, constituem a riqueza do pobre. O pobre tem na Igreja o lugar em que alguém lhe fala com elevação e esmero; tem na Igreja a casa das alfaias ricas; tem na Igreja seu luxo, seu requinte, seu apuro. Em todos os outros lugares do mundo, o pobre encontra a pobreza. Em casa, tem a pobreza da necessidade; nos lugares de trabalho tem a pobreza funcional, técnica. Só na Igreja o pobre continua a encontrar o ouro, o incenso e a mirra"
(Reformas Litúrgicas, O Globo, 18/3/65)
 
"É preciso dizer por cima dos telhados, aos gritos, com cólera ou com dor, que nós não precisamos dos conselhos e da colaboração dos protestantes para decidir a feição de nosso culto de adoração, isto é, para observar e apartear o que temos de mais íntimo na vida da Igreja. Esta falsa modéstia, esta falsa humildade, este falso ecumenismo é que clamam aos céus e a nós nos ferem em nossa honra e no nosso amor."
(Editorial Permanência, n°56, Ano VI, Junho de 1973.)
 
MORTE
"Curioso é esse contraste: a morte é o que há de mais certo, a ponto de servir no modelo clássico de silogismo; e é por outro lado a idéia que mais nos custa admitir, e tanto mais custa quanto mais perto nos toca. É uma certeza que anda ao contrário das outras."
(Lições de Abismo, 15a. edição, Agir, pág. 35).
 
"E a morte? Onde ficou a morte em todo esse filosofar? Que relação existe entre o mistério da pessoa e os trinta ou quarenta dias que me são adjudicados?
 
"A relação existe. Deixamos para trás a certeza da morte, que é luminosa na visão essencial, e que evolui em proporção inversa da evidência, transformando-se em surpresa, em estranheza, em repugnância, em estupor, à medida que emerge a realidade da pessoa. Concluímos pois que há na pessoa, no mistério da pessoa, uma força que empurra a morte para trás, que recusa a morte, que denuncia a morte como um espantalho de contradição.
 
"Estarei descobrindo que a alma é imortal?"
(Trecho em que o personagem José Maria descobre a imortalidade da alma. Ibid, pág. 48).
 
MOVIMENTOS CATÓLICOS
"Algum dos modernos, creio que no tempo dos padres-operários, já observou que sempre que surge ardoroso movimento de evangelização, a Igreja o entrava e o bloqueia. E faz bem, porque na maioria dos casos o ardor de novas iniciativas mais se nutre de amor-próprio inquieto e ávido de sucesso do que se inspira de pura e casta caridade. A grande calamidade que aflige a Igreja de nosso tempo tem origem, ou fator dominante, numa inversão de atitude que levou a Igreja, aí pela década dos 40 e dos 50, a ver as efervescências sem a antiga e sábia reserva."
(O Século do Nada, 2a. edição, Record, pág. 173)

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