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G

GOSTOS
"Já ouvi dizer inúmeras vezes que gosto não se discute. Ultimamente disseram-me essa frase, que bem figuraria entre as proclamações do direito do homem, a propósito da obra de Machado de Assis e da pintura de Picasso. Estou pronto a concordar que gosto não se discute quando se trata de pratos. Custa-me um pouco, mas reconheço a perfeita legitimidade do gosto pela beterraba. No que concerne à pintura de Picasso ou aos livros de Machado, compreende-se ainda uma certa relatividade na simpatia temperamental, um gosto, mas não posso concordar que o juízo sobre tais coisas se reduza a esse elemento da ordem do sensível. Seria a última concessão da inteligência: a submissão aos sentidos.
 
"Diante de um quadro de Picasso, uma pessoa afetada desse liberalismo subjetivo, convencida da alta dignidade da livre opinião, não hesita em formular uma condenação peremptória ainda que o difícil problema da arte não tenha tomado dez minutos de reflexão em toda sua vida. Antes da reflexão, do estudo, do esforço de procurar, antes de qualquer coisa está o direito, estranhamente glorificado, da opinião."
(A Descoberta do Outro, pág. 67)
 
GUERRA
"Se uma guerra só é justa quando seus dirigentes puderem ter a certeza de poder evitar qualquer excesso, qualquer crueldade acidental, então voltamos ao quadro caricato de uma guerra com espingardas de rolha, baionetas de papelão e bombas de creme. Só essa será justa. E então concluiremos que um cristão é um homem que jamais deve combater em defesa dos valores cristãos. E quanto mais cristã for a razão de sua guerra, mais odiosa e menos justa será essa guerra. Curiosa doutrina? Curioso pacifismo que contradiz toda a civilização cristã e que troca as cores violentas dos vitrais de nossa História por um cinzento budismo ou quietismo de qualquer inspiração sem sangue!"
("Espanha, Roma e França" in O Século do Nada)
 
"O conselho evangélico me diz que será bom para minha vida personalíssima, e interioríssima, isto é, para minha intimidade sobrenatural, oferecer a outra face se me esbofeteiam numa; mas não me diz que seja bom oferecer a face de minhas filhas e de meus netos. O conselho evangélico nos diz que quem com ferro fere com ferro será ferido; mas o preceito, desdobrado em moral natural e sobrenatural, nos comanda a defesa do próximo, a defesa da família, a defesa da civilização cristã, que só pôde durar um milênio porque seus habitantes usavam espadas e preferiam imitar o rei Luís de França, filho de Branca de Castela, a imitar os pacifistas hindus."
("Espanha, Roma e França"  in O Século do Nada)

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