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Creio na Comunhão dos Santos e na remissão dos pecados

142 — Assim como no corpo natural a atividade de um membro subordina-se ao bem de todo o corpo, também no corpo espiritual acontece o mesmo, isto é, na Igreja. E porque todos os fiéis são um só corpo, o bem de um comunica-se ao outro. Diz S. Paulo:”Somos todos membros uns dos outros” (Rm 12, 5). Por isso entre os artigos de fé proposto pelos Apóstolos, há este referente à comunhão do bem entre fiéis, que se chama Comunhão dos Santos.

143 — Entre os diversos membros da Igreja o principal é Cristo, que é a cabeça. Lê-se: “Deus o colocou como cabeça de toda a Igreja que é o seu Corpo” (Ef 1, 22).
 
Os bens de Cristo são comunicados a todos os cristãos, como a energia da cabeça é comunicada a todos os membros. Essa comunicação é realizada pelos sacramentos da Igreja, nos quais opera a virtude da paixão de Cristo, de modo a conferir a graça da remissão dos pecados1.
 
144 — São sete os sacramentos da Igreja2.
 
O primeiro é o Batismo, que é uma certa regeneração espiritual. Como a vida carnal não pode existir sem que o homem tenha nascido carnalmente, assim também a vida espiritual, onde a graça não pode existir sem o nascimento espiritual. Essa geração faz-se pelo batismo, conforme se lê: “A não ser que alguém tenha renascido pela água e pelo Espírito Santo, não pode entrar no Reino do Céu” (Jo 3, 5).
 
Deve-se, além disso, saber que como o homem não nasce senão uma só vez, assim também é batizado só uma vez.
 
Eis porque os Santos Padres acrescentaram: “Confesso um só Batismo”.
 
A virtude do batismo purifica de todos os pecados, quer quanto à culpa, quer quanto à pena. Por esse motivo não se impõe, aos que saíram no batismo, nenhuma penitência, mesmo que eles antes tenham sido grandes pecadores. Morrendo eles logo após o batismo, imediatamente voam para a vida eterna. Pela mesma razão, bem que só os sacerdotes batizam por ofício, em caso de necessidade qualquer um pode batizar, desde que siga a forma deste sacramento, que é: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
 
Este Sacramento recebe a sua virtude da Paixão de Cristo, conforme nos ensina S. Paulo: ”Cada um de nós que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte” (Rm 6, 3). Como Cristo esteve morto três dias no sepulcro, para simbolizar melhor a sua morte, fazem-se três imersões na água.
 
145 — O segundo sacramento é a Confirmação. Como para os que nascem corporalmente, são necessárias as forças para agir, assim também para os renascidos espiritualmente é necessária a força do Espírito Santo. Por isso os Apóstolos, a fim de serem fortes, receberam o Espírito Santo após a Ascensão de Cristo: “Vós ficareis na cidade, até que sejais revestidos pela força do Alto” (Lc 24, 29).
 
Esta força é conferida pelo Sacramento da Confirmação.
 
Eis porque os responsáveis pelas crianças devem ter especial cuidado para que elas sejam confirmadas, sendo que na Confirmação é conferida uma grande graça. Quem recebeu a Confirmação, quando morrer, terá maior glória do que quem não a recebeu, justamente porque teve uma graça mais abundante.
 
146 — O terceiro sacramento é a Eucaristia3. Como na vida corporal, após ter o homem nascido e estar fortificado, ele tem necessidade dos alimentos para sustentar-se e conservar-se, assim também na vida espiritual, que é o corpo de Cristo. Lê-se em S. João: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 54).
 
Por isso, todo cristão deve uma vez por ano receber o corpo de Cristo, naturalmente com dignidade e pureza, porque está escrito: “O que come e bebe indignamente” (isto é, sabendo que tem um pecado mortal e não confessou, ou que não se decidiu dele fugir) “come e bebe o seu próprio julgamento” (1 Cor 11, 29).
 
147 — O quarto sacramento é a Penitência. Acontece na vida corporal que as pessoas ficam doentes, e, se não tomarem remédio, morrem. Na vida espiritual pode-se também adoecer pelo pecado. Por este motivo, é necessário que se tome remédio para recuperar a saúde. A saúde é a graça conferida pelo Sacramento da Penitência. Lê-se: “Ele perdoa todas as suas faltas, que te cura de todas as tuas doenças” (Sl 102, 3).
 
São necessários três elementos na Penitência: a contrição, que é a dor do pecado com o propósito de abster-se dele no futuro; a confissão íntegra, isto é, de todos os pecados, e a satisfação, que é realizada pelas boas obras.
 
148 — O quinto sacramento é a Extrema-Unção4. Quando, porém, ele não traz a saúde do corpo, é porque talvez não convenha à salvação da alma que a pessoa viva mais tempo. Lê-se, com relação a este sacramento: “Está alguém doente entre vós? Chame os presbíteros da Igreja, que eles orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração com fé salvará o enfermo, e o Senhor o aliviará; e se ele tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados” (Tg 5, 14-15).
 
149 — Está, pois, claro que pelos cinco sacramentos dos quais tratamos realiza-se a perfeição da vida cristã. Mas como é necessário que esses sacramentos sejam conferidos por determinados ministros, torna-se necessário também o sacramento da Ordem, por cujo ministério os outros sacramentos são conferidos. Nem se deve considerar na confecção dos sacramentos a vida dos ministros, se esta alguma vez tendeu para o mal, mas a virtude de Cristo, pela qual os sacramentos tornam-se eficazes, dos quais os ministros são apenas dispensadores.
 
Lê-se: “Assim os homens nos considerem como ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus” (1 Cor 4, 1). Este é o sexto sacramento, a Ordem.
 
150 — O sétimo sacramento é o Matrimônio, no qual os homens, se viverem em pureza, salvam-se e nele podem também viver sem pecado mortal. Quando a concupiscência dos esposos não se dirige para fora dos bens do matrimônio, eles algumas vezes caem em pecados veniais; se, porém, fazem algo fora destes bens, então cometem pecado mortal5.
 
151 — Por esses sete sacramentos consegue-se a remissão dos pecados. Por isso encontra-se no Símbolo: “na remissão dos pecados”.
 
152 — Foi também dado aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados. Deve-se, por essa razão, acreditar que os ministros da Igreja, aos quais foi transmitido este poder pelos Apóstolos (aos Apóstolos o foi por Cristo), têm nela o poder de ligar e desligar, e que a Igreja tem o pleno poder de perdoar os pecados. Este poder, porém, é exercido por degraus, estendendo-se, a partir do Papa, para os outros prelados.
 
153 — Devemos saber que não apenas a Paixão de Cristo nos é comunicada, mas também o mérito da sua vida. O que de bom fizeram também todos os Santos, pela caridade comunica-se aos que aqui vivem, porque todos são um, conforme se lê: “Participo dos bens de todos os que O temem” (Sl 118, 3).
 
Por isso, quem vive na caridade participa de todo bem que se faz no mundo inteiro. Mas aqueles para os quais se faz um bem especial participam de modo também especial. Pode, assim, uma pessoa satisfazer por outra, como acontece em muitas Congregações Religiosas que admitem novos membros para receberem benefícios dos outros membros.
 
154 — Por meio dessa comunicação conseguimos dois efeitos: primeiro, o mérito de Cristo que se comunica a todos; depois, o bem de um que se comunica ao outro.
 
Os excomungados, porque estão fora da Igreja, perdem parte de todos os bens dela. Este dano lhes é maior que um dano nos bens temporais.
 
Há um outro perigo para os excomungados: como sabemos que pelo sufrágio dos bons o diabo é impedido de nos tentar, quando alguém dela é excluído, o diabo facilmente o tenta. Eis porque, na Igreja primitiva, quando alguém era excomungado, o diabo logo o atormentava corporalmente6.

  1. 1. A relação entre os sacramentos e a Paixão de Cristo é exposta de modo admirável neste artigo da Suma Teológica: “O sacramento opera para causar a graça, como instrumento. Há dois tipos de instrumento: o separado, como o bastão, e o conjunto, como a mão. O instrumento separado é movido pelo conjunto, como o bastão o é pela mão. A causa eficiente principal da graça é o próprio Deus, ao qual a humanidade de Cristo é referida como um instrumento conjunto; os sacramentos, como instrumentos separados. Convém, por isso, que a força salutífera emane da divindade de Cristo, passando por sua humanidade, para os sacramentos. A graça dos sacramentos ordena-se principalmente a duas coisas: a destruir os defeitos dos pecados passados, pois mesmo tendo passados os atos, permanece o efeito (a culpa); e a aperfeiçoar a alma com relação ao culto de Deus conforme a religião da vida cristã. Ficou esclarecido, pelo que foi dito acima (questões 48 e 49), que Cristo liberou-nos dos pecados, principalmente pela sua Paixão, o que o fez como causa eficiente e meritória, bem como causa satisfatória. Semelhantemente também pela sua Paixão iniciou o rito da religião cristã, ‘oferecendo-se a si mesmo a Deus como oblação e hóstia’ (Ef 5). Donde claramente se conclui que os sacramentos da Igreja possuem de modo especial a força da Paixão de Cristo, força esta que de certo modo se junta a nós pela recepção dos sacramentos. Como sinal desses sacramentos, do lado de Cristo pendente na cruz jorraram água e sangue, sendo um o sinal do Batismo, o outro, da Eucaristia, que são os principais sacramentos” (S.T.III, 52, 5 c). Ver também as notas de 21 a 27.
  2. 2. O Concílio de Trento definiu como dogma de Fé que só há sete verdadeiros e próprios sacramentos. O Concílio Florentino (1445) já havia declarado essa doutrina que se encontra também na Suma Teológica (S.T. III, 65, 1). Os protestantes só admitem três sacramentos: Batismo, Ceia do Senhor e Absolvição. Estão também em contradição com a Fé católica quanto ao que se refere ao modo pelo qual os sacramentos operam. Quanto à Eucaristia, não aceitam também o dogma da transubstanciação. Não admitindo o sacramento da Ordem, conseqüentemente os protestantes não têm uma hierarquia de direito divino, e rejeitam a distinção específica que há na Igreja entre sacerdotes e leigos. As doutrinas da Igreja e do protestantismo referentes a esses assuntos são, portanto, inconciliáveis, bem como as atitudes práticas delas decorrentes.
  3. 3. A Eucaristia é o primeiro dos sacramentos, sendo a Liturgia o centro e o ápice da vida da Igreja. O primado da Eucaristia entre os demais sacramentos é assim ensinado por S. Tomás: “Falando de modo absoluto, a Eucaristia é o mais excelente de todos os sacramentos por três motivos. Primeiro, devido ao que contém. A Eucaristia contém realmente o próprio Cristo, enquanto os outros sacramentos não contêm senão uma força instrumental recebida de Cristo por participação... Segundo, pela relação com os outros sacramentos. Todos os demais sacramentos estão ordenados à Eucaristia como para um fim. A Ordem tem por fim a Consagração da Eucaristia; o Batismo, a recepção da mesma; a Confirmação aperfeiçoa o batizado para que o respeito humano não o afaste de tão sublime sacramento; a Penitência e a Extrema-Unção dispõem o homem para receber duplamente o Corpo de Cristo, e, finalmente o Matrimônio aproxima-se da Eucaristia ao menos pelo seu simbolismo, enquanto representa o laço íntimo de Cristo com a sua Igreja, cuja união está figurada no sacramento da Eucaristia... Terceiro pelos ritos sacramentais. A administração de um ou todos os sacramentos completa-se na Eucaristia, como observa Dionísio” (S.T.III, 65, 3).
  4. 4. Só nos séculos XII e XIII este sacramento foi denominado Extrema-Unção. Chamava-se antes “Óleo bento” ou “Óleo dos enfermos”. Os efeitos da Extrema-Unção são assim descritos por S. Tomás: “O efeito principal deste sacramento é o afastamento dos restos dos pecados, e, em conseqüência, também da culpa, se existir na alma” (S.T. Sup. 30, 1 c.). “A Extrema-Unção produz efeito correspondente ao do remédio corporal, isto é, a saúde do corpo... (Mas) pela administração deste sacramento nem sempre vem a cura corporal a não ser quando esta seja necessária para a cura espiritual” (1. c. art. 2 c.).
  5. 5. Santo Agostinho enumerou, no seu livro “De bono conjugali” (24, 32), os três bens do matrimônio: “proles, fides, sacramentum” (filhos, fidelidade, indissolubilidade). A tradição posterior aceitou a doutrina de Santo Agostinho como adequada, pois de fato, naquela enumeração estão contidos os elementos essenciais. Na Suma Teológica, o Doutor Angélico desenvolve exaustivamente a doutrina sobre esses três bens do matrimônio (S.T. Sup. 49, 1 ss.). Santo Agostinho assim explica o sentido dessas três palavras: “Na fidelidade, tem-se em vista que, fora do vínculo conjugal, não haja reunião com outro ou com outra; na prole que esta se acolha amorosamente, se sustente com solicitude, se eduque religiosamente; com o sacramento, enfim, que não se rompa a vida comum, e que aquele ou aquela que se separa, se não junte a outrem nem mesmo por causa dos filhos. É esta como que a regra das núpcias, na qual é enobrecida a fecundidade da incontinência” (De Gen. ad lit., 9, 7, 12). Pio XI explicou magistralmente a doutrina dos bens do matrimônio na Encíclica “Sobre o Matrimônio Cristão” (“Casti connubi” 31-12-1930), que pode ser considerada a “Magna Carta” dos esposos católicos.
  6. 6. A doutrina sobre os demônios é desenvolvida por S. Tomás principalmente na Suma Teológica (I. q. 63, q. 64; I.II. q. 80). A tradição católica, com relação à influência dos demônios sobre os homens, ensina que, se Deus permitir, o demônio pode prejudicar os homens nos bens externos e na própria pessoa, apossar-se dos corpos humanos, e pela tentação excitar ao pecado; contudo, não podem prejudicar a salvação eterna de ninguém, a não ser que a pessoa livremente o permita. A existência dos demônios é verdade de fé, definida pelo IV Concílio de Latrão (Dz. 428).
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