“Dos mártires daqueles dias, nenhum chamou tanto a atenção do público no México e no resto do mundo como o Jesuíta Miguel Agustín Pro. Pro foi morto por um pelotão de fuzilamento em frente das câmeras dos jornais que o governo trouxera para gravar o que esperava ser o constrangedor espetáculo de um padre implorando por misericórdia. Foi uma das primeiras tentativas modernas de usar a mídia para a manipulação da opinião pública com propósitos anti-religiosos. Mas, ao invés de vacilar, Pro demonstrou grande dignidade, pedindo apenas a permissão de rezar antes de morrer. Após alguns minutos de prece, levantou-se, ergueu seus braços em forma de cruz – uma tradicional posição de oração mexicana – e, com voz firme, nem desafiante, nem desesperada, entoou de forma comovente palavras que desde então se tornaram famosas: 'Viva Cristo Rey'.
“Longe de ser um triunfo da propaganda para o governo, as fotografias da execução de Pro tornaram-se objeto de devoção católica no México e de constrangimento do governo por todo o mundo. Oficiais tentaram suprimir sua circulação, declarando a mera posse de tais fotos um ato de traição, mas não tiveram sucesso..." (The Catholic Martyrs of The Twentieth Century, Robert Royal, pp. 17-18).
As fotos que abaixo reproduzimos estão entre as que os oficiais não conseguiram destruir. Constituem, como se observa, eloqüente documento, já das crueldades do anticlericalismo liberal, já do alto valor dos católicos mexicanos, fiéis e clérigos, que não se furtaram a testemunhar a Fé católica com sangue, quando Nosso Senhor assim o quis.
As imagens que apresentamos a seguir são fortes, mas todos católicos as devemos guardar no coração:
FOTOS DE UM MÁRTIR
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Figura 1: Foto do Pe. Pro tirada pouco antes de sua morte.
“Esta foto, tirada já no cárcere em novembro de 1927, às vésperas de seu fuzilamento, mostra Pro em trajes civis.
Conforme a ultrajante legislação da época, não era lícito a um padre o uso da batina em público”.
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Figura 2: Pro caminha para o fuzilamento.
“Condenado ao fuzilamento sem nem sequer se ter beneficiado de um julgamento, Pro caminha para a morte certa portando apenas um crucifixo e um rosário”.
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Figura 3: Pro faz um último pedido.
“Pro pede para rezar. Enquanto o esquadrão de fuzilamento aguarda, Pro ajoelha-se, beija um crucifixo e reza”.
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Figura 4: “Tende misericórdia deles!”.
“Estendendo os braços em cruz, reza por seus algozes: ”Dios mío, ten misericordia de ellos. Dios mío, bendícelos. Señor, tu sabes que soy inocente. Con todo mi corazón perdono a mis enemigos” [Deus meu, tende misericórdia deles. Deus meu, abençoai-lhes. Senhor, tu sabes que sou inocente. Com todo meu coração perdôo a meus inimigos].
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Figura 5: “Viva Cristo Rey!”.
“O pelotão dispara. Ouve-se ainda as últimas palavras de Pro, firmes, devotas, “Viva Cristo Rei!”. Eis o brado dos cristeros. Futuramente, o exército callista cortaria a língua dos mártires para que, ao morrer, não confessassem Cristo”.
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Figura 6: O tiro de misericórdia.
“Pro cai, mas não morre. Um soldado aproxima-se e dá o último tiro”. Podemos dizer por Padre Pro: “Muero, pero Dios no muere!” [Morro, mas Deus não morre!]
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Figura 7: Pro Mártir.
“Não muito antes, um amigo, o engenheiro Jorge Núñez Prida, havia-lhe perguntado o que faria se fosse sentenciado à morte. Respondeu-lhe o bravo padre que três coisas haveria de fazer. Em primeiro lugar, ajoelhar-se-ia fazendo um ato de contrição; em segundo, ergueria os braços em cruz para receber os tiros; em terceiro gritaria “Viva Cristo Rei!”. Com a graça de Deus, cumpriu tudo quanto dissera".
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Figura 8: O Funeral.
“Apesar do risco que corriam, muitos afluíram a ver o funeral aos gritos de “Viva Cristo Rei”. Eis toda a coragem e piedade dos católicos mexicanos".
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Miguel Agustín Pro foi beatificado pelo Papa João Paulo II na manhã do dia 25 de Setembro de 1988.
HISTÓRIAS DO PADRE PRO
Quis a Providência que aquele mesmo padre cujo martírio tão publicamente se estampou, tivesse sua formação no segredo da clandestinidade. Tratava-se, então, do governo do presidente Plutarco Elias Calles, o “Nero do México”, e nossa história começa justamente em julho de 1926, quando Pro regressava do exterior, mergulhando numa crise que resultaria no fuzilamento de 160 padres. De fato, poucas semanas após sua chegada, publicou-se um decreto oficial que proibia todo culto público e sujeitava todos padres à prisão.
Um biografo do jesuíta descreve o período:
“... toda ordem religiosa foi dissolvida. Todas as escolas católicas, secularizadas, o que significa que, na realidade, tornaram-se ateístas; nelas, nenhuma menção a Deus era tolerada. Crucifixos foram arrancados das paredes e as estátuas, destruídas. Em seguida, para eliminar toda “propaganda Católica”, todas as editoras religiosas foram tomadas. Padre Pro não poderia ter escolhido melhor hora para retornar.
“O embaixador Russo Stanislas Pesthovsky garantiu a Calles que suas políticas anticlericais estavam em perfeito acordo com os métodos comunistas, e desejou a ele todo o sucesso. Ademais, para manter os métodos comunistas de vigilância, o ditador pró-comunista empregou dez mil agentes do governo, quase todos estrangeiros, para investigar o povo, e assegurar que as novas leis fossem obedecidas. Onde tal nação empobrecida conseguiu dinheiro para pagar esta violenta gestapo continua um mistério...
“Mais incriminador para nosso país é o fato de que Washington esteve vendendo armas 'à crédito' ao General Obregon, sem as quais nem ele nem Calles teriam conseguido sustentar suas sangrentas campanhas. Igualmente estranho é o fato da imprensa dos Estados Unidos jamais ter publicado uma única notícia ao povo Americano sobre o que estava realmente ocorrendo na República vizinha...”.
Não obstante, o perigo não foi suficiente para deter o valente Padre. Continua o biógrafo:
“... então, dificilmente com qualquer descanso, o convalescente padre atirou-se em um extremamente árduo apostolado. Ele passava praticamente todo o dia no confessionário na igreja jesuíta local, confortando, aconselhando, repreendendo e absolvendo, das cinco da manhã até as onze, e depois, novamente, das três e meia da tarde até oito horas da noite. Em acréscimo, dadas as instruções e sermões, recebia visitantes que desejavam consultá-lo sobre problemas no casamento e outras dificuldades, até a data de fechamento [das Igrejas]. De todos seus deveres, o duro labor no confessionário era o que mais exigia de sua fraca saúde. Duas vezes desmaiou e teve de ser carregado para fora...
“Veio então o triste dia que nenhum dos fiéis do México jamais esquecerá. Era o dia 31 de Julho de 1926. Neste dia a Santa Missa foi pela última vez oferecida publicamente. Todos se apressaram para receber, em suas paróquias, a Vida de suas almas na Santa Comunhão. Esta foi a última vez que Padre Pro celebrou Missa em uma igreja. A partir de então, a Igreja no México se tornaria clandestina. Ou, como um autor colocou, “a antiga Igreja das catacumbas reviveu em uma república ocidental moderna”. E o México faria muitos mártires.
“Enquanto horríveis martírios ocorriam, Padre Pro estava ocupado organizando a 'contra-revolução' bem no coração da capital. Primeiro, ele estabeleceu 'estações eucarísticas' por toda a cidade. Estas estações eram casas de católicos de confiança, às quais ele ia em determinados dias distribuir a Santa Comunhão, e, possivelmente, dizer a Missa. Por conta própria, distribuía uma média de trezentas comunhões por dia. Também organizou uma companhia de trezentos homens para percorrer toda a cidade e seus subúrbios como instrutores religiosos [...] graças a estas instruções, jovens e velhos conservaram sua Fé viva. Estas aulas também se provaram um substituto para as escolas que normalmente teriam provido educação religiosa para as crianças” .
Constantemente abordado por policiais – Pro foi detido e preso duas vezes antes de ser sentenciado à morte – foi somente graças a uma coragem incomum, aliada a uma enorme presença de espírito, que Pro conseguiu levar a cabo seu apostolado na clandestinidade com tamanhos resultados. As peripécias do padre, muitas dignas de filmes policiais, levaram a considerá-lo o mais simpático dos mártires modernos.
Uma vez, ao aproximar-se de um determinado local, percebeu que estava cercado por policiais. Evitando demonstrar medo ao retirar-se dele, e procurando não expor ninguém ao perigo, fez ao longe movimento como de quem apresenta um distintivo, e informou: “Há um padre escondido ai dentro!”. Pensando que se tratava de um agente à paisana, os detetives deixaram-no passar. Uma vez dentro, cumpriu seus deveres sacerdotais, e saiu saudando a sentinela.
Noutra ocasião, sabia que dois agentes o vigiavam. Ao deparar-se com uma senhora católica que conhecia da Missa, aproximou-se dela e ordenou que agisse com se fora sua noiva. Tomou-lhe o braço (ele vestia-se como civil) e assim logrou escapar dos agentes.
Um dia, enquanto seguia viagem em um táxi, deu-se conta de que a polícia lhe seguia em outro automóvel. Ordenou ao chofer: “Siga viagem sem deter-se, que vou lançar-me na rua”. Abriu a porta do táxi, e assim fez. Quando a polícia percebeu, Pro já estava longe.
Nas palavras de um outro biografo:
“Fotografias do período mostram-no em vários disfarces. Organizou retiros para diversos grupos [...] Com os trabalhadores, usava suspensórios e capacete; ele parecia um motorista em uma reunião de motoristas, um mecânico entre mecânicos. Por meio de vários subterfúgios conseguia ouvir confissões mesmo nas cadeias. Ele aconselhava os que se preparavam para ser oradores públicos em defesa da Igreja sobre como moldar a opinião pública” .
Estava o Padre Pro em um grande edifício, presidindo uma reunião com os moços da Ação Católica, quando subitamente a polícia surgiu rodeando o edifício. O Padre teve de esconder-se num armário. Momentos depois, entrou no salão o Coronel portanto duas pistolas: “Onde está o Padre Pro?“. Os moços disseram que não sabiam. “Têm um minuto para dizer-me onde está este Padre, ou matarei a todos!”. Nesse instante, sentiu o coronel um cano frio de arma tocar-lhe a nuca. Era o Padre Pro que havia saído do armário. “Solte essas pistolas ou morre!”. O coronel deixou cair as armas no chão, e estas foram recolhidas pelos moços. “Agora fujam vocês!”, gritou Pro aos moços, que saíram apressadamente buscando esconderijo. Logo disse o padre em tom picaresco: “Agora vire-se, Senhor Coronel, vire-se para ver com que coisa o desarmei”. O coronel deu meia volta e, para sua humilhação, viu que o padre lhe apontava a ponta de uma garrafa vazia. Com uma simples garrafa, desarmara o coronel em fúria com duas pistolas carregadas!
Todos esses eventos, somados ao sucesso de seu epistolado, o transformaram no inimigo numero uno do governo callista. Logo após, receberia mandato de prisão, e seria levado à morte.