Foi ninguém menos que um Doutor Católico, um Padre da Igreja, que identificou alguns fatos que atribuiu à Santíssima Virgem como imperfeições, durante o encontro do Menino Jesus no Templo e, também, nas Bodas de Caná. Trata-se de São João Crisóstomo.
Em sentido contrário, deve-se dizer que a Santíssima Virgem nunca cometeu a menor imperfeição. As razões explicando isso são inúmeras.
Primeiro, porque a Mãe de Deus não tinha a “fonte do pecado” – também chamada de concupiscência – que é uma das causas principais das imperfeições. Essa ausência está ligada à sua imunidade ao pecado original.
Além disso, a virgem das virgens possuía a virtude perfeita em razão da graça que lhe havia sido dada. Ela também estava destinada a ser um modelo de santidade, porque Nossa Senhora é a primeira dos redimidos: é conveniente que seja ela, que tem o primado na ordem da santidade, deveria incorporá-la em sua perfeição consumada
Finalmente, sua perfeita prudência sempre determinou sua atividade na maneira que estava mais conformada à vontade de Deus.
É por isso que Santo Tomás de Aquino não hesita em dizer que São João Crisóstomo foi longe demais em seu escrito. E, embora São Pio V tenha ordenado que fossem republicadas as obras do grande doutor, pediu que as passagens incriminadas não fossem incluídas.
A Mãe de Deus possuía impecabilidade
Mas a maior razão explicando a ausência de pecado e imperfeições em Maria é que ela era impecável.
O Concílio de Trento, na Sessão VI, Cânone 23, afirma: “Se alguém disser que... em sua vida, [um homem] pode evitar todos os pecados, até mesmo os veniais, exceto por um privilégio especial de Deus, como a Igreja sustenta em relação à Santíssima Virgem: seja anátema”
De sua parte, Santo Tomás reconhece a confirmação na graça em razão da adequação à Mãe de Deus. Impecabilidade consiste em não poder pecar em razão de uma capacidade interior. Ela se distingue da confirmação na graça, que é manter o estado de graça até a morte, em outras palavras, não cometer pecado mortal: essa graça se explica pela ajuda externa de Deus. Mas a impecabilidade requer uma causa interna no sujeito, que evita o pecado.
Isso é, claramente, o caso do Verbo Encarnado, Jesus Cristo: é uma impossibilidade a pessoa divina cometer um pecado. No caso do homem-Deus, a visão beatífica e a virtude perfeita são acrescidas à personalidade divina.
A impecabilidade também existe, em grau menor, nos que já foram salvos: inundados pela luz da glória, eles não podem mais pecar. Seria impossível possuir a visão beatífica e pecar.
Em grau menor, a impecabilidade advém da grande dificuldade de pecar que resulta do dom de uma graça especial. Ela inclina tanto uma pessoa ao bem que se torna quase impossível romper com ele. Deus deu uma assistência especial a Sua Mãe, que removeu de todas as causas do pecado.
Essa doutrina permite uma compreensão mais profunda dessas palavras magníficas do Papa Pio IX em Ineffabilis Deus: “fê-la alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender”.