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A queda do Afeganistão e o ressurgimento do Islamismo radical

William Kilpatrick

 

Enquanto escrevo este artigo, as notícias narram que Kabul caiu nas mãos dos Talibãs, que o presidente do Afeganistão está foragido e que o novo governo será nomeado de Emirado Islâmico do Afeganistão. Enquanto isso, está sendo noticiado que a Embaixada dos EUA foi evacuada, mas não está claro, ainda, se os funcionários da Embaixada conseguiram sair do país.

Até ontem [15 de Agosto de 2020], muitos na administração Biden estavam dizendo que nada disso iria acontecer, ou que, se acontecesse, não aconteceria em um longo tempo. Mas está acontecendo agora. E a velocidade da tomada nos deve levar a fazer uma reflexão.

Nos últimos dois anos, houve uma cascata de eventos súbitos para os quais poucos estavam preparados – levantes violentos em centenas de cidades americanas, uma elevação do crime, uma pandemia mundial, a eleição controversa de um presidente alienado da realidade, o ressurgimento de tensões raciais e uma invasão de centenas de milhares de imigrantes ilegais na nossa fronteira do Sul. Mais chocante que tudo, as rédeas do governo americano, agora, estão nas mãos de esquerdistas.

Desde uma perspectiva histórica, tudo ocorreu em um piscar de olhos. E – ao menos para a maioria dos americanos – foi tudo inesperado.

A rápida e inesperada derrota do governo afegão deveria servir de aviso para o fato de que tempos mais turbulentos e perigosos estão à vista. Não é uma previsão difícil de se fazer. Nossa derrota no Afeganistão advém, de várias maneiras, da ilusão mesma dos “woke”(**) que permitiu à anarquia e ao caos moral crescerem e prosperarem nos EUA.

De fato, muitos de nossos erros de cálculo no Afeganistão parecem estar fundados diretamente no mesmo tipo de pensamento mágico que, agora, permeia nossas escolas, nossos conselhos municipais e até mesmo nossas Forças Armadas. Em tempos de crise, nós dependemos de que nossos militares estejam sempre um passo à frente ao lidarem com um inimigo como os Talibãs. Mas, agora, parece que nossas Forças Armadas foi uma das primeiras instituições a sucumbir à doutrina “woke” – isto é, ao wishful thinking. Como os ativistas radicais que pediam o corte de verbas da polícia, generais radicais, entusiasticamente, apoiaram programas que levaram a um desarmamento moral das tropas.

Em vez de aumentar o moral, a coesão das unidades e a prontidão,  solaparam essas qualidades ao introduzir treinamento em teoria racial crítica, racismo sistemático, preconceito com brancos e orgulho LGBT. É claro, como o bom senso indica, tais programas serviram apenas para aumentar as divisões entre as tropas: negros contra brancos, cristãos e conservadores contra liberais e esquerdistas etc. A "grande ideia" da Força Aérea para aumentar o moral foi trazer drag queens para entreter os aviadores. As pessoas que sancionaram esses bizarros programas de treinamento não eram funcionários do baixo escalão, mas do topo do topo. O Secretário de Defesa Lloyd Austin presidiu um evento de “orgulho gay” no Pentágono e, em outra ocasião, anunciou que combater a mudança climática era a maior prioridade dos militares. Por outro lado, o General Mark Milley, o Estado-Maior Conjunto dos EUA e ex-comandante das nossas tropas no Afeganistão, parece pensar que a “supremacia branca” é a maior ameaça a nossa nação. Posições semelhantes têm sido adotadas pelo Comandante da Marinha, Almirante Michael Gilday, pelo Estado-Maior da Força Aérea, Charles Q. Brown Jr., e por vários outros oficiais de alta patente.

Com toda essa engenharia social em suas mentes, não é de espantar que os generais não tivessem muito tempo para pensar na ameaça dos Talibãs. Além disso, esse tipo de doutrinação a que nossas tropas têm sido submetidas não apenas solapa a coesão, a unidade e o moral da tropa (suicídios estão em alta recorde), mas também distrói a lógica por trás da defesa do próprio país. Se a sua pátria é apresentada como a nação mais preconceituosa e racista da história, por que arriscar a vida lutando por ela? Se os EUA não são melhores que os Talibãs (ou o ISIS, ou Al-Qaeda), então que direito temos de intervir?

Esses mitos “woke” inibiram muito a eficiência dos militares no Afeganistão e em outros lugares. Mas a ilusão mais perigosa na qual acreditam tanto os militares, quanto governos sucessivos diz respeito ao Islã em si. É a ilusão de que o Islã é uma religião de paz. A noção ilusória de que a cultura e a religião islâmicas não são diferentes da nossa, ou que os muçulmanos devotos querem o mesmo que o Ocidente – liberdade de consciência, tolerância de opiniões divergentes, democracia e a igualdade de homens e mulheres.

Qualquer um que tenha conhecimento do Corão, da Hadith e da Sharia ou da história do Islã sabe que, quanto mais devoto um muçulmano é, menos provável será que queira alguma dessas coisas. Muitos de nossos politicos, porém, não são pessoas religiosas, de modo que tendem a subestimar a importância da religião na vida das pessoas. Ora, o Talibã, Al-Qaeda, ISIS, Boko Haram e afins são profundamente religiosos. Eles não estão lutando, apenas, por terra, ou por recursos naturais, mas por Allah. As guerras que travam são guerras religiosas. E um dos princípios maiores da religião deles é que o mundo inteiro deve estar submetido a Allah. Como o comandante do Talibã Muhammed Arif Mustafa, recentemente, afirmou: “É nossa crença que, um dia... A lei islâmica virá não apenas para o Afeganistão, mas para todo o mundo... a Jihad não terminará até o fim dos tempos”. Por essa razão, a maioria desses incentivos oferecidos pelos EUA e pela OTAN, que lembram uma cenoura penduradas num graveto, simplesmente não funcionarão – e menos ainda o aviso de Jen Psaki de que os Talibãs estão correndo risco de perder prestígio perante a “comunidade internacional”.

A ameaça do Islã tem sido muito subestimada, porque pouquíssimos realmente tentaram compreender o Islã, seu fundador beligerante e seu ethos guerreiro. Embora gerações de americanos tenham se entusiasmado com filmes de James Bond estrelando vilões maus que buscam a dominação global, parecem esquecidos da possibilidade de que ideologias na vida real, de fato, busquem essa dominação global. E, ainda assim, uma das lições mais claras da História é que é exatamente isso que o Islã quer.

Um indício da falta de entendimento do Islã e de suas ambições globais é que o significado dos atentados de 11/09 está sumindo da memória. Muitos da geração “woke” eram, apenas, bebês no tempo dos ataques, então não experimentaram a sensação de choque e pavor sentida por muitos americanos por anos após o ataque. Mas esse medo desapareceu com o passar do tempo. Recentemente, muitas das famílias das vítimas do 11/09 se sentiram ultrajadas com alegações da mídia de que os acontecimentos no Capitólio de 6 de Janeiro, que resultaram em uma morte, foram piores que os ataques do 11/09, que deixaram quase 3 mil mortos e geraram guerras.

Haverá outro 11/09? Infelizmente, seria difícil dizer o contrário. Devido a nossa relutância em tirar lições daquele acontecimento, parece que estamos fadados a receber lições ainda mais duras. Dado o modo rápido e decisivo com que o Talibã retomou o Afeganistão, outro ataque parece bastante provável.

De fato, parece provável que, agora, testemunharemos um ressurgimento poderoso da atividade islâmica de jihad em todo o mundo. A partida humilhante das forças americanas do Afeganistão será tomada como um sinal da vontade de Allah por muitos muçulmanos ao redor do mundo. Alguns dos aliados dos EUA a interpretarão como um sinal de que não podem mais confiar nos EUA, e alguns optarão por tomar uma posição mais neutra na guerra contra o terrorismo islâmico. Assim como o exército afegão acabou se rendendo ao Talibã, também podemos esperar que outros povos em terras que estão combatendo jihadistas abandonarão a luta e aceitarão o duro jugo da Sharia, para não correrem o risco de perder tudo.

Aqui, nos EUA, devemos nos perguntar se estamos prontos para outro ataque da mesma magnitude que o 11/09. A Polícia de Nova York, por exemplo, está preparada? Eles estão seriamente desmoralizados com o fracasso do prefeito progressita em lhes dar apoio. Enquanto isso, muitos policiais abandonaram a corporação ou aposentaram-se mais cedo em razão do sentimento antipolicial, de taxas crescentes de criminalidade e das tentativas de cortes de verbas da polícia. Estarão eles de prontidão [para os ataques terroristas], ou estarão preocupados com outras coisas, tentando defender-se de ataques físicos ou verbais?

Ainda que a polícia americana se mantenha firme, e quanto ao resto do mundo? Como Osama bin Laden uma vez observou, os homens, naturalmente, preferirão um cavalo forte a um cavalo fraco. E, cada vez mais, o Islã radical parece ser o cavalo forte. A Turquia, a China, o Paquistão e o Irã já sinalizaram que reconhecerão o Talibã como o governo legítimo do Afeganistão. Todos eles estão prontos a fornecer armas e dinheiro ao Talibã. Enquanto isso, o Talibã adquiriu armas – fuzis americanos, artilharia, Humvees, drones e helicópteros abandonados pelo exército afegão em debandada. Eles também libertaram cerca de 5 mil prisioneiros Talibãs e Al-Qaeda experientes em combates da Base Aérea de Bagram. Inspirados em seus ímans e no Corão, esses lutadores não estarão muito inclinados a se aposentarem e a viverem vidas pacíficas daqui em diante.

Para muitos muçulmanos – especialmente muçulmanos jovens – a vitória será fonte de inspiração para aderir à jihad, e o número de recrutamentos provavelmente explodirá. O sangue fresco poderia virar a balança em muitas áreas em combate – por exemplo, em partes da África, as Filipinas e a Índia.

A Índia, é claro, tem armas nucleares – várias delas. E isso traz outra possibilidade assustadora. Ao derrotar o exército afegão, os Talibãs adquiriram um considerável número de armas avançadas. Outras forças islâmicas poderiam adquirir armas nucleares de governos que se renderem em outras partes do mundo? A Índia é uma possibilidade, mas ela daria uma luta dura. A Índia tem uma longa lembrança de conquistas islâmicas passadas e não se renderá tão facilmente.

Mas boa parte da Europa é outra história. Há sinais de que seus povos estão perdendo a vontade de resistir. A Europa tem uma população envelhecida, e, em anos recentes, tem mostrado uma propensão a tentar agradar ao Islã. Enquanto isso, a população muçulmana da Europa continua a crescer e é uma população muito mais jovem. Em outras palavras, grande parte dos muçulmanos europeus estão em idade de combate.

Tanto a França quanto a Inglaterra têm armas nucleares e sistemas avançados aptos a lança-las, mas, obviamente, tais armas nunca foram adquiridas para o tipo de situação que, hoje, os franceses e os ingleses enfrentam. Mas é cogitável que essas armas poderiam cair nas mãos dos islâmicos, se algum desses países sucumbisse à islamização. Ambos os países sofreram mais ataques jihadistas – alguns com números impressionantes de mortos – que os EUA. E alguns, como o escritor francês Mihcel Houellebecq, acreditam que a França está pronta para se render.

E, ainda que a Europa se mantenha firme, e quanto ao EUA? Como mencionei acima, os generais americanos têm ideias muito estranhas de qual sua missão. Se os líderes militares americanos são burros o suficiente para cair na teoria racial crítica, na ameaça de um golpe branco supremacista, nos méritos do neomarxismo e no papel crucial que os drag queens desempenham para aumentar o moral, então eles cairão em qualquer invenção.

Um sinal de que é assim é que o Pentágono, recentemente, nomeou seis muçulmanos radicais (um terço do total) ao recém criado “Grupo de Trabalhos para Conter o Extremismo”. O grupo recebeu a tarefa de eliminar os extremistas (conservadores, cristãos e patriotas) das linhas dos militares. Então, muçulmanos extremistas receberam a tarefa de eliminar das Forças Armadas seus soldados mais leais e patriotas. É um caso clássico da raposa guardando o galinheiro. E isso está acontecendo apesar do fato de que, em várias ocasiões, muçulmanos extremistas se infiltraram em bases das Forças americanas, com consequências mortais.

Quando estavam em campanha pela presidência, Joe Biden prometeu nomear muçulmanos para posições governamentais “em todos os níveis”. Mas parece que os muçulmanos já estão servindo em todos os níveis do governo estadual e federal. Alguns deles, sem sombra de dúvidas, estão servindo lealmente, mas alguns podem estar servindo a outros interesses. Em seu livro de 2015, Catastrophic Failure, o analista de segurança, Major Stephen Coughlin falou de infiltração considerável do Pentágono pela Irmandade Muçulmana. Em 2016, Philip Haney escreveu sobre uma penetração parecida no Department of Homeland Security em seu livro See Something, Say Nothing. Em 2020, enquanto escrevia a continuação do livro, Haney foi encontrado morto com um ferimento de tiro em uma estrada. Não é apenas uma paranoia que evita que as pessoas digam o que veem. Em muitos casos, é um medo real de que o que provavelmente aconteceu a Haney possa acontecer a elas.

Apenas recentemente os americanos acordaram para o fato de que os comunistas chineses, por anos, têm exercido influência considerável nas universidades, empresas e pessoas em altas posições de governo. Algum dia acordaremos e descobriremos que radicais islâmicos têm conduzido operações de influência semelhantes na sociedade americana?

Mas a coisa mais curiosa é que essas operações de influência dificilmente são necessárias. Isso porque uma maioria na academia, mídia e establishments políticos, há muito tempo, venderam-se ao mito de que o Islã verdadeiro é pacífico, tolerante e moderado em essência. Além disso, eles fizeram tudo ao seu alcance para cancelar e silenciar aqueles que não acreditam no mito – as pessoas que eles desqualificam como “islamófobos”.

Essa manhã, uma das manchetes na minha TV dizia: “Autoridades: Talibã tomou o poder mais rápido que o esperado” Muitas coisas estão acontecendo mais rápido que o esperado. É provável que a influência da China e do Islã pelo resto do mundo continuará a crescer mais rápido que o esperado.

Mas não é para você perceber isso. A vitória de domingo do Talibã sacudiu os americanos anestesiados. Mas várias dessas sacudidas já aconteceram ao longo do anos, e, após cada uma, nós voltamos a dormir. A maioria dos americanos têm menos medo do Islã que de ofender a ideologia “woke” – menos medo do Islã que de ser considerados “islamófobos”.

O que precisamos temer, porém, não é a “islamofobia”, mas o retorno do Talibã, da Al-Qaeda, do ISIS e a aliança dos três com a China, Turquia, Irã, Paquistão e vários outras potências que desejam nossa derrota.

 

**N.T.: O termo “woke” refere-se à ideologia progressista americana contemporânea, bem como aos americanos que a ela aderem

 

Tradução: Permanência / Fonte:Catholic Family News / A pintura que ilustra este artigo é de R. Moinvoisin 

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