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Art. 2 — Se Cristo devia receber o batismo de João.

 O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não devia receber o batismo de João.

 
1. — Pois, o batismo de João foi um batismo de penitência. Ora, a penitência não convinha a Cristo, isento de todo pecado. Logo, parece que não devia receber o batismo de João.
 
2. Demais. — O batismo de João, como diz Crisóstomo, foi um meio termo entre o batismo dos Judeus e o de Cristo. Ora, o termo médio
participa da natureza dos extremos,
como diz Aristóteles. Ora, como Cristo não recebeu o batismo da lei nem o seu próprio, parece que, pela mesma razão não devia receber o de João.
 
3. Demais. — Tudo o que é ótimo, na ordem humana deve ser atribuído a Cristo. Ora, o batismo de João não é o supremo dos batismos. Logo, não devia Cristo receber o batismo de João.
 
Mas, em contrário, o Evangelho: Veio Jesus ao Jordão para ser batizado por João.
 
SOLUÇÃO. — Como diz Agostinho, o Senhor batizava, depois de batizado, mas não pelo batismo com que o foi. Por onde, como administrava um batismo que lhe era próprio, não recebeu o seu próprio batismo, mas o de João. E assim devia ser. - Primeiro, pela condição do batismo de João, que não batizava no Espírito, mas só em água. Ora, Cristo não precisava de nenhum batismo espiritual, porque desde o princípio da sua concepção teve a plenitude da graça do Espírito Santo, como do sobredito resulta. E essa é a razão dada por Crisóstomo. Segundo, como diz Beda, recebeu o batismo de João, para comprová-lo com o seu batismo. – Terceiro, como diz Gregório Nazianzeno, Cristo recebeu o batismo de João para santificar o batismo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como dissemos, Cristo quis ser batizado a fim de, com o seu exemplo, nos induzir a receber o batismo. E para ser mais eficaz a sua indução, quis receber um batismo de que manifestamente não precisava, para que os homens recebam o de que precisam. Donde o dizer Ambrósio: Ninguém recuse o lavacro da graça, pois Cristo não recusou o lavacro da penitência.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — O batismo dos judeus, preceituado pela lei, era somente figurado: ao passo que o de João de certo modo era oral, por induzir os homens a se absterem do pecado: mas o batismo de Cristo tinha a eficácia de purificar do pecado e conferir a graça. Quanto a Cristo, nem precisava de receber a remissão dos pecados, dos quais estava isento, nem de receber a graça, da qual tinha a plenitude. Semelhantemente, sendo ele a Verdade, não lhe podia convir o que se realizava só figuradamente. Por isso, mais conforme lhe era receber um batismo médio, do que um dos extremos.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O batismo é um certo remédio espiritual. Ora, mais um ser é perfeito e menos necessidade tem de remédio. Por onde, sendo Cristo perfeito por excelência, não devia receber o perfeitissimo dos batismos, assim como não precisa quem é são da eficácia de nenhum remédio. 
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