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Art. 5 — Se o princípio da penitência resulta do temor.

O quinto discute-se assim. — Parece que o princípio da penitência não resulta do temor.
 
1. — Pois, a penitência começa pela displicência dos pecados. Ora, essa é própria da ca­ridade, como dissemos. Logo, a penitência nas­ce, antes, do amor que do temor.
 
2. Demais. — Os homens são provocados à penitência pela esperança do reino celeste, Se­gundo àquilo do Evangelho: Fazei penitência, porque está próximo a reino dos céus. Ora, o reino dos céus é o objeto da esperança. Logo, a penitência procede, antes, da esperança, que do temor.
 
3. Demais. — O temor é um ato interno do homem. Ora, a penitência não resulta em nós de uma ação nossa, mas é obra de Deus, segundo àquilo da Escritura: Depois que me converteste, fiz penitência. Logo, a penitência não procede do temor.
 
Mas, em contrário, a Escritura: Assim como a que concebe, quando estiver próximo ao parto, confrangendo-se, dá gritos nas suas dores, do mesmo modo nos tornamos nós, isto é, pela peni­tência. E depois acrescenta segundo outra letra: O vosso temor, nos fez conceber Senhor, e demos à luz e parimos o espírito de salvação, isto é, da peni­tência salutar, como se colhe do que foi anterior­mente dito. Logo, a penitência procede do temor.
 
SOLUÇÃO. — Podemos encarar a penitência a dupla luz. - Primeiro como hábito. E então é infundida imediatamente por Deus, sem nós como colaboradores principais; mas não sem nós como cooperadores pela nossa disposição, me­diante certos atos. - De outro modo podemos encarar a penitência quanto aos atos pelos quais cooperamos com a ação de Deus, ao nos infun­dir essa virtude. Desses atos o princípio primeiro é a ação de Deus, convertendo-nos o coração, segundo àquilo da Escritura: Converte-nos, Senhor a ti, e nós nos converteremos. - O se­gundo ato é o movimento da fé. - O terceiro ato é o movimento do temor servil, pelo qual nos apartamos do pecado pelo medo dos suplícios. - O quarto ato é o movimento da esperança, pelo qual formamos o propósito da emenda, na esperança de alcançarmos o perdão. - O quinto ato é o movimento da caridade, pelo qual o pecado nos desagrada em si mesmo e já não por causa dos suplícios. - O sexto ato é o movimento do temor filial, em virtude do qual, pela reverência para com Deus, oferecemos voluntàriamente a Deus a nossa satisfação. - Por onde é claro que o ato de penitência procede do temor servil como do primeiro movimento do afeto que para tal ordena; mas do temor filial, como do prin­cípio próprio e imediato.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O pecado começa, por desagradar ao homem, sobretudo pecador, por causa dos suplícios visados pelo temor servil, antes de lhe desagradar por causa da ofensa a Deus ou da torpeza do pecado, o que é próprio da caridade.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Pelo aproximar-se do reino dos céus se entende o advento do rei, não só para premiar, mas também para punir. Por isso, como lemos no Evangelho, João Batista dizia: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura?
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O próprio movimento do temor também procede do ato de Deus, que converte o coração. Donde o dizer da Escritura: Quem dera que eles tivessem tal coração, que me temessem? Por onde, o fato de a penitência proceder do temor não exclui que proceda do ato pelo qual Deus converte o coração.

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