O sexto discute-se assim. – Parece que este sacramento não nos preserva dos pecados futuros.
1. — Pois, muitos dos que recebem dignamente este sacramento depois caem em pecado. Ora, isso não se daria se ele preservasse dos pecados futuros. Logo, o efeito deste sacramento não é preservar dos pecados futuros.
2. Demais. — A Eucaristia é o sacramento da caridade, como se disse. Ora, a caridade podendo, depois de possuída, ser perdida pelo pecado, como se estabeleceu, parece que não preserva dos pecados futuros. Logo, parece que nem este sacramento nos preserva do pecado.
3. Demais. — A origem do pecado em nós é a lei do pecado, que está nos nossos membros, segundo o Apóstolo. Ora, a mitigação da concupiscência, que é a lei do pecado, não é considerada efeito deste sacramento, mas antes, do batismo. Logo, preservar-nos dos pecados futuros não é o efeito deste sacramento.
Mas, em contrário, diz o Senhor: Este é o pão que desceu do céu, para que todo o que dele comer não morrer. O que, manifestamente, não se entende da morte do corpo. Logo, entende-se da morte espiritual, causada do pecado, e da qual este sacramento nos preserva.
SOLUÇÃO. — O pecado é uma espiritual morte da alma. Por onde, preservamo-nos do pecado futuro, do mesmo modo pelo qual o nosso corpo é preservado da morte futura. E isso de dois modos se dá. Primeiro, fortificando interiormente a nossa natureza contra as causas internas de corrupção; assim, preservamo-nos da morte pela comida e pelos remédios. De outro modo, defendendo-nos contra os ataques externos; e assim, preservamo-nos pelas armas, defesa do nosso corpo. Ora, de um e de outro modo este sacramento nos preserva do pecado. - Primeiro, unindo-se com Cristo por meio da graça, robustecer-nos a vida espiritual, sendo uma comida, por assim dizer, e um remédio espiritual, segundo àquilo da Escritura; o pão fortifica o coração do homem. E Agostinho diz: Aproxima-te confiante - é pão e não, veneno. - De outro modo, enquanto sinal da paixão de Cristo, pela qual os demônios foram vencidos, repele todo ataque dos demônios. Por isso diz Crisóstomo: Com leões expirando chamas, assim, saiamos dessa mesa inimigos terríveis ao diabo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O efeito deste sacramento nós o sentimos, conforme as nossas condições. Pois, o mesmo se dá com qualquer causa ativa, cujos efeitos são recebidos na matéria, ao modo desta. Ora, pela nossa condição nesta vida, podemos, usando do livre arbítrio escolher entre o bem e o mal. Por onde, embora este sacramento tenha em si mesmo a virtude de nos preservar do pecado, não nos tira a possibilidade de pecar.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Também a caridade em si mesma, preserva o homem do pecado, segundo àquilo do Apóstolo: O amor do próximo, não obra mal. Mas, da mutabilidade do livre arbítrio resulta o pecarmos, depois de termos tido a graça; assim como, depois de termos recebido este sacramento.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora este sacramento não se ordene diretamente à diminuição da concupiscência, diminui-a contudo, pela conseqüência de aumentar a caridade. Pois, como diz Agostinho, o aumento da caridade é a diminuição da concupiscência. E diretamente confirma-nos o coração no bem. O que também nos preserva do pecado.