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Art. 12 — Se é lícito receber o corpo de Cristo sem o sangue.

O duodécimo discute-se assim. — Parece que não é licito receber o corpo de Cristo, sem o sangue.
 
1. — Pois, diz Gelásio Papa: Chegou ao nosso conhecimento que certos, tomam somente a por­ção do sagrado corpo e abstém-se do cálice do sagrado sangue. Esses e sem nenhuma dúvida ­pois, não sei que superstição os leva a se absterem — ou recebam todo o sacramento ou o deixem todo. Logo, não é lícito tomar o corpo de Cristo sem o seu sangue.
 
2. Demais. — A perfeição deste sacramen­to consiste em comermos o corpo de Cristo e lhe bebermos o sangue, como se disse. Logo, tomando o corpo sem o sangue, o sacramento será imperfeito. O que constitui sacrifício. Por isso Gelásio acrescenta, no mesmo lugar: Porque a divisão de um e mesmo mistério não pode ir sem um grande sacrilégio.
 
3. Demais. — Este sacramento é celebrado em memória da paixão do Senhor, como se disse; e é recebido para a salvação da nossa alma. Ora, a paixão de Cristo se manifesta antes pelo san­gue, que pelo corpo; e também o sangue é ofere­cido pela salvação da alma, como se estabeleceu. Logo, deveríamos antes nos abster de receber o corpo, que o sangue. Portanto, os que se ache­gam a este sacramento não devem receber o corpo de Cristo sem o seu sangue.
 
Mas, em contrário, o uso de muitas Igrejas, nas quais se dá aos comungantes a receber o corpo de Cristo e não o sangue.
 
SOLUÇÃO. — Sobre o uso deste sacramento duas coisas podemos considerar — uma relativa ao sacramento; a outra relativa aos que o rece­bem. — Relativamente ao sacramento deve-se receber a ambos, isto é, ao corpo e ao sangue, por­que em receber ambos consiste a perfeição do sa­cramento. Portanto, o sacerdote, que deve consa­grar este sacramento e consumá-lo, de nenhum modo deve tomar o corpo de Cristo, sem o san­gue. — Relativamente aos que o recebem, é necessária uma reverência e cautela para não acontecer nada que redunde em ofensa de tão grande mistério. E isso pode dar-se sobretudo no beber-se o sangue, que, tomado sem precau­ções, facilmente se derrama. Ora, como foi aumentando a multidão do povo cristão, compos­to de velhos, moços e crianças, nem todos os quais aplicam a discreção e a cautela devidas, ao uso deste sacramento, por isso e acertadamente certas igrejas seguem o costume de não dar o sangue a beber ao povo, que é tomado só pelo sacerdote.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Gelásio se refere aos sacerdotes que, assim como consagram o sacramento completo, assim tam­bém devem comungá-lo todo. Pois, como se lê no Concílio Toledano (XII), que sacrifício será aquele onde não se vê dele participar nem mes­mo o sacrificante?
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A plenitude deste sa­cramento não está no uso dos fiéis, mas na con­sagração da matéria. Por onde, em nada der­roga à perfeição dele se o povo o tomar sem o sangue; contanto que o sacerdote que o consa­grou, tome ambas as espécies.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — A memória da paixão do Senhor se opera na consagração mesma deste sacramento, em que não deve ser consagrado o corpo sem o sangue. Porém o povo pode tomar o corpo sem o sangue, sem que daí resulte nenhum detrimento. Porque o sacerdote em nome de todos oferece e toma o sangue; e sob ambas as espécies está contido todo Cristo, como estabelecemos.

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