O sétimo discute-se assim. — Parece que as espécies sacramentais não se fracionam, neste sacramento.
1. — Pois, segundo o Filósofo, dizemos que os corpos podem fracionar-se, por causa da determinada posição dos seus poros. O que não se pode atribuir ás espécies sacramentais. Logo, as espécies sacramentais não podem fracionar-se.
2. Demais. — Da fração resulta o som. Ora. às espécies sacramentais não dão nenhum som; pois, como diz o Filósofo, produz som o corpo duro com superfície plana. Logo, as espécies sacramentais não se fracionam.
3. Demais. — O que comemos também, fracionamos e mastigamos. Ora, comemos o verdadeiro corpo de Cristo, segundo o diz o Evangelho: O que come a minha carne e bebe o meu sangue. Logo, também fracionamos e mastigamos o corpo de Cristo. Por isso diz a confissão de Berengário: Estou de acordo com a santa Igreja Romana, confessando de coração e de boca, que o pão e o vinho postos no altar, depois da consagração são o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, verdadeiramente tocado pelas mãos dos sacerdotes, fracionado e torturado pelos dentes dos fiéis. Logo, não podemos dizer que as espécies sacramentais são fracionadas.
Mas, em contrário, a fração resulta da divisão da quantidade. Ora, no caso vertente, nenhuma quantidade se divide, senão as espécies sacramentais; pois, nem o corpo de Cristo, que é incorruptível, nem a substância do pão, que não permanece. Logo, as espécies sacramentais se fracionam.
SOLUÇÃO. — Os antigos professavam várias opiniões sobre essa matéria. Assim, certos, (como Abelardo e Hugo Vitorino), diziam que neste sacramento não havia real e verdadeiramente fração senão só para os olhos dos espectadores. - Mas isto é insustentável. Porque neste sacramento da verdade os sentidos não se enganam naquilo que podem legitimamente julgar; e entre essas coisas está a fração pela qual a multiplicidade resulta da unidade, sendo uma e outra sensíveis comuns, como o mostra Aristóteles. Por isso outros disseram haver aí verdadeira fração, sem substância existente. - Mas também isso encontra os nossos sentidos. Pois vemos neste sacramento uma quantidade, primeira dotada de unidade, depois dividida em muitas partes; a qual é forçosamente o objeto da fração. - Não podemos porém dizer que o corpo mesmo de Cristo seja fracionado. Primeiro, por ser incorruptível e impossível. Segundo, por estar em cada parte, como estabelecemos o que por certo encontra a possibilidade de fracionar-se. Donde se concluí que a fração se funda, como no sujeito, na quantidade dimensiva do pão, como os outros acidentes. E sendo as espécies sacramentais n sacramento do verdadeiro corpo de Cristo, a fração dessas espécies é o sacramento da paixão do Senhor, que sofrem verdadeiramente o corpo de Cristo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como as espécies sacramentais são susceptíveis de rarefação e de condensação, consequentemente também o são de porosidade e portanto, de ser fracionadas.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Da condensação resulta a dureza. E portanto desde que as espécies sacramentais são susceptíveis de condensação, resulta por consequência que o são da dureza e portanto da sonoridade.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Aquilo que comemos, na sua espécie própria, isso mesmo fracionamos e mastigamos, nessa espécie. Ora, o corpo de Cristo não é comido em sua espécie própria, mas na espécie sacramental. Por isso, àquilo do Evangelho - A carne para nada aproveita - diz Agostinho: Isto deve entender-se no sentido dos que carnalmente o entendiam. Pois, por carne entendiam a cortada do cadáver ou a vendida nos açougues. Por isso o corpo mesmo de Cristo não se fraciona, senão na espécie sacramental. - Sendo neste sentido, que deve entender- se a confissão de Berengário: referindo-se a fração e a tortura dos dentes à espécie sacramental, sob a qual verdadeiramente está o corpo de Cristo.