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Art. 6 — Se as espécies sacramentais podem nutrir.

O sexto discute-se assim. — Parece que as espécies sacramentais não podem nutrir.
 
1. — Pois, diz Ambrósio: Este não é o pão material que comemos, mas o pão da vida eterna, que sustenta a substância da nossa alma. Ora, tudo o que nutre entra no corpo. Logo, este pão não nutre. E o mesmo se diga do vinho.
 
2. Demais. — Como diz o livro De genera­tione, nós nos nutrimos de aquilo mesmo de que somos feitos. Ora, não espécies sacramentais são acidentes de que o homem não é feito; pois, o acidente não é parte da substância. Logo parece que as espécies sacramentais não podem nutrir.
 
3. Demais. — O Filósofo diz que o alimen­to nutre enquanto determinada substância; e faz crescer enquanto tem uma certa quantidade. Ora as espécies sacramentais não são substâncias. Logo, não podem nutrir.
 
Mas, em contrário, o Apóstolo, falando deste sacramento, diz: Uns têm fome e outros estão mui fartos. E diz a Glosa a esse lugar, que ele se refere aqueles que, depois da celebração do sa­grado mistério e da consagração do pão e do vi­nho, reclamavam as suas oblações e, não comun­gando com os outros, as tornavam sós a ponto de com isso se fartarem. O que não poderia ser se as espécies sacramentais não nutrissem. Logo, a espécies sacramentais nutrem.
 
SOLUÇÃO. — Esta questão não oferece dificul­dades, tendo sido já resolvida a precedente. Pois, a comida nutre por se converter na substância do ser nutrido. Ora, como dissemos, as espécies sacramentais podem converter-se em qualquer substância delas geradas. E pela mesma razão podem converter-se no corpo humano mediante a qual podem converter-se em cinzas ou em ver­mes. Logo, é claro que nutrem. Certos, porém, di­zem, que não nutrem verdadeiramente, como se se convertessem no corpo humano, mas nutrem e confortam, por uma certa alteração dos senti­dos, assim como nós nos confortamos pelo odor da comida e nos inebriamos com o cheiro do vi­nho. Mas essa opinião os nossos sentidos a demonstram como falha. Pois, tal nutrição não nos basta por muito tempo, por necessitar o nosso corpo de uma nutrição continua, por causa das perdas das suas energias. E, contudo poderíamos sustentar-nos por muito tempo, tomando hóstias e vinho consagrado, em grande quantidade. Semelhantemente, é insustentável a opinião segundo a qual as espécies sacramentais nutrem por causa da forma substancial do pão e do vi­nho, que remanesce. E o é, quer porque essa substância não remanesce, como dissemos. Quer por não ser ato da forma o nutrir, mas, antes da matéria, que recebe a forma do ser nutrido, quando desaparece a da nutrição. Por isso diz Aristóteles, que a nutrição, começando por disse­melhança, acaba pela semelhança.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Feita a consagração, em dois sentidos podemos dizer que há pão neste sacramento. Num consi­derando as espécies mesmas do pão, que conser­vam o nome da substância primitiva, como ensi­na Gregório. Em outro sentido podemos chamar pão ao corpo mesmo de Cristo, pão místico, que desceu do céu. Assim, quando Ambrósio diz este pão não se transforma no corpo, toma a pa­lavra pão no segundo sentido, porque o corpo de Cristo não se converte no corpo nosso, mas nos conforta a alma. Mas não se refere ao pão no primeiro sentido.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — As espécies sacramen­tais, embora não entrem na composição do corpo humano, contudo nele se convertem, como disse­mos.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — As espécies sacramentais, embora não sejam substâncias, têm contudo a virtude da substância, como dissemos.

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