O segundo discute-se assim. — Parece que o exorcismo não deve preceder ao batismo.
1. — Pois, o exorcismo é contra os energúmenos, isto é, os arreptícios. Ora, nem todos os que se apresentam ao batismo são tais. Logo, o exorcismo não deve preceder o batismo.
2. Demais. — Enquanto está um em estado de pecado o diabo o tem sob o seu poder; pois, como diz o Evangelho, todo o que comete pecado é escravo do pecado. Ora o pecado é delido pelo batismo. Logo, ninguém deve ser exorcizado antes do batismo.
3. Demais. — Para afastar o demônio foi introduzido o uso da água benta. Logo, não era preciso ir buscar para isso outro remédio nos exorcismos.
Mas, em contrário, Celestino Papa diz: Quer sejam crianças, quer jovens os que vêm ao sacramento da regeneração, não se acheguem à fonte da vida antes de ter sido expulso deles o espírito imundo pelos exorcismos e pelas exsuflações dos clérigos.
SOLUÇÃO. — Quem se propõe a fazer com sabedoria uma obra qualquer há de primeiro remover-lhe os impedimentos. Por isso diz a Escritura: Alqueivai-vos para vós o pousio e não semeieis sobre espinhos. Ora, o diabo é inimigo da salvação humana que o homem alcança pelo batismo; e tem sobre nós um certo poder pelo fato de estarmos sujeitos ao pecado original ou também ao atual. Por isso e convenientemente, antes do batismo são expulsos os demônios pelos exorcismos para não impedirem a nossa salvação. E é essa expulsão a significada pela exsuflação. Quanto à bênção, com imposição das mãos, ela fecha ao expulso o caminho para que não volte. O sal posto na boca e a unção, com a saliva, do nariz e dos ouvidos, significam, no concernente a estes a recepção da doutrina da fé; a sua aprovação, no concernente ao nariz e, no atinente à boca, a confissão. Por fim, a unção com o óleo significa a força do catecúmeno para lutar contra os demônios.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Chamam-se energúmenos os que, por assim dizer, sofrem interiormente de uma ação demoníaca exterior. E embora nem todos os que se achegam ao batismo sejam vexados pelo demônio corporalmente, contudo todos os não-batizados estão sujeitos ao poder dos demônios, ao menos pelo reato do pecado original.
RESPOSTA À SEGUNDA. — No batismo, pela ablução do pecado fica excluído do batizado o poder do demônio, enquanto este nos impede de alcançar a glória do céu. Mas os exorcismos tiram ao demônio o poder de nos impedir a recepção do sacramento.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A água benta é usada contra as impugnações externas dos demônios. Mas o exorcismo é empregado contra as impugnações internas deles; por isso os exorcizados se chamam energúmenos, isto é, como que padecentes interiormente. - Ou podemos responder que, assim como a penitência é um segundo remédio contra o pecado, porque o batismo não pode ser reiterado, assim a água benta é um segundo remédio contra os ataques dos demônios, porque os exorcismos batismais não se repetem.