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Art. 4 — Se os pecadores devem ser batizados.

O quarto discute-se assim. Parece que os pecadores devem ser batizados.
 
1. — Pois, diz a Escritura: Naqueles dias haverá uma fonte patente para a casa de Davi e os habitantes de Jerusalém, para se lavarem nela as imundícias do pecador e da mulher mens­truada - o que se entende da fonte batismal. Logo parece que o sacramento do batismo deve ser conferido também aos pecadores.
 
2. Demais. — O Senhor diz: Os sãos não têm necessidade de médico mas sim os enfermos. Ora, os pecadores são enfermos. Logo, sendo o batismo o remédio do médico espiritual que é Cristo parece que aos pecadores deve ser confe­rido o sacramento do batismo.
 
3. Demais. — Os pecadores não devem ser privados de nenhum socorro. Ora, os pecadores batizados, têm um socorro espiritual no próprio caráter batismal, que é uma certa disposição para a graça. Logo, parece que aos pecadores se deve conferir o sacramento do batismo.
 
Mas, em contrário, Agostinho: Quem te fez sem ti não te justificará sem ti. Ora, o pecador, não tendo a vontade disposta, não coopera com Deus. Logo, em vão se lhe confere o batismo para a sua justificação.
 
SOLUÇÃO. — De dois modos pode um ser pe­cador. Ou pela mácula e o reato passado. E então deve-se conferir o sacramento do batismo aos pecadores, pois, foi para isso especialmente instituído, para purificá-los das suas misérias, segundo aquilo do Apóstolo: Para a purificar, isto é, a Igreja, no batismo de água pela palavra da vida.  Noutro sentido pode um ser considerado pecador pela vontade de pecar com o propósito de perseverar no pecado. E, a tais pecadores não se lhes deve conferir o sacramento do batismo. ­Primeiro, porque pelo batismo nos encorporamos com Cristo, segundo aquilo do Apóstolo: Todos os que fostes batizados em Cristo revestistes-vos de Cristo. Ora, enquanto alguém está na vontade de pecar, não pode estar unido a Cristo, segundo aquilo do Apóstolo: Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Por isso diz Agostinho: Ninguém que esteja de posse do livre arbítrio pode começar uma vida nova sem se arrepender da antiga. - Segundo, porque em matéria de obras de Cristo e da Igreja nada devemos fazer em vão. E vão é o que não consegue o fim visado. Portanto, quem está na vontade de pecar não pode simultaneamente purificar-se do pecado, que é o fim do batismo; pois isso seria querer a existência simultânea dos contraditórios. - Ter­ceiro, porque os sinais sacramentais não devem encerrar nenhuma falsidade. E é falso o sinal a que não corresponde à realidade significada. Ora, quem vai lavar-se nas águas do batismo dá a entender que se dispõe à ablução interior; o que não se dá com quem está no propósito de persistir no pecado. Por onde é manifesto que a tais não deve ser conferido o sacramento do batismo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Essa autoridade deve ser entendida dos pecadores que têm a vontade de deixar o pecado.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, médico espi­ritual, obra de dois modos. De um modo, inte­riormente e por si mesmo. E assim prepara a vontade do homem a querer o bem e a odiar o mal. - De outro modo, obra pelos seus ministros, conferindo exteriormente os sacramentos. E assim dá a perfeição ao que foi externamente começado. Por onde, o sacramento do batismo não deve ser conferido senão a quem manifesta algum sinal de conversão interior; assim como não se dá remédio a um doente senão enquanto manifesta algum movimento de natureza vital
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O batismo é o sacra­mento da fé. Ora, a fé informe não basta à salvação, nem é mesmo o fundamento desta. Mas só a fé informada, que obra por caridade, como diz Agostinho. Por onde nem o sacramento do batismo pode conferir a salvação, se existe a vontade de pecar, que exclui a forma da fé. Pois, pela impressão do caráter batismal não se dispõe à graça quem manifesta a vontade de pecar. Porque Deus não compele ninguém à vir­tude, como diz Damasceno.

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