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As trevas e a sombra da morte

 

Tirou-os das trevas e da escuridão (Sl 106, 14)
 
[1] São três as espécies de trevas, ou de ignorâncias.
 
a) Diz o Salmista (Sl 81, 5): Não sabem nem entendem, andam nas trevas. Estas são as trevas da razão, enquanto a razão é por elas obscurecida.

 

b) Há também as trevas da culpa. Diz São Paulo (Ef 5, 8): Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. E estas são trevas da razão humana não por si mesmas, mas pelos apetites, enquanto, mal dispostos pelas paixões ou por algum mau hábito, apetecem como bom o que não é o verdadeiro bem.
 
c) Por fim, há as trevas da danação eterna (Mt 25, 30): E a este servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
 
Ora, Cristo tirou-os das trevas por ser a luz do mundo; não era o sol criado, mas Aquele por quem foi criado o sol. Contudo, como diz Agostinho, a mesma luz que fez o sol, foi feita sob o sol, e velada pela nuvem da carne, não para que fosse obscurecida, mas para que fosse temperada. E como esta luz é universal, expulsa universalmente todas as trevas.
 
Assim, o que me segue não anda nas trevas, da ignorância, pois eu sou a verdade; da culpa, pois eu sou a via; da danação eterna, pois eu sou a vida.
 
[2] A noite pode ser compreendida de dois modos:
 
a) Pela subtração da graça atual, a qual induz o pecado mortal. Quando esta noite sobrevém, ninguém pode fazer obra meritória de vida eterna.
 
b) A outra é a noite consumada, quando não apenas se é privado da graça atual, mas também da faculdade de a recuperar, pela eterna danação ao inferno, onde é profunda a noite àqueles aos quais foi dito: Ide malditos para o fogo eterno. E então ninguém poderá fazer nada, pois não há mais tempo para merecer, mas apenas para receber conforme seus méritos. Assim, enquanto viveres, faze o que tens de fazer (Ecle 9, 10): Faze com presteza tudo quanto pode fazer a tua mão, porque na sepultura, para onde te precipitas, não há nem obra, nem razão, nem ciência, nem sabedoria.
(In Joan., IX)
 
[3] A morte é a danação no inferno (Sl 48, 15): a morte os apascenta. A sombra da morte é a semelhança da danação futura que está nos pecadores. A maior pena daqueles que estão no inferno é a separação de Deus; como os pecadores já estão separados de Deus, têm semelhança com a danação futura, assim como os justos têm semelhança com a futura beatitude.
 
(In Matth., V)
 
P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae. Tradução: Permanência

 

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