Category: Dom Alfonso de Galarreta
Um dos quatro bispos sagrados por Mons. Lefebvre. Atualmente é reitor do seminário de La Reja, na Argentina.
Sermão de Dom Alfonso de Galarreta
Missa Pontifical, XI Domingo depois de Pentecostes
Capela Nossa Senhora da Conceição, Niterói – RJ
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, Amém.
Queridos Padres, queridos fiéis, infelizmente não sou capaz de pregar-lhes em português, de maneira que o farei em espanhol, com o cuidado de falar lentamente, e exercitando a paciência dos senhores.
A epístola deste domingo é tirada da primeira carta do Apóstolo São Paulo aos Coríntios, e contém admiravelmente o sentido e a definição do que é a Tradição. São Paulo diz aos Coríntios: “Lembro-vos o Evangelho que vos preguei, que vós recebestes, no qual estais firmes, e através do qual vos haveis de salvar, se o guardardes tal como vos preguei.” E imediatamente acrescenta: “Transmiti-vos o que recebi, que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado e ressuscitou segundo as Escrituras, que foi visto pelos Apóstolos”, que são as testemunhas que nos transmitem a fé e a Tradição.
E nessa mesma epístola, alguns capítulos antes, o apóstolo usa a mesma expressão, referindo-se à instituição do Santo Sacrifício da Missa. Ele diz aos Coríntios: “Recebi do Senhor Jesus o que vos transmiti.” E lhes dá então o relato da Santíssima Eucaristia, na Quinta-Feira Santa. Isto é precisamente a Tradição, é a transmissão e a recepção da verdadeira Fé, do verdadeiro culto, que temos de guardar se quisermos ser salvos.
E aí está esclarecido todo o problema da crise da Fé, e da crise da Igreja, porque o problema é que vivemos um processo profundo de ruptura com essa Tradição, de Fé, de culto, que nos vem do Senhor Jesus, de Nosso Senhor Jesus Cristo, através do Magistério constante a ininterrupto da Santa Igreja, dos Doutores, dos Santos, dos Santos Padres da Igreja, de toda uma plêiade de santos e de bispos, e de nossos ancestrais, de pais para filhos.
E São Paulo está muito consciente, anunciando-o várias vezes, que “virão tempos em que muitos apostatarão da verdadeira Fé, e aderirão a um espírito de erro, e a doutrinas dos demônios”, assim diz ele. E o farão porque não têm o amor da verdade, porque não amam a verdade, porque não obram a santificação de acordo com esta verdade, e porque, com prurido em seus ouvidos, afastam-se da verdade e aderem a fábulas de homens. E isto é o que estamos vivendo, desgraçadamente, na Igreja. Afastam-se da verdade, da Tradição, e aderem a uma série de fábulas hiper-sofisticadas que ninguém entende e que, sim, são mesmo evolutivas. A verdade divina não evolui, é permanente, “Veritas Domini manet in aeternum – A verdade do Senhor permanece eternamente”, mas a mentira, sim, é multiforme, e evolui sem parar.
Nesse sentido assistimos a um agravamento da situação na Santa Igreja, porque vamos chegando às conclusões mais extremas, aos frutos mais amargos destes falsos princípios. E vai se completando, por assim dizer, esta reforma modernista da Igreja Católica, segundo o pensamento moderno, do homem moderno. E atualmente assistimos a um recrudescimento da perseguição ao culto de sempre, à Missa chamada de São Pio V, que é a Missa de sempre, a Missa Tridentina de São Pio V. E vemos que há como um assalto aos últimos bastiões que ficaram ainda intactos, por exemplo, da ordem moral.
Nesta passagem em que São Paulo trata da Eucaristia, ele diz claramente que não se pode comungar deste Corpo e Sangue de Cristo estando em pecado mortal. Pois agora está permitido! O que dizer da aceitação de todas as desordens que vão se impondo à nossa sociedade, que são das mais torpes que existem, coisas contrárias à própria natureza?! E há uma aceitação crescente e uma tolerância - e uma justificação! – da parte de muitos homens da Igreja, e as vezes da parte de conferências episcopais inteiras.
E alguns Papas precedentes, tendo uma dívida com este pensamento modernista que triunfou no concílio, não se atreveram, graças a Deus, a irem contra esta ordem moral, matrimonial e sacramental. Esta barreira agora desapareceu. E até onde chegaremos, não se sabe. Porque justificando isto, o que é que não se pode justificar? Já que todo o resto é, relativamente, menos mau.
É um processo revolucionário que destrói absolutamente todo o dogma cristão, na Fé, no culto, a moral, os preceitos e mandamentos de Deus inscritos, inclusive, na natureza do homem, e ainda por cima, algo que os Papas precedentes tampouco ousaram tocar, destrói a constituição sacerdotal e hierárquica da Igreja Católica. Autoridades que são anticlericais! Que são anti-romanas, que destroem e vão demolindo a própria autoridade sacerdotal, episcopal, pontifical, a romanidade da Igreja. A Igreja está fundada sobre Pedro, que deve confirmar seus irmãos na Fé, e não semear a confusão e o erro. Mas é o que estamos vivendo, é patente, e é uma conclusão lógica dos princípios que se assentaram já, fazem 50 anos. Há uma vontade de introduzir na Igreja, contra o que foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo Ele mesmo, um espírito democrático, mas de democracia liberal, igualitária e não-discriminatória, é claro.
Neste processo, vemo-nos com este famoso sínodo, que já se concluiu no nível paroquial e no nível episcopal, e cujas conclusões são de deixar qualquer um estupefato, atônito, diante destas conclusões que eles estão tirando e das mudanças que estão pedindo. Teremos no ano que vem, em outubro, o sínodo dos sínodos, e veremos quais conclusões serão impostas a toda a Igreja. Mas este processo, por si só, já está destruindo a constituição hierárquica e sacerdotal da Igreja. É um processo revolucionário. Como disse o Sumo Pontífice há pouco tempo, a Igreja, a hierarquia é como uma pirâmide... para ele, é preciso, virar de cabeça para baixo a pirâmide, ou seja, dar o governo ao povo, e porem- -se todos à escuta do povo, que é infalível. Povo cuja Fé eles corromperam durante 50 anos, e que não sabe nem o que é a Fé católica. Este é quem vamos escutar para que nos diga o que é católico e como deve funcionar a Igreja conforme a este mundo, ao espírito deste mundo, e este é o processo que estamos vendo na Igreja.
No meio, então, desta situação, estão as circunstâncias em que devemos viver neste mundo, sobre as quais não vou estender-me, mas com tudo isso da famosa “pandemia”, e de todas as medidas que tomaram, com toda esta tensão, confusão e impedimento para exercício do culto, para participar no culto, para o ministério sacerdotal, e com a introdução de sistemas muito aperfeiçoados de supervisão, controle e vigilância... de perseguição. E, no entanto, nestes dois últimos anos – e isto é o que na realidade eu queria contar – há um crescimento na Tradição como nunca foi visto. Quando menos foi possível fazer, é então que há mais frutos! Muitíssima gente de boa-fé, a parte mais sã da Igreja que podemos chamar de oficial, volve-se à Tradição, e muitas vezes inclusive, vem para a Fraternidade. E são fenômenos universais, no mundo todo, admiráveis. Há priorados em que passamos de 80 pessoas para 400, em dois anos, outros de 400 para 1000, e assim poderia dar-lhes muitos casos. Há um crescimento das vocações, sacerdotais, religiosas, em todas as congregações da Tradição. Há famílias inteiras que voltam e passam, por assim dizer, para a Tradição.
Quer dizer que, ao mesmo tempo, vivemos um momento de graça. Isto deve encher-nos de confiança, porque isto é uma prova de que Deus permite os males, sempre, tendo em vista outros bens, bens que são maiores que os impedidos pelos males. Deus quer diretamente o bem, ou permite os males, porque nada lhe escapa. Não é que haja algo que escape à Providência, que é infalível e onipotente, mas sim que Deus ordena tudo para o bem de sua Igreja e ao bem dos eleitos. Isto é o que palpamos. A cruz é o que dá fecundidade na vida espiritual, na vida da Igreja. As provas e perseguições, Deus as permite, sempre, para dar-nos graças, dons e bens. Simplesmente temos de ter a Fé, para buscar e nos dispor para receber estes bens que Deus ordena àqueles que O amam.
São Paulo diz: “Tudo coopera para o bem dos que amam a Deus.” Epístola aos Romanos, no maravilhoso capítulo oitavo, Deus faz com que tudo concorra para o bem dos que o amam, e Santo Agostinho com Santo Tomás dizem: “Inclusive, inclusive os pecados.” Os nossos pecados e até os pecados de outra pessoa, deus os ordena, se O amamos ou voltamos ao seu amor, esta é a condição, Deus ordena tudo ao nosso bem.
Então, temos de ter um espírito sobrenatural, e ver em tudo esta ação da Providência, que em toda a cruz, pequena ou grande, uma doença, um sofrimento, um problema familiar, social, político, mundial, eclesiástico, Deus permite absolutamente tudo para um bem maior que o impedido.
Então toda esta mesma crise da Igreja, Deus a está permitindo tendo em vista alguns bens, claro, não sempre dos mesmos que sofrem os males, mas o bem dos eleitos e daqueles que amam a Deus, esta é a condição da nossa parte, permanecer no amor que Deus tem para conosco, permanecer no amor de Jesus Cristo como Ele nos disse. Permanecemos enquanto O amamos, e ao amá-lo cumprimos sua vontade, porque poder cumprir a vontade, os mandamentos e os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma consequência do amor que lhe temos, não é a causa, é a consequência. Não significa que amo a Deus por que guardo os mandamentos, mas guardo os mandamentos na medida em que amo a Deus, em que amo a Jesus Cristo. E se permaneço neste amor, São Paulo diz: “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” Não há nada a temer. E acrescenta: “Absolutamente nada pode separar-nos do amor de Cristo.” Do amor de Cristo por nós.
E considerando todas as coisas que existem e por existir que poderiam romper este amor manifestado na cruz, de Deus para conosco, ele diz: “Nada, absolutamente nada, e nenhuma criatura, pode separar-nos do amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus.” Precisamos crer neste amor, como diz São João: “Credidimus caritati - Cremos neste amor”. Mas devemos, além disso, confiar e esperar neste amor de Deus, sabendo que todo o mal que Deus permite, inclusive em nossa vida pessoal e privada, até a menor dificuldade, Deus o permita em vista de um bem, que é preciso saber buscar, e ao qual é preciso saber dispor-se, mediante a Fé, a Esperança e a Caridade, é a vida teologal, que nos ordena a Deus.
Amanhã celebraremos a festa do Imaculado Coração de Maria, e verão que a epístola foi tirada do livro da Sabedoria, e indica de maneira admirável e maravilhosa, qual é o ofício da Santíssima Virgem com respeito a nós na ordem espiritual. Para com cada um de nós, e para com a própria Igreja.
“Eu sou a mãe do belo amor, do temor, do conhecimento e da santa esperança.” A Santíssima Virgem nos engendra a esta vida sobrenatural e teologal, e é a Mãe, em nós, da Caridade, do belo amor, isto é, de uma caridade e um amor puros, totais, íntegros, sacrificados, entregues. Do temor de Deus, que inspirado pela caridade não é um temor servil, não somos escravos, somos filhos, e Deus é um Pai, providente, mas é Deus, ao qual devemos respeitar... e temer! E devemos temer perde-lo. Mãe do conhecimento, isto é, da sabedoria, da inteligência, da Fé, pela qual acedemos a este conhecimento de Deus, dos mistérios de Deus, dos mistérios sobrenaturais, dos mistérios de graça, dos mistérios de glória, Mãe do conhecimento. E Mãe da santa esperança, ou seja, de uma esperança que não tem uma mira puramente terrestre e humana, mas sobrenatural e eterna, esta é a santa esperança, e uma santa esperança que é inquebrantável, que não duvida, precisamente, deste cuidado infalível da providência do nosso Pai dos céus.
A epístola continua e atribui outros frutos à Santíssima Virgem: “Em mim está toda a graça da doutrina e da verdade.” A doutrina espiritual, a doutrina da vida, e a verdade que é de conhecer qual é a vontade de Deus em minha vida. “Em mim está toda a esperança de vida e de virtude.” Quer dizer, da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Deus, a vida da graça. E as virtudes, são as virtudes sobrenaturais. “Vinde a mim todos os que me desejais, e saciai-vos de meus frutos, meu espírito é mais doce do que o mel.” Não somente a alma da Santíssima Virgem é cheia de frutos, mas é ainda doce, consoladora. “O meu espírito é mais doce do que o mel e o possuir-me é mais doce que o mel e que o favo de mel.” E logo termina-se esta epístola dizendo: “Aquele que me escuta não será confundido.” E como precisamos nestes tempos, justamente cheios de confusão, de não sermos confundidos. “Aquele que me escuta não será confundido, quem obra por mim não pecará, e quem me torna conhecida, alcançará a vida eterna.” Quer dizer, temos de recorrer à Virgem, como à nossa Mãe na ordem da graça, em toda esta ordem, e buscar nela estes bens, porque Ela é nossa Mãe, porque é Medianeira universal. Mas também temos de ser servidores, vassalos e apóstolos do Coração de Maria e da Santíssima Virgem, para que ela assim, desta maneira, seja o caminho que nos conduza até Nosso Senhor Jesus Cristo, e até Deus.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém
Dom Alfonso de Galarreta
Hoje mais do que nunca trata-se de um combate, um combate sem trégua, sem piedade, mas é também ao mesmo tempo o único combate que vale a pena, que nos dá o entusiasmo e a paz.
Penso que foi Santo Agostinho quem definiu, melhor que ninguém, quais são as regras desse combate, da história da Igreja, da história da humanidade.
E a primeira regra que ele dá é que há dois amores opostos: o amor de si mesmo até ao desprezo de Deus, o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo. Nós somos o que amamos.
E este combate é o combate de todo o homem necessariamente, quer se queira ou não, é a oposição entre o homem carnal e terrestre e o homem espiritual. É o combate que todos nós experimentamos.
É o homem egoísta ou o homem caritativo.
É o amor próprio, o amor de si ou, pelo contrário, verdadeiramente, o amor de Deus, o amor do próximo.
É o individualismo ou é o cuidado pelo bem comum, quer seja no seio da Igreja, da família, da sociedade.
É esta luta que se desenrola ao longo de toda a história e isso mostra-nos, pois, em primeiro lugar, a importância da caridade.
A caridade é o motor da nossa vida cristã, é verdadeiramente o desafio dessa vida.
A nossa vida é finalmente uma questão de caridade: o que se ama, e de que maneira se ama.
Pois o cristão deve antes de tudo exercitar-se na verdadeira caridade e, por aí, é preciso chegar ao desprezo de si.
Chamou-se a Santo Agostinho o doutor da graça, porque pôs em destaque a importância da graça.
É verdade finalmente que todo o desafio é o sobrenatural, a graça, e o sacerdote não faz senão dar, espalhar a graça de Deus, é essencialmente a sua função.
É isso que foi deixado de lado hoje pela igreja conciliar.
O sacerdote está ali para levar, dar, espalhar o sobrenatural.
E na medida em que o sobrenatural, portanto, a graça de Deus, fica bem estabelecido nas nossas almas, na medida em que a graça cresce, se desenvolve, pois bem, nessa medida é-se invencível!
Por quê? Porque pela graça tem-se Deus em si. Pela graça Deus está em nós! Ora, Deus não pode ser vencido.
Portanto fareis triunfar profundamente esta graça de Deus nas vossas almas e ter sempre um olhar sobrenatural; se não sossobra-se no desencorajamento, sossobra-se no ativismo naturalista, que é muito perigoso.
O terceiro princípio que coloca Santo Agostinho para explicar as leis que regem necessariamente a história da Igreja e a história da humanidade é o primado de Cristo.
Não há outra fonte da graça senão Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele é o centro e o fim da história.
É por isso que Santo Agostinho chama a toda a história antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo a "história profética ".
Era para preparar e anunciar a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sua encarnação, a Sua redenção.
E depois de Nosso Senhor Jesus Cristo o fim é o Seu triunfo e o Seu triunfo vai-se realizar quando da Sua segunda vinda, a Parusia.
É então que terá lugar o triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo e, enquanto se espera, edifica-se, constrói-se a Jerusalém celeste, a Igreja definitiva, a Igreja para sempre.
Fora de Nosso Senhor Jesus Cristo não há salvação, fora de Nosso Senhor Jesus Cristo não há paz; portanto não há felicidade, não há vida feliz fora de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E o sacerdote deve deixar-se apaixonar por este ideal!
É preciso dar Cristo às almas, é preciso trabalhar no reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo por toda a parte.
O quarto princípio para Santo Agostinho e para nós é o de que não há fatalismo na vida, na história, não há determinismo, tão pouco há acaso. Tudo é Providência divina, tudo, absolutamente tudo!
É preciso convencermo-nos disto!
Das maiores às mais pequenas coisas, tudo é querido por Deus.
Não há nada que Lhe escape, nem na ordem natural nem menos ainda na ordem moral sobrenatural.
Finalmente, a história não é outra coisa senão o desenrolar dos desígnios eternos de Deus.
Bem entendido, inclui-se a nossa liberdade, Deus criou-nos livres.
Uma coisa impede a outra, mas os desígnios de Deus cumprem-se ao longo da história infalivelmente, necessariamente, se não Ele não seria Deus!
E isso deve dar-nos uma grande confiança, porque todos os males, de ordem natural e mesmo de ordem moral, estão previstos e permitidos por Deus.
Não somente contribuem para o bem do universo, mas têm um fim; são ordenados ao bem e ao cumprimento da Sua vontade, que é finalmente a salvação das almas e o triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
"Tudo foi criado para o homem para Cristo, Cristo para Deus".
E hoje poderíamos juntar ainda uma outra lei que rege a história, porque isso nos foi progressivamente desvelado no decurso dos tempos, no decurso dos séculos, e sobretudo no nosso tempo: é o papel e o lugar da Santíssima Virgem Maria no triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo e na salvação das almas, um lugar, um papel de eleição: tudo estava confiado ao Coração de nossa Mãe.
O bom Deus teria podido fazer doutro modo, mas por que quis fazê-lo assim? Para nos amparar nas nossas fraquezas, nas nossas misérias, nos nossos medos!
Que há de mais terno e de mais atraente do que uma mãe, compassiva, misericordiosa?
E é evidente que estas perfeições, que estão na Santa Virgem Maria, são perfeições divinas, participadas por uma criatura.
Se a Santa Virgem é como é, foi simplesmente porque o Bom Deus quis manifestar nela duma maneira mais brilhante e mais adequada a nós algumas das Suas perfeições.
Era uma vantagem em relação a nós, porque eu diria: Nosso Senhor, mesmo tão bom, tão doce, tão misericordioso no Seu Sagrado Coração, é sempre Deus e isso faz-nos sempre um pouco de medo.
Ele quis dar-nos a Santíssima Virgem Maria e confiar à sua Mãe a consumação dos desígnios que Deus tem na história da Igreja, na história da humanidade.
E quando nós olhamos para a obra de Monsenhor Lefebvre, é precisamente isso: compreendeu as intenções da Providência.
Tinha uma poderosa caridade; penso que todos nós o podemos testemunhar.
Era muito sobrenatural, pregava a tempo e a contratempo os temas da graça; estava verdadeiramente votado ao triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo pela Cruz, pelo Santo Sacrifício, pelo Seu Reinado, pois que Ele é rei; seguia sempre a Providência e não se tomava pela Providência.
Tinha uma verdadeira piedade por Nossa Senhora, sem deslocar o Seu lugar e o Seu papel para o centro do dogma católico e do combate, é de resto o que Ela deseja, mas dando-Lhe plenamente o lugar que deve ter neles.
Ele apresenta-nos assim um exemplo extraordinário: como simplesmente, humildemente pode uma pessoa pôr-se verdadeiramente ao serviço de Deus, ser dócil, nas mãos de Deus para defender o que é preciso defender.
É preciso ter esta vontade de se converter profundamente e de se pôr ao serviço de Deus como Deus o quer.
Neste domínio e hoje mais do que nunca, não convém ficar dentro do labirinto das misérias e das mesquinharias humanas.
É preciso estar por cima, ter um olhar sobrenatural.
Não convém tomar o lugar de Deus, não convém querer resolver por nós próprios os problemas que o Bom Deus permite e que tem permitido, porquanto Ele tem outros fins.
Quais são os Seus fins? Nós não sabemos nada disso.
Permitindo os males presentes hoje na Igreja, por um lado isso pode servir de mérito e de acréscimo da virtude daqueles que são fiéis, para se exercerem em certas virtudes, como a humildade, a paciência, para obter méritos para a eternidade, a menos que Deus não nos prepare para outras provas e que seria em definitiva simplesmente um pouco de treino de nossa parte - nós não o sabemos!
Quanto aos maus, por outro lado, o Bom Deus sabe também o que faz para a emenda deles, como um castigo, como uma punição.
Em todo o caso, é sempre Ele quem governa isso, quem o permite, e não somos nós multiplicando-nos por uma atividade natural e vistas humanas que vamos resolver seja o que for.
E quando Ele quiser, sem mais esforços que isso, então tudo entrará na normalidade, dentro da Igreja e no mundo.
Mas para nós este combate pessoal continua, para fazer triunfar a caridade, a graça de Deus, o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo e isso deve em seguida traduzir-se num espírito, num ardor apostólico em fazê-lo.
E uma vez que se fez o seu dever, que se fez tudo o que se pode, pois bem, demos graças a Deus.
Agradeçamos ao bom Deus termos o que temos e façamo-lo frutificar.
Então peçamos neste dia à Santíssima Virgem Maria que nos dê aquela visão tão sobrenatural e tão alta que Santo Agostinho teve e que teve também o nosso querido e venerado fundador Monsenhor Lefebvre.
Diante das interpretações absurdas publicadas na internet, em sites e blogs do Brasil, pareceu-me necessário trazer para os nossos leitores o texto traduzido dessa importante conferência. Uma das causas dessas equivocadas interpretações é o fato de se ter apenas lido a transcrição em espanhol, sem terem escutado o áudio em francês. Cheguei a pensar em produzir legendas para acompanhar o áudio, mas não nos foi possível. Assim, apresento aqui o texto em português, traduzido diretamente do áudio em francês, acrescido dos meus comentários, entre colchetes e em itálico. Recomendamos ao leitor que mesmo não conhecendo o francês, que leia a conferência ouvindo o áudio: http://www.laportelatine.org/mediatheque/audiotheque/audiotheque2012.php, pois as pausas, entoações, insistências, mostram o valor de cada frase, de cada parágrafo, na tranquila e elevada exposição do autor. E que esse esforço da Permanência sirva para eliminar definitivamente a injuriosa acusação feita contra Dom Galarreta, de que teria traído, mudado de posição, e se inclinado a fazer um acordo prático com Roma.
Dom Lourenço Fleichman OSB
Leia a transcrição da conferência com comentários
Econe, 3 de junho de 2001
Eu queria vos dar meu ponto de vista no que concerne os contatos que temos com Roma. Roma deu uma resposta oficial por escrito onde as duas condições que tínhamos posto foram recusadas. Desde o começo queríamos uma discussão sobre os problemas da fé, sobre a apostasia atual, sobre a doutrina, a teologia... As autoridades romanas quiseram imprimir uma orientação prática aos contatos, puramente prática. Isto não nos interessava mais tanto, porque sabíamos qual seria o resultado. Nesta carta então, o Vaticano põe, de um modo implícito, as condições de sempre, a saber, aceitar o Concílio, aceitar a Missa nova, a nova liturgia. Abreviando: aceitar todas as reformas e desenvolvimentos provenientes do Concílio. Como vocês vêem, volta-se as condições de sempre. O que é evidentemente impossível de aceitar. Eles nos dão e nos tiram: é um passo de caranguejo. Ele propõe nos reconhecer tais como somos, mas proíbe de nos opormos às reformas. Para nós é precisamente uma condição sine qua non. Nós lhes dissemos: já que os senhores querem colocar-se num ponto de vista puramente prático deixando de lado a doutrina, reconheça-nos tais como somos e dêem-nos a liberdade de falar contra todas essas coisas. Eles, por outro lado, põe a mesma condição mas no sentido contrário! Então o problema de fundo ressurgiu! Naturalmente, já esperávamos.