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Category: Pe. William J. SlatteryConteúdo sindicalizado

O Apóstolo da Califórnia

Pe. William J. Slattery

O sacerdote que veio a estabelecer a Missão em San Diego em julho de 1769 não parecia destinado a se tornar o Apóstolo da Califórnia. Junípero Serra (1713-1784) media apenas 1,57m de altura, tinha já 56 anos de idade e sofria de asma. Além disso, sua perna esquerda vivia o tempo todo inflamada com enormes úlceras varicosas, causando-lhe também crescentes dores no peito. Era natural que o cirurgião Don Pedro Prat lhe recomendasse algum descanso para minorar aqueles incômodos, mas “descanso” era uma palavra que não se encaixava muito bem no vocabulário de Junípero Serra. Foi só quando o grande homem jazia morrendo, que lhe ouviram murmurar: “Agora irei descansar.”

Num período de 15 anos, apesar de todos os obstáculos interpostos pela saúde, por conquistadores ambiciosos e por um território ainda não mapeado, esse coração heróico e gênio organizador, ao mesmo tempo desbravador, colonizador e construtor de civilização, um dos maiores pioneiros a explorar o solo americano, trabalhando 18 horas por dia, cobriu milhares de milhas para fundar as Missões que um dia se tornariam as cidades da Califórnia.

 

O que a Califórnia deve a seu Apóstolo

E lá ia esse frágil e franzino padre, de sangue-quente, mancando cansado pelos caminhos ásperos, cruzando de cima a baixo Las Californias. Os que o acompanhavam, faziam-no alegremente, sabendo que ali estava um dos grandes da terra; não apenas uma vontade indomável, mas um coração de pura ternura, um homem que trazia paz ao justo, mas que cuspia fogo sacerdotal sobre políticos e soldados se desobedecessem ao seu aviso austero: “Fiquem longe dos índios.”

A Califórnia deve muito a seu Apóstolo e aos outros 146 sacerdotes que dedicaram suas vidas à fundação e ao desenvolvimento das primeiras cidades da região. Sessenta e sete desses padres viveram e morreram nas Missões, enquanto os outros, após seus dez anos de serviço, foram designados para outras tarefas ou tiveram de voltar à Espanha por motivo de saúde. Aquilo que o historiador protestante Herbert E. Bolton diz sobre o co-fundador da cidade de San Francisco poderia ser dito de todos aqueles padres:

“O Frei Palóu era um estudante dedicado, cristão devoto, discípulo leal, viajante incansável, missionário zeloso, firme defensor da fé, pioneiro engenhoso, bem-sucedido construtor de Missões, hábil administrador e historiador da Califórnia.”

Junípero Serra nasceu na Ilha de Majorca e entrou na Ordem franciscana aos 16 anos. Após sua ordenação, ensinou teologia e obteve fama como pregador influente. Em tudo isso, ansiava por ser um missionário no Novo Mundo. Foi só em 1749 que a Ordem permitiu que cruzasse o Atlântico em direção à cidade do México. Em 1767, começou a trabalhar na área da Baixa Califórnia, onde Missões haviam sido fundadas pela Companhia de Jesus.

Em 1769, viajou para a Alta Califórnia. Em San Diego, estabeleceu a primeira das 21 Missões que se alinhariam no chamado El Camiño Real, a estrada de 600 milhas (966 km) que ia desde San Diego no sul, passando pela Missão San Francisco Solano em Sonoma, até o norte. Numa rápida sucessão, seja pessoalmente ou sob sua supervisão, outras oito Missões foram estabelecidas: San Carlos Borromeo (1770), San Antonio de Padua (1771), San Gabriel Arcángel (1771), San Luís Obispo de Tolosa (1772), San Francisco de Asís (1776), San Juan Capistrano (1776), Santa Clara de Asís (1777) e San Buenaventura (1782). Seus companheiros padres fundaram depois mais 12 Missões. Em 1784, aos 70 anos de idade, após viajar 24.000 milhas, o Apóstolo da Califórnia morreu na Missão San Carlos Borromeo.

A cidade de San Diego já havia sido batizada em honra a San Diego de Alcalá em 1602, quando uma expedição de mapeamento, liderada por Sebastián Vizcaíno, parou naquela localidade para celebrar a Missa no dia da festa do santo. Entretanto, foi em 16 de julho de 1769 que o padre Serra plantou a cruz em Presidio Hill, fundando a Missão lado a lado com o posto militar que havia sido estabelecido ali três meses antes, tornando-a o primeiro assentamento europeu permanente na Costa do Pacífico dos Estados Unidos. Os colonos chegaram em 1774 e, entre altos e baixos, por volta de 1797 a Missão havia se tornado a maior da Califórnia, com uma população de mais de 1.400 pessoas.

O lugar onde hoje se encontra a cidade de Los Angeles foi observado com atenção pelo Pe. Juan Crespi, que, em 2 de agosto de 1769, escreveu em seu diário que o local tinha potencial para um belo assentamento. O padre era membro da expedição de Gaspar de Portola, que viajava pela Alta Califórnia procurando lugares adequados para Missões. A expedição entrou no que agora é Los Angeles através de Elysian Park e foi bem recebida por oito nativos americanos. O Pe. Crespi registrou em seu diário:

“Após viajar cerca de uma légua e meia através de uma passagem entre algumas colinas baixas, entramos num vale muito espaçoso, bem desenvolvido com choupos e amieiros, entre os quais corria um belo rio de norte para noroeste que, virando depois de uma colina íngreme, seguia para o sul.”

Apesar de terem experimentado três tremores de terra durante sua breve estadia, o consenso foi de que era um “lugar encantador” e que tinha “todos os requisitos para um grande assentamento”.

 

A Missão de San Gabriel

 

Em 1771, o Pe. Serra instituiu a Missão de San Gabriel Arcángel, próxima a Whittier Narrows, no que hoje é conhecido como San Gabriel Valley. Graças à recomendação do Pe. Crespi, o governador espanhol da Califórnia, Felipe de Neve, decidiu fundar um assentamento lá. Em 5 de setembro de 1781, 44 colonos, “Los Pobladores”, acompanhados por dois padres, quatro soldados da colônia e o Governador, estabeleceram a cidade chamada El Pueblo de Nuestra Señora la Reina de los Ángeles del Río de Porciúncula. Dois terços desses colonos eram mestiços; um tributo à integração étnica promovida pelos sacerdotes católicos nas Américas.

O local da atual San Francisco foi descoberto em 1º de novembro de 1769 pelo Pe. Juan Crespi e Don Gaspar de Portola, acompanhados por um grupo de soldados, enquanto viajavam para o norte a partir de San Diego. De 6 a 11 de novembro, o grupo acampou em torno de uma sequóia gigante (palo alto), e o padre anotou em seu diário que lá havia “um ancoradouro muito grande e adequado.” Três anos depois, em 1772, o Pe. Crespi e o Tenente Pedro Fages seguiram viagem ao longo da costa leste da Baía de San Francisco: os primeiros homens brancos a caminhar pela região das atuais Oakland, Berkeley, Richmond, Hayward e San Leandro.

Em 29 de setembro de 1775, Juan Bautista Anza e o Pe. Pedro Font lideraram 200 colonizadores pioneiros no primeiro estágio de sua jornada de 1.600 milhas desde Sonora e Sinaloa até a Baía de San Francisco. Pe. Font, um catalão, era um homem de muitos talentos. Além de saber manusear a balestilha, instrumento que permitia aos viajantes determinarem sua latitude por meio de observações da altura do Sol, o padre também trouxe a música para alegrar o coração dos cansados viajantes nas noites californianas com o seu saltério, um tipo de harpa. Em Monterey, ele e Anza deixaram o grupo momentaneamente para irem além e selecionarem a localização exata para a Missão e para o Forte na Baía de San Francisco. Em 28 de março de 1776, o Presidio (Forte) foi fundado. Em 29 de junho, o Pe. Francisco Palóu e o Tenente José Joaquin Moraga fundaram a Missão de San Francisco. O assentamento ficou conhecido popularmente como Misión Dolores, devido ao riacho próximo chamado Arroyo de Nuestra Señora de los Dolores. Pedro Font escreveu o seguinte sobre o local escolhido para a Missão:

“Cavalgamos cerca de uma légua para o leste (desde o Presidio), um de nós na direção lés-sudeste, o outro na direção sudeste, passando por colinas cobertas por arbustos e por vales de uma terra agradável. Assim chegamos a duas lagoas e a vários mananciais de boa água, encontrando também muita grama, funcho e outras ervas salutares. Quando chegamos a um adorável riacho, o qual, por se tratar da Sexta-Feira da Paixão, chamamos de Arroyo de Los Dolores... nas margens do riacho... descobrimos muitas camomilas perfumadas e outras ervas, e muitas violetas selvagens. Próximo ao regato, o tenente plantou um pouco de milho e grão-de-bico para testar o solo, que para nós parecia adequado.”

A cidade que hoje se chama Ventura foi originalmente denominada San Buenaventura, em honra ao Doutor da Igreja do século XIII. Em 31 de março de 1782, o Pe. Junípero Serra fundou aquela Missão, na presença do Governador, Don Felipe de Neve, e do Tenente José Francisco de Ortega.

A cidade de Santa Barbara deve seu nome a Sebastián Vizcaíno, que, em 1602, deu-lhe esse nome em agradecimento à santa, por sua intercessão durante uma violenta tempestade. Em 4 de dezembro de 1786, o Pe. Fermin Lasuen, sucessor do Pe. Serra, fundou a “Rainha das Missões” numa área montanhosa, uma milha a nordeste do forte, com uma esplêndida vista para o vale e para as águas. Em torno dela, agrupou alguns tijolos de argila: o núcleo da futura cidade. Os padres também construíram um sofisticado sistema de fornecimento de água — ainda parcialmente em uso hoje em dia — com um aqueduto de pedra que levava água de um riacho represado nas colinas até a Missão, onde havia até um sistema filtragem para fornecer água potável.

 

A Conversão dos Nativos

Graças ao Pe. Junípero Serra, muitos nativos americanos vieram a conhecer e a amar Jesus Cristo. O padre procurou sempre, em meio a todas as limitações sócio-políticas da Espanha colonial e ao jeito de pensar típico da época, trazer apenas a verdade e a bondade para os nativos californianos. Um empreendimento sucedia a outro num transbordamento de ardentes esforços para oferecer àquele povo Missões que fossem auto-suficientes, nas quais eles estivessem protegidos dos colonizadores e prosperassem tanto materialmente quanto espiritualmente. Por volta de 1830, cerca de 40.000 católicos nativos americanos “possuíam quase 400.000 cabeças de gado, mais de 300.000 porcos, ovelhas e cabras, 62.000 cavalos, e fazendas que produziam mais de 120.000 alqueires de grãos; mais a produção de pomares, hortas, lagares, teares, lojas e forjas.”

O chefe dos Kechis em San Luis Rey contou a John Russell Barlett, um comissário do governo dos Estados Unidos que trabalhou na Califórnia no período entre 1850 e 1853, “que sua tribo era grande e o seu povo, feliz, quando os bons padres estavam ali para protegê-los. Que cultivavam o solo, ajudavam na criação de grandes rebanhos de gado, aprendiam a ser ferreiros e carpinteiros, assim como outros ofícios; que tinham abundância de comida, e eram felizes... Agora estavam dispersos, e ele não sabia por onde andavam, sem casa e sem protetores, passando fome e em condição miserável.”

 

A Formação de uma América Católica

Um exame dos feitos de Eusébio Kino, Júnipero Serra e outros padres pioneiros mostra não apenas como eles desbravavam a terra e fundavam assentamentos, mas também como contribuíram para a formação de uma cultura católica em extensas regiões do Canadá e dos Estados Unidos, o que desmente a quimera sobre as origens quase exclusivamente protestante e anglo-saxã dessas nações. A fundação do primeiro assentamento permanente inglês em Jamestown em 1607 e a chegada do navio Mayflower com os Peregrinos em 1620 certamente foram eventos importantes no início da colonização dos Estados Unidos. Mas no Sul e no Oeste, outra cultura sofisticada, e católica, já havia nascido com o estabelecimento da primeira cidade da nação, St. Augustine na Flórida (1565), seguida em 1608 por Santa Fe aos pés das Montanhas Sangre de Cristo.

Portanto, ainda que nos orgulhemos, por exemplo, da arquitetura colonial em Nova Inglaterra, não podemos deixar de nos encantar com as linhas puras dos edifícios brancos de estilo espanhol no Texas, Arizona, Novo México e Califórnia. Estes devemos aos católicos que os legaram à nação como uma herança que é tão caracteristicamente americana quanto a arquitetura colonial da Nova Inglaterra.

E o que uma mente livre de preconceitos pode pensar ao contemplar as amáveis Missiones da Califórnia? Certamente, em meio às limitações de tudo o que é humano, elas constituíram os empreendimentos mais efetivos em termos de integração racial na história dos Estados Unidos, onde os nativos americanos encontraram um oásis de segurança, e onde os padres preservaram o conhecimento das línguas nativas, estilos de vida e trabalhos manuais dos índios por meio de dicionários, gramáticas e histórias que compuseram.

O comissário do governo americano, John Russell Barlett, observou que as Missões da Califórnia conseguiram tanta coisa “não pela espada, nem por tratados, nem por presentes, nem pela ação de índios traidores, que sacrificariam seu próprio povo sem escrúpulo ou remorso em favor de seus ganhos vis... a Companhia de Jesus (e outras ordens religiosas) conseguiram mais resultado na melhoria das condições de vida dos índios, do que o governo dos Estados Unidos desde o estabelecimento do país.” O histórico do catolicismo na integração das raças das Américas, tanto do Norte quanto do Sul, é insuperável. Quanto mais cientes estivermos disso — e de tantas outras realizações de nossos antepassados católicos — mais vigorosamente ressoará em nossos corações o chamado para imitá-los no presente e no futuro.

(The Angelus, Julho-Agosto/2020, tradução: Permanência)

As Raízes Católicas dos Estados Unidos

Pe. William J. Slattery

Ainda que a maioria dos acadêmicos há muito ignorem o fato, desde o início do século XX importantes historiadores não-católicos têm se dedicado a reavaliar as raízes católicas da América do Norte. Entre eles esteve o eminente Herbert Eugene Bolton (1870-1953), intelectual da Universidade da Califórnia que, em 1932, tornou-se presidente da American Historical Association. Honrado com as mais altas condecorações por uma dezena de faculdades e universidades nos Estados Unidos e no Canadá, foi também aclamado internacionalmente, notavelmente por Pio XII, que em 1949 o nomeou “Cavaleiro de S. Silvestre”. Em cerca de 90 publicações, tais como Outpost of Empire (1931), Rim of Christendom (1936) e o discurso The Epic of Greater America, Bolton mostrou que os americanos só poderão entender sua identidade nacional por meio de uma visão holística de todo o contexto pré-colonial e colonial, particularmente das influências espanholas e francesas.

Um terço de seu The Colonization of North America – 1492-1783 é dedicado às expedições e assentamentos católicos que ocorreram antes que os Peregrinos do Mayflower1 desembarcassem em Plymouth em 1620. Seus escritos revelam o pensamento de alguém de fora do catolicismo que freqüentemente se surpreende e admira com vigor aqueles católicos que, com inteligência, ousadia, braços e suor, construíram sociedades regionais católicas que beneficiaram todas as raças norte-americanas. Com a habilidade de um mestre em história, Bolton, juntamente com o agnóstico Francis Parkman entre outros, revelou quão verdadeira foi a declaração de Leão XIII aos americanos: “Os nomes originalmente dados a tantas de suas cidades, montanhas, rios e lagos mostram e testemunham claramente o quanto suas origens foram profundamente marcadas com as pegadas da Igreja Católica.” Ao nos confrontarmos com esses fatos, descobriremos que também houve Pais Fundadores Católicos dos Estados Unidos e do Canadá.

 

Os Vikings católicos que chegaram em terra firme

A saga da presença católica na América do Norte começa em dois lugares: na Groenlândia (entre as brumas da história) e em algum lugar da costa oriental do nosso continente.

A Groenlândia foi colonizada por Érico, o Vermelho, com 14 embarcações de colonos no ano 985 d.C. Em 999, seu filho, Leivo, então com 19 anos, “homem grande e poderoso, de comportamento admirável, sábio e muito justo em todas as coisas”, passou um inverno na corte do Rei Olavo Tryggvason2. Persuadido pelo Rei, Leivo converteu-se à Fé católica. Voltou à Groenlândia na companhia de um padre e, lá chegando, no inverno de 1000-1001, contou à família sobre sua fé recentemente descoberta. Seu pai ficou furioso, mas sua mãe, Thjodhild, abraçou o catolicismo e fundou a primeira capela em Brattahlid, “e lá, ela e aqueles do povo que haviam aceitado o cristianismo, e foram muitos, ofereciam suas preces.” Leivo “logo começou a pregar o cristianismo e a Fé católica pela terra, comunicando a mensagem do Rei Olavo Tryggvason ao povo e dizendo-lhes quanta excelência e glória havia nessa Fé.”

Muitos groenlandeses se tornaram católicos no início do século XII. Em 1124, de acordo com a Saga de Einar Sokkesson, os católicos enviaram uma delegação, chefiada por Sokkesson, ao Rei Sigurdo, o Cruzado3, pedindo que lhes enviasse um bispo residente. O rei propôs Arnaldo, sacerdote da corte real, como primeiro bispo de Gardar (atual Igaliku). Arnaldo, apesar de seus protestos quanto a sua indignidade, foi consagrado pelo arcebispo de Lund, que recebera autoridade de Roma para nomear e consagrar bispos para a região. O novo bispo chegou à Groenlândia em 1126, após um ano na Islândia, e fundou a Diocese de Gardar, a primeiríssima diocese norte-americana.

A diocese floresceu nos 26 anos em que esteve sob a liderança de Arnaldo, uma vez que “o Bispo Arnaldo parece ter sido um típico prelado medieval, humilde e devoto em sua vida privada, mas zeloso e inflexível em qualquer matéria que se referisse aos direitos de seu ofício e de sua diocese.” Ao longo dos anos, os católicos nórdicos construíram cerca de 16 igrejas de pedra, entre elas a catedral de arenito em forma de cruz, de 25m de comprimento, por cujas ruínas ainda podemos caminhar, parar e rezar em mística comunhão com nossos antigos irmãos e irmãs Vikings, cheios de admiração por sua fé.

A Igreja cresceu por três séculos na terra dos fiordes de gelo, planícies floridas e incontáveis geleiras, sob a liderança dos bispos de Gardar, cuja linhagem ao longo dos séculos podemos rastrear nos registros dos arquivos do Vaticano. A população parece ter chegado a cerca de 10.000 pessoas no século XIV.

“No entanto, a alvorada é breve, e o dia muitas vezes não corresponde à sua promessa.” 4. Um declínio gradual tomou conta da Igreja Católica na Groenlândia, causado por questões políticas, econômicas e negligência eclesiástica, exacerbado pelo clima severo e pelo isolamento geográfico. Em 1448, o Papa Nicolau V, preocupado com os relatos de uma Groenlândia sem padres, escreveu que os groenlandeses “têm estado, conseqüentemente, durante estes últimos 30 anos, sem o conforto e o ministério de bispo ou padre, a não ser pela presença de alguns de disposição muito zelosa, e a grandes intervalos, e apesar dos perigos do mar furioso, que se aventuram a visitar a ilha e a administrar-lhes os sacramentos naquelas igrejas que os bárbaros deixaram de pé.” Uma carta do pontífice Bórgia, Alexandre VI (1492-1503), escrita em 1492, apesar de silenciar sobre as causas eclesiásticas e políticas, ainda assim soa um sinistro alarme, lembrando-nos de que o destino da Igreja em qualquer terra ou século depende grandemente das ações e omissões dos homens.

E então aconteceu a misteriosa colonização da costa oriental dos Estados Unidos e do Canadá. A evidência documental é bem insistente: várias fontes antigas narram que monges irlandeses fundaram ali em algum lugar um oásis cristão, que nas sagas islandesas e em suas Crônicas da Groenlândia é chamado Hvitramannaland (Terra do Homem Branco) ou Irland It Mikla (Irlanda Maior), localizado a Oeste no mar, próximo à boa Vinlândia. Durou pelo menos até o ano 1000 com uma ativa presença católica, como se deduz pela narrativa no Landnámabók do islândes pagão Ari Marsson, que, perdido em viagem, lá aportou em 983 e foi batizado.

A arqueologia tem confirmado recentemente que os Vikings tiveram um ou mais assentamentos nas praias orientais dos atuais Canadá ou Estados Unidos, próximos a Irland It Mikla. Leivo, filho de Érico, o Vermelho, em sua viagem de retorno da Noruega para a Groenlândia no ano 1000, saiu do curso e descobriu a área que os Vikings chamaram de “Vinlândia”. Por essa informação, somos gratos aos sóbrios relatos nas sagas de Thorfinn Karlsefni, preservadas em 28 manuscritos. No ano 1003, foi o próprio Karlsefni que fundou uma colônia em algum lugar na costa americana, que, entretanto, acabou após três anos devido a dissensões internas.

Mas existiram outros assentamentos duradouros na Vinlândia, como sabemos graças às descobertas feitas nos anos 1960 sobre uma comunidade nórdica em L’Anse aux Meadows em Newfoundland5. Arqueólogos dataram a idade desse assentamento em 1000 anos. Uma vez que provavelmente a população nórdica da Groenlândia era significativamente católica por volta do ano 1090, a presença católica na Vinlândia é uma hipótese razoável. Há também a insistente referência em seis diferentes pergaminhos das crônicas islandesas mencionando secamente que em 1121 “o bispo Érico partiu da Groenlândia para chegar à Vinlândia.” Érico não era um bispo da Groenlândia, mas um missionário, provavelmente da Noruega ou da Islândia, que tinha ido à Groenlândia para ordenar sacerdotes e exercer outras funções, e que, enquanto lá, decidiu seguir caminho até a colônia da Vinlândia. Nada mais se sabe sobre o misterioso prelado, e, considerando o que sabemos, ele pode ter passado o restante de sua vida edificando a Igreja Católica no continente norte-americano.

Portanto, historicamente podemos dizer que o século XI viu o primeiro altar estabelecido nas costas da Groenlândia e provavelmente também na Vinlândia; que embarcações vikings lançaram âncora, um sacerdote católico pisou em terra firme, fincou a Cruz, e o continente norte-americano ouviu a entoação das palavras sagradas da Missa Tradicional Católica e viu a hóstia branca ser erguida para abençoá-lo e reivindicá-lo para Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Rumo à Flórida, às Montanhas Rochosas e ao Álamo

Cinco séculos depois, outros católicos desembarcaram e se aventuraram pelos ermos, planícies, montanhas, rios e lagos do Novo Mundo, desde St. Augustine na Flórida até Los Angeles na Califórnia, desde o Álamo (“San Antonio de Valero”) no Texas até Le Détroit du Lac Érie6.

Ponce de Léon chegou à Flórida em 1513. Com efeito, o nome da região vem do fato de ter sido avistada pela primeira vez pelos espanhóis na Pascua Florida [Domingo de Páscoa]. Em setembro de 1540, a expedição de Francisco Vásquez de Coronado, da qual fazia parte o Pe. Juan de Padilla, já havia alcançado o Grand Canyon e as Montanhas Rochosas. Em 1542, enquanto estabelecia a primeira Missão católica nos Estados Unidos que conhecemos hoje, o Pe. Padilla foi crivado por flechas nas planícies do Kansas, tornando-se assim o proto-mártir da nação.

Em 21 de maio de 1542, braços fortes sob mantos cobertos de poeira já haviam carregado a cruz na marcha mais longa até então já feita no continente americano, uma vez que sacerdotes acompanharam a expedição de De Soto através da Geórgia, pelas Carolinas, através do Tennessee, Alabama e Mississippi, prosseguindo pelo Arkansas e Oklahoma, Texas e Louisiana. “Se os padres que acompanharam De Soto”, escreve o historiador John Gilmary Shea, “tiveram a chance de rezar a Missa, a marcha do Santíssimo Sacramento e do Preciosíssimo Sangue através do continente foi completa.” De qualquer forma, padres já haviam pregado a Fé em ambos os lados do Mississippi, já cristianizado desde 1519 com o esplêndido nome de “Río del Espíritu Santo”.

O dia 8 de setembro de 1565 ouviu o Pe. Francisco López de Mendoza Grajales oferecer o Santo Sacrifício na fundação da cidade mais velha da nação, St. Augustine na Flórida. Dentro de 100 anos, os incansáveis missionários da região estabeleceram mais de 40 assentamentos para cerca de 26.000 nativos americanos. Os assentamentos chegavam ao norte até St. Catherine’s Island na costa da Geórgia, e recebiam nomes como Ascension, Our Lady of the Rosary e St. Joseph.

Em 1598, nove anos antes de os ingleses desembarcarem em Jamestown, dez frades franciscanos chegaram com Juan de Oñate e colonos espanhóis ao Novo México, que chamaram de Santa Fe. Lá construíram San Gabriel, o primeiro assentamento permanente na área.

Em 1691, Damian Massenet, capelão franciscano de uma expedição ao interior do Texas, acampou na localidade que atualmente é a cidade de San Antonio, cristianizando o novo assentamento com o nome do santo do dia, Antônio de Pádua. O ano 1718 viu a fundação da primeira Missão, “San Antonio de Valero” (mais conhecida hoje como o Álamo). O fundador da Missão de San José foi o Venerável Antonio Margil, popularmente conhecido como “o Padre Voador”, que viajava freqüentemente a pé cerca de 50 milhas por dia, e que deu início a centenas de Missões numa vida de atividades sem descanso, indo das florestas tropicais da Costa Rica até o leste do Texas e as fronteiras da Louisiana.

Entre os pioneiros no Centro-Oeste e no Oeste estavam padres como Francisco Garcés, que, em 1775, liderou os primeiros homens brancos de que se tem registro que entraram em Nevada. No mesmo ano, em Utah, os padres Escalante e Dominguez seguiram o rio que fluía através do Spanish Fork Canyon, chamando-o Río de Aguas Calientes (atualmente o Spanish Fork River). Em 24 de setembro, avistaram o lago e o amplo vale de Nuestra Señora de los Timpanogotiz (atualmente Lago e Vale Utah), que descreveram como “o local mais agradável, belo e fértil em toda a Nova Espanha.”

No século XIX, católicos eram geralmente homens da fronteira, de uma forma ou de outra. Entre eles são notáveis o Pe. Pierre-Jean De Smet, o Apóstolo das Montanhas Rochosas, Pe. Ravalli em Montana e Idaho, e Pe. Lucien Galtier em Minnesota, que construiu uma capela de toras de madeira dedicada a São Paulo em 1841, em torno da qual a cidade de mesmo nome (St. Paul) se desenvolveu.

 

Em direção a Quebec e à América Setentrional e Ocidental

Um exemplo claríssimo de “colonialismo católico”, radiante em sua pureza inicial, foi a fundação do que agora é a cidade de Montreal, na província de Quebec. A inspiração nasceu no coração de um leigo francês conhecido por sua vida de oração mística, Jérome de Dauversière, que estava convencido de que deveria fundar uma Missão na região superior do Rio St. Lawrence. Graças à fervente fé de Paul Chomedey de Maisonneuve, um soldado, e os esforços de 35 franceses que queriam estabelecer um centro de evangelização para os nativos americanos, o projeto decolou. Antes de zarparem, esses bravos homens e mulheres reuniram-se sob o grande Pe. Jean-Jacques Olier, na Catedral de Notre Dame, para consagrarem a si mesmos e seu projeto à Bem-Aventurada Virgem Maria. Ao chegarem ao destino, em maio de 1632, deram a seu assentamento o nome de “Ville Marie” (atualmente Montreal), cantaram o Veni Creator Spiritus e passaram o primeiro dia em adoração ao Santíssimo Sacramento.

Aquilo era o catolicismo em ação: nobres homens e mulheres dedicados a trazer tudo o que fosse bom, verdadeiro e santo a seus próximos na América do Norte, mesmo que isso significasse abandonar sua amada terra e seus parentes na Europa. A pureza de seus motivos e de sua conduta foi uma fragrância sempre presente na história dos outros católicos que fundaram o que se tornou a então intensamente católica terra de Quebec.

Notáveis entre eles foram os “Black Robes7, os padres e irmãos da Companhia de Jesus. Desde o início do século XVII, alguns dos mais admiráveis jovens da França cruzaram o Atlântico para derramar sua vida na América do Norte.

Sua primeira sede foi em Quebec, de onde os jesuítas se espalharam para inaugurar territórios de Missão entre os Hurons em Ontário, Michigan e Ohio; com os Iroquois de Nova Iorque e os Abnakis no Maine; entre os Chippewas, Algonquins e Ottawas no Wisconsin e em Michigan; com os Illinois; e finalmente, entre os Creeks e outras tribos na Louisiana.

O desbravador jesuíta mais famoso foi Jacques Marquette (1635-75). Descrito por seu superior como um homem de “comportamento maravilhosamente gentil”, causou profunda impressão nos nativos americanos, o que é compreensível, pois além de seu natural encanto, aos 38 anos de idade já havia aprendido seis dialetos nativos durante seu trabalho com os Illinois, os Pottawatomis, os Foxes, os Hurons, os Ottawas, os Mackinacs e os Sioux. Sua conduta deixava transparecer um amor excepcionalmente sensível por Deus. Parkman fala de maneira tocante da devoção do padre francês à Imaculada Conceição, em cuja honra nomeou a última Missão por ele fundada, sete semanas antes de sua morte “entre as florestas”.

Em 1673, ele e Louis Jolliet, juntamente com cinco companheiros, partiram de St. Ignace (Michigan) em canoas de casca de bétula em atendimento ao apelo de alguns índios, entre os quais alguns Illinois, que tinham vindo até o padre para pedir-lhe que visitasse sua terra natal próxima a um grande rio. Lançando seus remos nas águas, viajaram mais de 2.000 milhas através do ermo, tornando-se os primeiros europeus a ver e mapear a parte norte do Mississippi, que descobriram desembocar no Golfo do México e não — como se tinha pensado até então — no Pacífico em algum lugar da Califórnia. Em sua jornada, passaram o inverno de 1674 na área que agora é Chicago. Bancroft, escrevendo sobre esses jesuítas, exclama com admiração: “Não se dobrou um cabo, ou se entrou por um rio, mas um jesuíta liderou o caminho.”

Todos os católicos norte-americanos podem reivindicar filiação espiritual dos mártires Isaac Jogues (1607-1646), Jean de Brébeuf (1593-1649) e seus companheiros. Os Hurons chamaram Brébeuf de “Echon”, que significa “árvore que cura” ou “aquele que leva o fardo pesado”, seja porque lhes trazia remédios ou porque o padre, de forte compleição, geralmente carregava mais do que sua parte da carga nas jornadas, ou talvez por ambas as razões. Em 16 de março de 1649, os Iroquois capturaram Jean de Brébeuf e Gabriel Lalemant perto de Georgian Bay. O relato de suas mortes não é para os de coração fraco. Seus captores os amarraram a estacas, arrancaram-lhes o escalpo e os mutilaram, jogaram água fervente sobre seus corpos e aplicaram fogo, colares e machadinhas incandescentes sobre suas peles. Nem um único grito escapou dos lábios de Brébeuf. Os Iroquois, espantados com tamanha super-humana coragem, arrancaram-lhe depois o coração e o comeram, esperando receber algo de seu espírito.

Foi a consumação heróica de uma saga de 15 anos repleta de atos de heroísmo diário, como ele mesmo, de maneira resignada e com um toque de humor, escreveu numa carta de 1636 aos ardentes jovens jesuítas na França que esperavam juntar-se a ele: “Quando forem até os Hurons... vocês chegarão numa época do ano em que as pulgas os manterão acordados durante quase toda a noite. E esse pequeno martírio, para não falar dos mosquitos, biriguis, e outros de mesma linhagem, dura geralmente não menos que três ou quatro meses do verão.”

 

Os Católicos e os Nativos Americanos

As crônicas do Novo Mundo dos séculos XV a XIX abrem uma janela para uma paisagem repleta de padres que simplesmente são figuras maiores que suas próprias vidas: homens que aplicaram suas mentes aguçadas, corações nobres e corpos incansáveis como escudos para a dignidade dos nativos americanos. Eles não devem ser esquecidos jamais. Como em qualquer situação envolvendo homens pecadores, sempre haverá sombras. Entretanto, a verdade que resplandece é que graças a sacerdotes católicos, que abandonaram família, amigos, conforto e cultura para viver com e para os povos do Novo Mundo, a integração racial por meio do casamento, e não a segregação, tornou-se a norma nas Américas, ao menos onde os políticos não bloquearam os esforços da Igreja, como aconteceu na América do Norte anglo-saxã.

Historiadores protestantes e outros intelectuais são críticos da colonização anglo-saxã da América e às vezes chamam a atenção para o quão diferente foi a abordagem católica. C. S. Lewis observou: “Os ingleses... se contentaram com a colonização, que concebiam principalmente como um sistema social de fornecimento de saneamento básico, um alívio para ‘pessoas necessitadas que agora preocupam o império britânico’ e ‘que passam os dias cuidando dos enforcamentos’.” Quão diferente eram os católicos! Como observou o historiador John Tracey Ellis, ao comentar sobre os missionários espanhóis (embora o mesmo pudesse ser dito também dos franceses e dos portugueses):

“Havia um elemento de compaixão pelo pele-vermelha como filho de Deus, na forma de pensar dos missionários espanhóis, que estava completamente ausente na atitude da maioria dos colonos ingleses ao longo da costa do Atlântico. O que inspirava os extraordinários sacrifícios dos missionários, era a convicção de que o índio tinha uma alma digna de ser salva. Isso, e apenas isso, explica a persistência obstinada com a qual os missionários seguiam em frente diante de repetidos reveses e tragédias, tais como o assassinato do Frei Juan de Padilla, seu proto-mártir, nas planícies do Kansas em 1542. Como explicar de outra forma o fato de tantos sacerdotes altamente dotados, como o jesuíta tirolês, Eusébio Kino, e o franciscano de Majorca, Junípero Serra, ambos homens treinados na universidade, terem abandonado seu ambiente cultural para dedicarem suas vidas ao crescimento moral e espiritual desses povos selvagens?”

A cena profundamente tocante, descrita pelo historiador Francis Parkman, de padres jesuítas cuidando dos doentes entre os Hurons, que sofriam de uma epidemia de varíola, repetiu-se milhares de vezes pelas Américas do Norte e Latina:

“Mas quando os vemos, no sombrio fevereiro de 1637 e nos ainda mais sombrios meses subseqüentes, indo a pé de uma vila infectada até a outra, perambulando pela neve encharcada, sob florestas nuas e gotejantes, ensopados pelas chuvas incessantes, até avistarem ao longe através das tempestades as habitações agrupadas de algum vilarejo bárbaro; quando os vemos entrando um após o outro nessas infelizes moradas de miséria e escuridão, e tudo para um único fim, o batismo dos enfermos e moribundos... devemos admirar o zelo abnegado com que o fizeram.”

Não é possível superestimar a importância do que todo esse heroísmo sacerdotal conseguiu. Uma nova raça — os mestiços — passou a existir, nascidos dos casamentos entre católicos europeus e nativos americanos. Sob o ensinamento e a vigilância de tantos sacerdotes, os colonizadores espanhóis, franceses e portugueses reconheceram a igual dignidade dos nativos. Não era só uma questão de discursos floridos, mas de ações concretas. Qual ação poderia ter sido mais concreta do que os milhares de casamentos realizados pelos padres entre europeus e nativos americanos? Eles os casavam, batizavam seus filhos e os educavam. Então vinha a Igreja coroando e selando sua dignidade ao elevar alguns dos nativos ao mais alto grau no catolicismo — o de santo canonizado — como ocorreu com o mulato São Martinho de Porres — a quem todos os católicos, seja negro, mulato ou branco, papa ou camponês, dobram o joelho como a heróis, e rezam como a intercessores.

Se ao menos permitissem à Igreja fazer o mesmo na América Anglo-Saxônica, como ela fez na América Latina! As realizações da Igreja na América Latina apresentam-se como um contraste com a história das relações entre os nativos americanos e os colonizadores no Norte, onde a Igreja, num contexto sócio-político freqüentemente hostil ao catolicismo, foi impedida em seus esforços de evangelização e promoção da integração. É um tanto doloroso lembrar o grau de anti-catolicismo nos Estados Unidos, que impediu a Igreja de levar a cabo sua missão. Mesmo nas 13 colônias, católicos quase não eram tolerados desde o início do século XVIII, apesar do fato de a colônia católica em Maryland, fundada por Lord Baltimore, ter acolhido todos os grupos cristãos. O decreto de 1704 do Parlamento de Baltimore, proibindo os católicos de ensinar, ou mesmo de rezar a Missa em público, causa indignação até os dias de hoje.

Os próprios nativos geralmente reconheciam os benefícios das Missões e, com poucas exceções, amavam os sacerdotes católicos com quem tinham contato. Um relato enviado ao centro missionário da Igreja em Roma (Propaganda Fide) em 1821 dizia: “Eles têm uma grande veneração pelos Black Robes (assim chamam os Jesuítas). Contam como os Black Robes dormiam no chão, expunham-se a todo tipo de privação e não pediam dinheiro.”

Um convicto protestante escocês, Alexander Forbes, apesar de bastante crítico às Missiones em alguns aspectos, mesmo assim dizia:

“A melhor e mais inequívoca prova da boa conduta dos padres franciscanos encontra-se na ilimitada afeição e devoção invariavelmente a eles demonstrada pelos índios que lhes estão sujeitos. Estes os veneram, não apenas como a amigos e pais, mas com um grau de devoção que se aproxima da adoração. Por ocasião das remoções que aconteceram nos últimos anos por causas políticas, a aflição dos índios em se separarem de seus pastores foi extrema. Suplicaram que lhes fosse permitido seguir os padres em seu exílio, com lágrimas e lamentações, e com todas as demonstrações de verdadeiro pesar e irrestrita afeição. De fato, se alguma vez já existiu exemplo mais perfeito, em justiça e propriedade, na comparação do padre e seus fiéis com um pastor e seu rebanho, é no caso de que estamos tratando.”

A diferença católica devia-se à visão de mundo católica. Esta foi sumarizada pelas primeiras palavras no registro de viagem de um dos primeiros exploradores da América do Norte, um leigo protestante convertido ao catolicismo, Samuel de Champlain (1567-1635): “A salvação de uma única alma vale mais do que a conquista de um império.”

(Angelus Press, Julho/2020 - tradução: Permanência)

  1. 1. Assim são chamados os imigrantes ingleses puritanos que partiram da Inglaterra em setembro de 1620 a bordo do navio Mayflower, rumo aos Estados Unidos. [N. do T.]
  2. 2. Olavo I da Noruega (960-1000). [N. do T.]
  3. 3. Sigurdo I da Noruega (1090-1130). [N. do T.]
  4. 4. J. R. R. Tolkien, O Silmarillion, p. 124, Martins Fontes, 2002.
  5. 5. Extensa ilha na costa leste do Canadá. [N. do T.]
  6. 6. “O estreito do Lago Erie”, de onde vem o nome da cidade de Detroit. [N. do T.]
  7. 7. Literalmente “Túnicas Pretas”. [N. do T.]
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