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Editorial

Dezembro 27, 2022 escrito por admin

Carta no. 27 Cristo Rei 2022

Mosteiro beneditino de "Notre-Dame de Toute Confiance"

No meio desse mundo que corre para a sua ruína, ouvimos por vezes as questões seguintes: “Que fazer?”, ou mesmo: “Há algo a ser feito?”

Há séculos o homem oscila entre duas atitudes igualmente desordenadas, que vamos resumir com os termos pelagianismo quietismo. Ou bem o homem crê que lhe cabe salvar-se a si mesmo e resolver tudo sozinho. Ou, ao contrário, crê que não há nada a fazer e que cabe a Deus fazer tudo.

Bem se vê que os irmãos do pelagianismo são o voluntarismo, o autoritarismo e o orgulho humano que diz: EU salvarei o mundo! As irmãs do quietismo são a preguiça, a pusilanimidade, a demissão e a fraqueza humana que diz: “Ah! não sou capaz”. Entre os dois extremos, a sabedoria dos santos nos ensina o justo meio: virtus in médio stat (a virtude está no meio).

Consideremos Santa Joana D´Arc -- cuja vida, bem como o sublime Processo de Rouen, acabamos de ler no refeitório. Na sua simplicidade e inspirada pelo Altíssimo, encontrou a resposta lapidar à questão: “Deus não poderia ter dado a vitória sem a batalha?”. Disse ela: “os homens de armas lutarão e Deus dará a vitória”. E ainda: “Deus não age se o homem não quer”. Os seus contemporâneos testemunhavam: “ela sempre fará tudo o que depender dela”.

Eis a chave: tudo depende de Deus e tudo depende do homem. É esse o sentido do ditado popular: “ajuda-te a ti mesmo, e o Céu te ajudará”. Também é o sentido desse outro ditado: “reza como se tudo dependesse de Deus, e age como se tudo dependesse de ti”. É tão estéril rezar sem agir (isto é, sem se converter, cumprir seu dever de estado, praticar a caridade) quanto agir sem rezar (pois a ação não será fecunda e sobrenaturalizada por Deus). “Eu te criei sem ti, mas não te salvarei sem ti” disse Deus a Santo Agostinho, que nos ensinou: “é preciso fazer o que pudermos e pedir o resto a Deus.”

Santa Teresinha do Menino Jesus diz o mesmo com uma imagem tocante: se uma criancinha tenta subir uma grande escada, põe o seu pequeno pé no primeiro degrau, mas não consegue subir; tenta mais uma vez, e outra, e outra. Após algum tempo, a mãe, com pena da criança, pega os seus bracinhos e faz com que suba  facilmente. Essa criancinha somos nós, que queremos subir a rude escadaria que nos leva à perfeição. É preciso tentar, tentar e tentar, sem esmorecer. Após algum tempo, o Bom Deus, com pena de nós, nos tomará nos seus braços e nos fará subir até Ele – mas, se não tentarmos, não fará nada.

Um outro exemplo mais recente e próximo de nós: nosso professor de canto acabou de nos deixar depois de uma semana de trabalho onde nos repetiu: é preciso cantar com serenidade e energia! Aí está o problema, nós confundimos serenidade com moleza, e energia com rigidez! Pobres de nós! Que Santa Joana d´Arc nos ajude a encontra o justo meio: aliar a paz com a força, a alegria com a cruz, a mansidão com a firmeza, a confiança em Deus com o devotamento ao seu serviço. E para nos encorajar a isso, escutemos o que as suas vozes (S. Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida) lhe sopravam para lhe encorajar: “Mantenha a calma, o rosto sereno e não te preocupe com o martírio.”

Concluímos com Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5), e São Paulo: “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4, 13).

Corações ao alto! Viva Cristo Rei!

 

Irmã Clara, abadessa

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