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O bem comum nas eleições de 2022

Dom Lourenço Fleichman, OSB

A situação do Brasil às vésperas do 2º turno das eleições presidenciais, neste dia 30 de outubro de 2022, nos obriga a refletir sobre o risco grave de vermos o Brasil voltar à lama do comunismo, de um lulapetismo mais agressivo, mais determinado a impor seus rancores e revoltas sobre todo o povo brasileiro. A obra da Revolução conseguiu destruir a vida política de vários países vizinhos, como é conhecido de todos, e eles não querem perder o gigante brasileiro, na sua ambição de dominar o mundo para a obra diabólica que visa a destruição total da Civilização católica. Por isso resolvemos abordar a questão das eleições pelo viés do bem comum, fundamento de qualquer vida política, e sem o qual a pátria se dissolve em populismo ou em tirania. Nosso objetivo nessas linhas não é um estudo teórico do bem comum, apesar de elas conterem algumas explicações sob este aspecto, mas a necessidade prática de usar as armas que nos são dadas para a preservação do bem comum.

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As partes e o todo

Toda sociedade age em busca de um fim. O fato de se agruparem diversas partes em algum tipo de relação, exige que todas almejem o mesmo fim, de outra sorte o agrupamento se desfaria em pouco tempo. Por outro lado, quando compreendemos a necessidade de buscar o fim, a causa final de uma sociedade, chegamos à noção de bem. O homem só poderá se mover em direção ao seu fim se reconhecer nele um bem. O Bem supremo, o bem por excelência, é Deus. Logo todos os homens devem buscar a posse definitiva da Beatitude, na qual encontra o repouso definitivo, a felicidade eterna. Por outro lado, encontramos na nossa vida outros bens menores que nos movem, e mesmo nos obrigam a agir em determinada direção.

Em outras palavras, para alcançar a vida eterna é necessário ao homem passar por esta vida na Terra, na qual ele não está só. Vive em sociedade e deve preservar, dentro dessa sociedade, o bem comum de todos os seus membros.

Permitam-me os leitores me servir de uma alegoria para tentar mostrar como se estabelece uma sociedade movendo-se em busca do seu fim próprio. Imaginem o grupo de astros que compõe o nosso Sistema Solar. O nosso querido Sol é acompanhado por um séquito de nove belíssimos planetas e algumas luas. Aparentemente, existe entre eles uma ordem impressionante que estabelece há milênios os mesmos movimentos tão conhecidos por nós, os quais são essenciais para termos vida na Terra. Todos os astros mantêm-se em seu devido lugar nessa dança em torno do Sol através de uma força invisível que chamamos gravidade, a qual une-se ao movimento iniciado na formação do Sistema Solar para mantê-lo em funcionamento perpétuo.

Agora, imaginem que Deus dê vida espiritual a esses astros, e que a força gravitacional que os mantêm em ordem deixasse de ter sua origem na relação entre as massas e na relação inversa ao quadrado da distância, e passasse a ter sua origem no espírito, na liberdade da sua vontade. Ganhariam consciência aqueles bólidos gigantescos que antes giravam sem saber para onde iam. Poderia um deles, ou um grupo de planetas, sair por aí a buscar novos sóis? Ou um Júpiter aclamar-se como chefe e atrair em volta de si alguns planetas rebeldes? Certamente isso significaria a destruição interplanetária de todo o Sistema. E a própria vida que eles receberam seria destruída, sem contar a vida na Terra. O que teria acontecido? Os traidores deixaram de lado o fim próprio do Sistema Solar e foram em busca de um bem particular, e isso seria a causa de sua perdição.

Ora, os homens são seres espirituais, inteligentes, capazes de ordenar suas vidas segundo certas decisões livres, mas são também obrigados a preservar o bem da sociedade em que nasceram. Há entre os membros de uma mesma família laços espirituais que unem cada uma das partes – os membros da família – ao todo familiar, através de um fim próprio de cada família. Cabe, então, nos perguntarmos por que razão os homens devem se mover, querer, agir, em função desse fim específico da sua família. E a razão, como adiantamos acima, vem do fato de que o fim de um ser é sempre um bem. Quando a alma espiritual está diante de um bem, necessariamente ela se move a ele através de um apetite gerado no fogo de amor que é a vontade livre do homem. 1

Deus é o Bem supremo de todas as criaturas. Todas foram criadas para Si, e devem retornar ao seu Criador através dos seus atos: atos de ser para as criaturas sem vida; atos de viver para os vegetais; atos de agir por seus instintos unívocos, para os animais irracionais; atos do reto agir, voluntário e consciente para os homens; e os atos de obediência a Deus que confirmou os anjos na glória do Céu no grande combate em que São Miguel Arcanjo e os anjos bons precipitaram no Inferno a Lúcifer e seus anjos maus.

Cabe aqui analisarmos alguns aspectos da nossa vida enquanto homens, pelo fato de sermos animais racionais, que carregamos na nossa natureza a necessidade de vivermos em sociedade. Solitários, não conseguiríamos sobreviver e suprir as necessidades diversas da vida.

Se fomos criados por Deus para vivermos em sociedade, logo aparece, ao lado daquele fim último de nossas vidas que é a Beatitude do Céu, outro fim que não nos pertence com exclusividade, mas que é comum a todos os membros da sociedade. Um bem que não é nosso particular, mas comum a todos e contra o qual, se o homem se levanta, comete um crime e um pecado, pois colabora para a destruição daquela sociedade. E do mesmo modo que, ao trabalhar para o bem comum, o homem recebe os benefícios de todos, por fazer parte do todo, assim também, se trabalhar contra o bem comum, colabora à destruição da sociedade e de si mesmo.

As obras que favorecem o bem comum

Por ser um animal político, como o chamou Aristóteles, o homem vive em sociedade. Sua alma imortal possui essa relação espiritual com Deus, a quem deve total obediência e a quem deve agradar. Este ser único e amado de Deus, sendo composto de alma e corpo, deve também cuidar da sua vida material, da sua sobrevivência, sem descurar da sua salvação eterna. Para isso, necessita do auxílio dos demais homens que vivem à sua volta.

Deus quis formar a sociedade a partir da família. Uma pequena sociedade natural onde os homens aprendem a conviver, a trocar, a formar esses laços espirituais que os mantêm em determinada ordem, a qual é o fundamento da perpetuidade da família. O chefe da casa, revestido da autoridade de Deus, quer o bem de todos, e trabalha para isso. Ama a sua esposa e a protege, e compartilha com ela da autoridade para a criação e educação dos filhos. Estes recebem dos pais uma relação de amor que os une fortemente para sempre. É pois, em torno da caridade teologal que se forma ali as virtudes de amizade, obediência, fortaleza, prudência. E como a virtude própria que regula a relação do homem com os outros é a justiça, podemos dizer, sob certo aspecto, que a prática de todas as virtudes dentro da sociedade é a roupagem que protege, alimenta e embeleza a justiça. É, pois, esta força espiritual, a ordem, o fim específico de levar adiante o bem-estar de todos, tanto espiritual quanto material, que funda o bem comum de cada família.

Outras sociedades intermediárias existem também na grande sociedade política, que favorecem as relações entre as diversas famílias, formando um conjunto mais harmônico, mais complexo e mais belo das relações do bem comum. As empresas com seus chefes, seus contratados, sua ordem e seu fim; associações diversas que agrupam homens votados a um mesmo objetivo, quer seja fomentar o conhecimento, como num colégio ou numa faculdade, quer seja proporcionar legítima diversão, como num clube.

Finalmente a sociedade mais perfeita nessa Terra é a unidade política, que abraça todas as demais, e exige de cada um dos seus membros que mantenham os laços espirituais e invisíveis que formam o bem comum daquele povo, daquela pátria. Todo governante deve conduzir o seu povo no sentido de proteger, fomentar e perpetuar a célula básica da sociedade, que é a família, assim como as demais sociedades intermediárias.

A relação dos homens com a sociedade política estabelece também um aprofundamento das virtudes relativas à vida social. Anexa à grande virtude da justiça, os homens desenvolvem a virtude da Piedade, que consiste na reverência a todos os que detêm alguma autoridade na sociedade. A piedade se aplica, portanto, a Deus, em primeiro lugar, ao qual devemos oferecer os atos próprios da virtude de Religião, que são as obras de culto a Deus, da oração e da submissão que devemos à autoridade de Deus manifestada pela Igreja Católica, que recebeu de Jesus Cristo autoridade para santificar, ensinar e conduzir ao Céu pelos atos do seu governo espiritual.

Em segundo lugar, a piedade se aplica aos nossos pais, e a todas as autoridades complementares da paternidade, como os governantes, os professores, padres etc.

Finalmente, a piedade se manifesta na virtude do Patriotismo, pela veneração à Pátria, à terra onde nascemos, que devemos defender, amar e frutificar. Essa virtude do Patriotismo sofreu uma deturpação de sentido a partir da Revolução Francesa, a tal ponto que os homens em geral, e os políticos em particular, já não a compreendem. E não sentem falta dela.

“Sendo o patriotismo uma virtude moral anexa da justiça e inscrita na esfera do 4º Mandamento, é obvio para os católicos que não pode haver vida cristã perfeita onde faltar essa forma de piedade.” 2

Gustavo Corção atribui este esvaziamento da virtude ao tecnicismo político que retirou da vida política a sua integridade moral, a necessidade do agir virtuoso, limitando o papel do cidadão a um utilitarismo ligado à produção, à economia e à eficiência da máquina burocrática. 3

E isso nos leva a tratar do desvio da ordem política das exigências da moral e da prática das virtudes. E se o bem comum estiver ameaçado, o que devemos fazer?

As obras que destroem o bem comum

Vivemos num mundo tão complexo que chegamos a perder de vista a clareza da existência do bem comum tal como a sã filosofia no-la explica. Devido à decadência da civilização católica os homens perderam as bases que faziam da sociedade um lugar agradável, de bom convívio, de amizades e alegrias, de fé, esperança e caridade. Os princípios da Revolução emergiram dos esgotos do Inferno e espalharam-se por toda parte, gerando monstros e bestas que devoraram a civilização cristã.

O Humanismo

Tudo começou com o liberalismo, antes mesmo dele receber este nome. O humanismo estabeleceu um mundo sem a Igreja, rechaçou o catolicismo para as sacristias, e gerou uma ânsia de liberdades, de novos horizontes, de novas religiões. Lutero mesmo funda o Protestantismo sobre a base do livre exame. A vida medieval, formada na prática das virtudes, dará lugar ao enriquecimento dos povos pelas grandes descobertas, pelo ouro e diamantes, pela posse de novas terras.

Parecia a todos um ideal honesto e importante para os reinos cristãos, pois não percebiam que a ânsia de novas descobertas implicava o abandono da busca de Deus, do fim último, do repouso na felicidade eterna.

A Maçonaria

Forças devastadoras se levantaram contra a Igreja, a Maçonaria se espalhou entre homens sem fé, e usurpando da Igreja os cuidados com os mais necessitados, levantaram a bandeira da solidariedade, conquistando muitos adeptos, sobretudo entre os poderosos da Terra. O tema do governo mundial e de uma religião naturalista foi se estabelecendo entre os estudiosos e influenciadores. Nasce no século XVIII a filosofia iluminista, que recebe esse nome para significar que a presença da Igreja Católica nos tempos anteriores teriam sido tempos de trevas.

A Revolução

Todos esses séculos armaram um ataque sem tréguas contra o bem comum dos povos, modificando de modo radical os motivos que levavam os reis cristãos a governarem seus súditos. A prova dessa modificação foi o convencimento dos povos de que a Revolução lhes daria a liberdade, que os reis os tinham oprimido, que era preciso levar os nobres e os padres à guilhotina. Estamos em plena loucura, em plena mentira, no drama que reduziu os homens à maior escravidão voluntária jamais imaginada. Tudo isso resumido nas deturpadas noções de Igualdade – Liberdade – Fraternidade.

O Comunismo

Evitei acima chamar a Revolução de Revolução Francesa, porque esse nome dá a impressão de que o fenômeno se limitou à França. A Revolução, na verdade, espalhou-se por todo o mundo num espírito anticatólico fomentado por três ou quatro séculos de preparação. A obra da Revolução nunca mais deixou os homens, aflorou no Comunismo ateu, espécie de religião maligna oposta a Deus, à Igreja e mesmo à natureza do homem, considerado como força produtiva, manipulada, e finalmente escravizada.

Nessa altura da vida dos povos, o bem comum já tinha virado um espantalho. Mas a natureza humana não é tão fácil de ser modificada como os comunistas e revolucionários imaginavam. Houve reações, e isso obrigou-os a buscar meios mais calmos de impor a Revolução.

O Liberalismo e a Democracia liberal

Foi através da manipulação das consciências que procuraram angariar adeptos à Revolução. Convenceram os homens de que a liberdade era o princípio básico da existência, e único bem a que um homem devia almejar. Substituíram a verdade pela liberdade, enganando os povos para que rompessem sua docilidade com o real, não acreditassem mais nas realidades espirituais, e se rebelassem contra o dogma católico. Substituíram o dogma, ou seja, a verdade revelada e a autoridade da Igreja, pela ideologia, um aparato de ideias forjadas para manipular a opinião pública e conduzir os homens por onde quisesse o déspota no poder.

Dentre essas ideias enganadoras, a democracia liberal espalhou-se por toda parte e passou a ser uma espécie de preconceito generalizado, imposto a todos sob pena de ostracismo e perseguição. Muitas pessoas de reta intenção consideraram o termo democracia em oposição a tirania, a regime totalitário. Podemos bem imaginar o quanto os regimes nazista e stalinista não contribuíram para isso. Mas a realidade é outra. A democracia liberal é falsa na sua raiz ao impor a falsa ideia de que todo poder emana do povo e pelo povo é exercido.

Falsa ideia nos dois termos da frase. O poder não emana do povo, mas de Deus: “Não terias poder algum se não lhe tivesse sido dado do Alto”, disse Jesus Cristo a Pilatos quando este lhe afirmou que tinha poder para condená-lo ou para inocentá-lo. Além disso, chega a ser constrangedor imaginar que ao longo de 200 anos os homens acreditaram na falácia da “representatividade”, quando basta uma análise superficial para compreender que os políticos, na sua grande maioria, não representam a ninguém além dos seus interesses próprios ou do seu partido político. Além disso, o que significaria representar o povo, se este for um povo contaminado pelo erro e pelo vício, afastado da necessária prática das virtudes?

A quebra do bem comum

Como vimos acima, o bem comum é o fim próprio de uma sociedade política. Ele pode ser obtido dentro de um governo monárquico ou de um governo republicano. Mas ele só poderá existir onde os governantes tiverem a noção exata de que não receberam o poder para desviar aquela nação das suas origens, da tradição das suas famílias, da sua história. Ao contrário, a obrigação de todos é de promover e alimentar os princípios e a prática histórica que formaram aquele povo na unidade política e na busca do seu fim. A obrigação de todos é formar os homens para que, fortalecendo o bem comum político, eduquem o povo a descobrir a prática da verdadeira Religião, de modo a que todos alcancem com mais facilidade a Beatitude eterna.

Em toda parte, assistimos à quebra do bem comum. Os países europeus já de muito tempo perderam a identidade católica e abriram suas fronteiras aos muçulmanos, os quais têm um plano muito claro de dominação do mundo pelo islamismo e para o islamismo. Os EUA mergulharam no liberalismo total, a ponto de ser chamado de terra da liberdade, com a ideia de que qualquer pessoa pode fazer o que quer, pode cultuar deuses ou demônios, pode promover pecados, sem que ninguém lhes possa acusar de nada. Dentro desse ambiente, o socialismo e o comunismo proliferam com mais facilidade, deturpando todas as relações humanas e destruindo a base da sociedade fundada na família tradicional.

Em volta de nós, na América do Sul, vimos os países caírem no comunismo, um após o outro: Venezuela, escrava do chavismo há décadas; a Argentina preparando-se a passos largos para o surgimento de uma Revolução comunista; o Chile governado por outro jovem comunista; a Colômbia, governada por um chefe do narcotráfico, capaz de propor na reunião da ONU a liberação da cocaína; a Nicarágua, um pouco mais ao norte, com seu ditador perseguidor dos opositores. E o Brasil...

Pobre Brasil. Chegou muito perto da restauração de uma vida política natural, familiar, moderada pela liberdade, mas limitada pela verdade. Quatro anos de um aperitivo que nos fez crer na possibilidade de ser renovado o Brasil tradicional, nascido de uma Missa, marcado por uma imensa Cruz fincada no nosso solo.

Ora, essas coisas formam o nosso bem comum. E é obrigação de todos os brasileiros trabalharem com os instrumentos que lhes são oferecidos para promover, manter, e alimentar esse bem comum. Não somos nós os governantes, não somos nós os mestres desse povo, mas o mundo quis pôr em nossas mãos uma única arma para preservar o nosso Brasil. É o voto.

Os princípios da reta filosofia política ensinam que não há uma obrigação moral de se votar neste candidato ou neste outro. Porém as eleições do dia 30 de outubro não opõem dois candidatos. Opõem o verdadeiro Brasil contra uma falsidade ideológica comunista e destruidora da nossa Pátria. Ah! Contra isso temos obrigação de lutar, temos obrigação de defender a nossa Pátria. E fico imaginando que tipo de argumentação algum católico teria para explicar o não votar. Não consigo descobrir nenhum argumento válido para alguém que esteja em condições físicas de votar e que diga “não”! Se o comunismo voltar à nossa Pátria, com o aparelhamento do Estado, a corrupção generalizada, a quebra da livre iniciativa empresarial e tantas outras mazelas, os que não votarem ou os que pretendem votar no comunista, não poderão se lamentar caso o Brasil volte a esta lama.

Por isso, ao rezarmos a Nossa Senhora Aparecida e a São Pedro de Alcântara pela nossa Pátria, estamos afirmando a Cristo-Rei, Nosso Senhor, que faremos o que está ao nosso alcance para que a coroa da Realeza de Cristo volte a brilhar sobre o nosso Brasil.

O Exemplo de São Pio X

Para terminar, reproduzimos aqui a história do que aconteceu com o Patriarca de Veneza, ao chegar ao sólio patriarcal4:

Giuseppe Sarto, futuro papa São Pio X, tomou posse na sede cardinalícia de Veneza em 1894. Foi muito mal recebido pelos maçons, então na administração da cidade das gôndolas.

Em 1895 houve eleições municipais. Vendo os católicos desorganizados e sem forças para enfrentar o partido no poder, o Cardeal Sarto estabeleceu uma coalizão entre o partido católico e o partido liberal-moderado. A chapa na qual deviam votar era a do Conde Grimani, um liberal-moderado, mas que guardava certos princípios católicos; vários pontos concretos apontados pelo partido católico seriam respeitados.

Em 3 dias e 3 noites, o santo cardeal escreveu de próprio punho mais de duzentas cartas aos párocos, personalidades civis, comunidades religiosas, dando instruções sobre a votação e pedindo orações. Seu grito de guerra aos venezianos católicos da época era: Lavorate – pregate – votate! (Trabalhem – rezem – votem).

De fato, houve muitos trabalhos antes das eleições: o santo ressuscitou o jornal católico “La Difesa”, repetindo com Mgr. Ketteler: “Se São Paulo voltasse agora, tornar-se-ia jornalista”.

Os comitês paroquiais receberam suas instruções para reunirem-se com o intuito a persuadir os fiéis da importância daquele voto. Inúmeras reuniões no palácio Patriarcal foram organizadas pelo cardeal Patriarca de Veneza.

No dia das eleições, a vitória foi brilhante, e Grimani manteve-se no poder por 25 anos, mostrando a força da organização de São Pio X.

Algumas más-línguas acusaram o cardeal junto ao Papa Leão XIII, por ter-se juntado aos liberais. O papa convocou o cardeal para lhe pedir explicações. Diante das explicações do santo Patriarca, que mostrava os compromissos católicos assumidos pelo partido liberal-moderado, o papa compreendeu que eles não eram tão liberais a ponto de não ser possível trabalhar com eles. Leão XIII escreveu, então, uma carta de felicitações aos católicos de Veneza por terem vencido as eleições sob o comando do santo Patriarca.

As orações e penitências

Não me parece que uma eleição à presidência da República tenha sido jamais acompanhada por tantas orações e penitências como esta. Como dissemos, muitos analistas assinalam o fato de que estas eleições não se farão pela escolha de um ou outro candidato, mas sim entre a escolha de um Brasil que volta, por uma graça inesperada de Deus, a ser o Brasil das nossas origens católicas, nossa Pátria brasileira, e, por outro lado, a manutenção de uma política socialista, comunista, interesseira e corrupta.

O bem comum exige de nós um trabalho árduo, hoje, para a vitória do Brasil nessa guerra que os nossos inimigos armaram contra nós.

  1. 1. O leitor que desejar aprofundar essa noção pode ler com proveito a série de artigos da Revista Permanência, a partir do nº 306, de Julian Ritzel Farret – O bem comum na Suma Teológica.
  2. 2. Gustavo Corção, As fronteiras da técnica, cap. 5, Patriotismo e nacionalismo. 6ª edição, Vide Editorial, 2021.
  3. 3. Cf. Gustavo Corção, As fronteiras da técnica, cap. 3, Política e técnica. 6ª edição, Vide Editorial, 2021.
  4. 4. Cf. Biografias de São Pio X de Dal-Gal, de Fernessole, de Hoornaert e de Mitchell.
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