Skip to content

O encolhimento do universo

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

 

Queridos fiéis,

Os astrônomos dizem que o universo está se expandindo. Isso é verdadeiro no sentido físico, mas, em várias outras maneiras, ele, na verdade, está encolhendo.

 

Nos sentidos

Primeiro, nos sentidos. Porque podemos voar até praticamente qualquer ponto do mundo dentro de 24 horas, a terra parece ter reduzido dramaticamente em tamanho. De modo semelhante, com a habilidade de conversar com qualquer pessoa no planeta em segundos, todos se tornaram nossos próximos. Com tecnologias incríveis de vídeo, áudio e nuvens, todo o mundo visível e audível está, potencialmente, diante de nossos olhos e nossos ouvidos. O mundo, certamente, encolheu.

Há benefícios nesse encolhimento, mas também há custos: pois nenhum destino é tão apreciado quanto aquele conquistado através da prudência e da fortaleza; nenhuma conversa é tão significativa quanto aquela olho no olho; nenhuma cena é tão intensa quanto aquela assistida pessoalmente. O universo tecnológico é menor, mais barato, mais rápido e mais malvado. Ele nos rouba experiências reais e rouba-nos tempo precioso.

 

Na Filosofia

Não apenas nos sentidos o universo encolheu: no intelecto também. Na compreensão filosófica do homem moderno do universo, houve um grande achatamento desde a reforma protestante, depois no iluminismo racionalista, e no ateísmo comunista. Para o homem moderno, hoje, não há:

 

-- ordem sobrenatural (não há Deus nem religião)

-- ordem espiritual (não há alma, não há anjos) e

-- Lei Natural (não há finalidade, verdade, moralidade ou humanidade – alguém pode se identificar com o que quiser: homem, mulher, negro, branco, gato ou cachorro), e não há

-- dados de uma verdade objetiva cognoscível (tudo está na mente, e nada pode ser conhecido)

 

Só há matéria e forças físicas no universo do homem moderno. O homem, portanto, é apenas uma justaposição fortuita de moléculas. Que universo triste: sem beleza, sem verdade, sem esperança, sem céu.

 

Na educação

A educação clássica da gramática (trabalho de memória), dialética (raciocínio) e retórica (comunicação) foi completamente abandonada. Os estudantes recebem alguns blocos de informação crua (sem memorização), devem sentir ao invés de raciocinar, e usam frases de efeito ao invés de discurso. Eles também são imbuídos da ideologia liberal.

Não apenas possuem pouco conhecimento do universo: os estudantes, normalmente, têm pouco conhecimento de si mesmos, pois todos tiram nota 10, todos recebem prêmios, todos ouvem que estão cheios de direitos e se sentem privilegiados.

As universidades não lidam mais com o conhecimento universal, mas treinam seus estudantes em áreas cada vez mais especializadas; não ensinam a ver o quadro geral, mas a trabalhar para empresas globais em sua busca por lucro. Poucos se importam com as questões universais do ser, da finalidade e do sentido da vida.

 

Nas relações sociais

O encolhimento do universe dos sentidos necessariamente influencia o universo das relações sociais.

Conversamos rosto a rosto com cada vez menos pessoas que em qualquer outro período. Nós nos enclausuramos em veículos de metal e tornamo-nos estranhos à vizinhança, às lojas locais, até mesmo àqueles que estão na casa ao lado.

Damos tanto tempo à comunicação e ao entretenimento virtuais que temos pouco tempo para atividades sociais reais, amizades reais, clubes reais, sociedades, enriquecimento cultural real através de passatempos e recreações.

A sociedade está saindo da era da família nuclear para a mentalmente insalubre era do indivíduo atômico. Cada vez menos crianças nascem nas famílias graças à contracepção e à guerra econômica, política e cultural contra a família. Há, agora, apenas 1.56 nascimentos por mulher na Inglaterra de acordo com as últimas estatísticas. Não ajuda em nada a situação a realidade de cada vez menos casamentos (e mais tardios), além do número crescente de casamentos arruinados.

Há algum tempo, era normal haver três gerações vivendo na mesma casa. Hoje, os filhos mudam-se logo que se tornam economicamente capazes de fazê-lo, e os avós são jogados em um asilo, porque não há ninguém para cuidar deles.

Isolamento, solidão, problemas de saúde mental são marcas dos nossos tempos. Para muitas almas, seu universo social desabou.

 

Em nossas vidas cotidianas

Diversidade é a palavra moderna para homogeneidade. A cultura se tornou superficial e homogênea em todo o mundo: separados da geografia, da história, da fé; separados da Lei Natural e da razão.

Comemos as mesmas comidas ao longo do ano e em todo o mundo; usamos a mesma linguagem, vestimos as mesmas roupas, praticamos os mesmos esportes. Fazemos compras nos mesmos lugares e compramos os mesmos produtos globais, fabricados por empresas globais.

Elegemos os mesmos politicos – fantoches em débito com outra força política – e a maioria dos homens têm as mesmas aspirações: copiar os ícones bidimensionais apresentados a nós pela mídia global. A moralidade predominante é liberal. A religião predominante é “nenhuma”. Nosso universo, hoje, é culturalmente muito apertado.

 

No Estado

O abandono da religião, o pessimismo filosófico, a educação deficitária, a atomização social e a concentração de poder são ingredientes do universo mais visivelmente restritivo, que é a tirania.

Liberdades estão sendo corroídas tão rapidamente em nossos dias que todo mundo vive apenas a um passo de ser processado pelas mais variadas razões, intencionalmente ou não. Estamos submetidos a uma vigilância crescente, tanto de nossos movimentos quanto de nossas crenças, e estamos sendo coagidos a permitir que o Estado edite nosso DNA, estamos sendo forçados a cooperar com a cultura da morte: tudo isso com uma eficácia demoníaca tão grande, que concluímos que Satã, de fato, é o grande artífice desse movimento.

O homem moderno vive agora em um universo muito pequeno. O universo encolheu tanto, que o homem se encontra em um confinamento espiritual solitário pelo seu modernismo e, em breve, pode encontrar-se em confinamento físico pelas mãos de um Estado faminto. Quando isso acontecer, o encolhimento de seu universo estará completo.

 

Eles não podem aprisionar o espírito

Mas para nós, queridos fiéis, embora não possamos evitar todos os efeitos da tecnologia moderna, da filosofia moderna, da cultura moderna e do Estado moderno, nossas almas jamais poderão ser aprisionadas se seguirmos a razão, a Lei Natural e a religião revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

O fundamento da verdadeira liberdade é a participação ativa no Corpo Místico de Cristo. Ela, necessariamente, implica em desapego do pecado, que é a escravidão às paixões; ela, necessariamente, implica na adesão à doutrina, aos sacramentos e ao governo da Igreja Católica, que levará o homem à sua perfeição suprema na Visão Beatífica de Deus.

Se nos mantivermos próximos da Igreja, então, apesar de atrair a atenção indesejada do Estado, teremos paz interior.

Impérios terrenos erguem-se e caem, e é interessante notar que sua duração diminui conforme as tecnologias avançam. O Império Soviético durou por, apenas, 70 anos, o que significa que a juventude de hoje, provavelmente, assistirá ao fim da tirania da Cultura da Morte, hoje em ascensão. O universo encolherá por mais algum tempo ainda, mas aqueles que possuem a liberdade dos filhos de Deus jamais estarão confinados.

 

In Jesu et Maria,

Pe. Robert Brucciani

AdaptiveThemes