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Prólogo

PRÓLOGO

 

Deus, humilium celsitudo...

Ó Deus, grandeza dos humildes, revelai-nos a humildade de Maria proporcionada à elevação de sua caridade.

 

Nosso propósito, neste livro, não é outro que expor as grandes doutrinas da Mariologia em sua relação com nossa vida interior. Ao escrevê-lo, comprovamos, em muitíssimas das mais belas teses, que freqüentemente o teólogo, num primeiro período de sua vida, inclina-se a elas por um sentimento de piedade e de admiração; num segundo período, ao dar-se conta de certas dificuldades e das dúvidas de alguns autores, é menos categórico. Num terceiro período, se tiver tempo e oportunidade de aprofundar-se nessas teses, sob seu duplo aspecto especulativo e positivo, volta ao seu primeiro ponto de vista, não só por um sentimento de piedade e de admiração, mas com conhecimento de causa, ao perceber, pelos testemunhos da Tradição e pela profundidade das razões teológicas geralmente aduzidas, que as coisas divinas e particularmente as graças de Maria são mais ricas do que se pensa, e então o teólogo as afirma, não só porque são belas e geralmente admitidas, mas porque são verdadeiras. Se as obras-primas do pensamento humano em literatura, pintura ou música encerram tesouros inesperados, o mesmo ocorre, com muito mais razão, com as obras-primas de Deus na ordem da natureza e muitíssimo mais na ordem da graça, sobretudo se estas últimas têm relação imediata com a ordem hipostática, formada pelo próprio mistério da Encarnação do Verbo.

Pareceu-nos que esses três períodos assaz freqüentes na evolução do pensamento dos teólogos podem ser apontados no progresso do pensamento de Santo Tomás com respeito à Imaculada Conceição1.

Esses três períodos, ademais, não precisam de analogia com outros três, muito parecidos do ponto de vista afetivo. Tem-se freqüentemente assinalado que vem primeiramente o período da devoção sensível ao Sagrado Coração ou à Santíssima Virgem, por exemplo; depois, o da aridez da sensibilidade e, por fim, o da devoção espiritual perfeita, que tem suas raízes na sensibilidade; encontra-se então a devoção sensível, mas de uma maneira completamente diferente da primeira fase, na qual ela detinha-se demasiadamente, e onde a alma não estava desprendida completamente dos sentidos.

Que o Senhor se digne fazer compreender aos leitores deste livro o que deve ser esse progresso espiritual, pois nisso somente pretendo deixar entrever a grandeza da Mãe de Deus e de todos os homens.

Não expomos aqui opiniões particulares, mas procuramos destacar a doutrina mais comumente admitida entre os teólogos, principalmente tomistas, esclarecendo-a o mais possível, baseando-nos nos princípios formulados por Santo Tomás2.

Colocaremos particular atenção na propriedade dos termos, evitando o mais possível a metáfora, freqüentemente demasiado empregada ao tratar da Santíssima Virgem. A bibliografia principal será citada à medida que se vão tratando as questões.

  1. 1. Ver a primeira parte desta obra, cap. II, art. 2, no fim.
  2. 2. Para a parte positiva deste trabalho usamos a Mariologia do Pe. B. H. Merkelbach, O.P., publicada em 1936, e ainda que não sigamos algumas opiniões expressas nela, parece-nos que essa obra merece também grandes elogios na parte especulativa, pela ordem das questões e pela precisão das razões teológicas expostas conforme a doutrina de Santo Tomás.
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