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Artigo 8 - Se a cautela deve ser considerada parte da prudência.

O oitavo discute-se assim. – Parece que a cautela não deve ser considerada como parte da prudência.

1. – Pois, onde não pode haver mal não há necessidade de cautela. Ora, ninguém usa mal das virtudes, como diz Agostinho. Logo, a cautela não pertence à prudência, que é a dirigente das virtudes.

2. Demais. – A mesma virtude compete prever o bem e acautelar contra o mal, assim como é próprio da mesma arte dar a saúde e curar a doença. Ora, prever o bem pertence à providência. Logo, também acautelar contra o mal. Portanto, a cautela deve ser considerada parte da prudência, diferente da providência.

3. Demais. – Nenhum prudente se esforça por fazer o impossível. Ora, ninguém pode acautelar-se contra todos os males que podem suceder. Logo, a cautela não pertence à prudência.

Mas, em contrário, a Escritura: Vede de que modo andais sobreaviso.

SOLUÇÃO. – A prudência versa sobre os atos contingentes. Ora, nestes, assim como a verdade pode ir mesclada-com o erro, assim também, o mal, com o bem, por causa da multiformidade de tais atos, nos quais, quase sempre ao bem se apresenta o obstáculo do mal, e o mal se manifesta sob as aparências de bem. Por onde, é necessária a cautela, à prudência, para praticarmos- o bem, e evitarmos o mal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Nos atos morais é necessária a cautela, para nos acautelarmos. não contra os atos das virtudes, mas contra o que pode impedi-los.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Acautelarmo-nos contra males opostos é ato da mesma natureza que buscar o bem. Mas, é ato de outra natureza evitar certos obstáculos extrínsecos. Por isso, a cautela distingue-se da providência, embora ambas se incluam na mesma virtude da prudência.

RESPOSTA À TERCEIRA. –Dos males ocorrentes e que devemos evitar, há certos que costumam acontecer, de ordinário; esses a razão pode determinar. E contra eles se aplica a cautela, de modo a os evitarmos totalmente, ou os tornarmos menos nocivos. Outros há, porém, que sucedem rara e casualmente, os quais, sendo infinitos, não podem ser determinados pela razão, nem o homem é capaz de se precaver contra eles. Embora, por aplicação da prudência, possa dispor-se contra todos os insultos da fortuna, de modo a ser menos lesado.

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