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Art. 2 – Se a perseverança faz parte da coragem.

O segundo discute–se assim. – Parece que a perseverança não faz parte da coragem.

1. – Pois, como diz o Filósofo, a perseverança concerne aos sofrimentos sensíveis. Ora, estes dizem respeito à temperança. Logo, a perseverança faz parte, antes, da temperança que da perseverança.

2. Demais. – As partes de uma virtude moral versam sobre as paixões determinadas, que essa virtude moral modera. Ora, a perseverança não implica moderação de nenhuma paixão; porque, quanto mais veementes forem as paixões tanto mais digno de louvor será quem permanecer fiel à ordem da razão. Logo, parece que a perseverança não faz parte de nenhuma virtude moral, mas antes, da prudência, que aperfeiçoa a razão.

3. Demais. – Agostinho diz, que ninguém pode perder a perseverança; ao contrário, podemos perder as outras virtudes. Logo, a perseverança é mais principal que elas. Ora, uma virtude principal é mais principal que qualquer das suas partes. Logo, a perseverança não faz parte de nenhuma virtude, mas antes, é ela a virtude principal.

Mas, em contrário, Túlio considera a perseverança parte da coragem.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, virtude principal é aquela à qual atribuímos principalmente o que constitui o mérito da virtude, enquanto que ela o exerce na sua matéria própria, relativamente à qual é muito difícil e muito perfeita a prática. E por ser assim é que consideramos a coragem uma virtude principal, porque nos torna firmes em circunstâncias onde é dificílimo persistirmos com firmeza, isto é, nos perigos de morte. Portanto, é necessário acrescentar­se à coragem, como virtude secundária à principal, toda virtude cujo mérito consiste em arrostar com firmeza a dificuldade. Ora, arrostar a dificuldade proveniente da diuturnidade de uma boa obra é o que faz ser digna de louvor a perseverança; embora isso não seja tão difícil como arrostar os perigos de morte. Por onde, a perseverança se anexa à coragem, como a virtude secundária à principal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O anexar–se uma virtude secundária à principal não se funda só na matéria, mas antes, no modo, porque a forma é, em cada ser, mais principal que a matéria. Por onde, embora a perseverança, pela sua matéria, pareça convir mais com a temperança do que com a coragem, contudo, pelo modo, convém, antes, com a coragem, por nos fazer conservar a firmeza contra as dificuldades diuturnas.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A perseverança a que se refere o Filósofo não modera nenhumas paixões, mas consiste só numa certa firmeza da razão e da vontade. Mas, a perseverança, como virtude, modera determinadas paixões, a saber o temor da fatiga ou da deficiência prolongados. Por isso, essa virtude tem a sua sede no irascível, como a coragem.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Agostinho se refere, nesse lugar, à perseverança, não enquanto designa um hábito virtuoso, mas, um ato virtuoso continuado até ao fim, segundo aquilo da Escritura – O que perseverar até o fim esse será salvo. Por onde, considerada nesse sentido, seria contra a essência mesmo da perseverança, que ela pudesse ser perdida, porque então já deixaria de durar até o fim.

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