O quinto discute-se assim. — Parece que à Mãe de Deus deve ser prestada a adoração de latria.
1. — Pois, a mesma é a honra prestada à mãe do rei, que o é ao rei. Donde o dizer a Escritura: Pôs-se um trono para a mãe do rei, a qual se assentou à sua mão direita. E Agostinho: No trono de Deus, no tálamo do Senhor do céu e no tabernáculo de Cristo é também digna de estar a mãe de Deus. Ora, a Cristo é devida a adoração de latria. Logo, também à sua mãe.
2. Demais. — Damasceno diz que a honra da mãe é referida ao Filho. Ora, ao Filho é devida a adoração de latria. Logo, também à Mãe.
3. Demais. — A Mãe de Cristo lhe é mais chegada, que a cruz. Ora, à cruz é tributada adoração de latria. Logo, à Mãe de Cristo deve ser tributada a mesma adoração.
Mas, em contrário, a Mãe de Deus é uma pura criatura. Logo, não lhe é devida a adoração de latria.
SOLUÇÃO. — Sendo a latria devida só a Deus, não o é à criatura; não o é, no sentido em que a venerássemos em si mesma. Mas, embora as criaturas insensíveis não sejam em si mesmas dignas de veneração, a criatura racional o é. Por isso, não devemos o culto de latria a nenhuma criatura racional como tal. Sendo, porém, a bem-aventurada Virgem uma criatura racional, em si mesma, não lhe devemos a adoração de latria, mas só a veneração de dulia. De maneira mais eminente, contudo, que às outras criaturas, por ser Mãe de Deus. E por isso dizemos que lhe é devida, não qualquer dulia, mas a hiperdulia.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A mãe do rei não é devida honra igual à que o é ao rei; mas, é lhe devida uma honra semelhante, em razão de certa excelência. E é o que querem dizer as autoridades citadas.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A honra de Maria é referida ao Filho, porque a mãe deve ser adorada por causa do Filho. Mas não do modo pelo qual a honra da imagem é referida ao exemplar, pois, a imagem, considerada me si mesma como uma determinada coisa, de nenhum modo deve ser venerada.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A cruz não é digna de veneração considerada em si mesma, como dissemos. Mas a Santa Virgem é em si mesma digna de veneração. Logo, a comparação não colhe.