O sexto discute-se assim. — Parece que o sacerdócio de Cristo não era segundo a ordem de Melquisedeque.
1. — Pois, Cristo é a fonte de todo sacerdócio, como sacerdote principal. Ora, o principal não depende da ordem alheia, antes, esta é que depende daquele. Logo, Cristo não deve ser chamado sacerdote segundo a ordem Melquisedeque.
2. Demais. — O sacerdócio da lei antiga estava mais próximo do sacerdócio de Cristo do que o sacerdócio anterior ao da lei. Ora, os sacramentos tanto mais expressamente significavam a Cristo, quanto mais próximos dele estavam, como resulta do que foi dito na Segunda Parte. Logo, o sacerdócio de Cristo deve ser antes denominado segundo o Sacerdócio da lei, que segundo o sacerdócio de Melquisedeque, anterior à lei.
3. Demais. — O Apóstolo diz, que o rei da paz, sem pai nem mãe, sem genealogia, não tem princípio de dias nem fim de vida, coisas que convêm só ao Filho de Deus. Logo, Cristo não deve chamar-se sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, como se fosse de outrem; mas, segundo a sua própria ordem.
Mas, em contrário, diz a Escritura: Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque.
SOLUÇÃO. — Como dissemos, o sacerdócio legal foi a figura do sacerdócio de Cristo; não que o exprimisse verdadeira e adequadamente, pois dele muito distava. Quer porque o sacerdócio legal não purificava dos pecados, quer também porque não era eterno, como o sacerdócio de Cristo. Mas a excelência do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico foi figurado no sacerdócio de Melquisedeque, que recebeu dízimos de Abraão, de cujos lombos recebia dízimos, de certo modo, o sacerdócio da lei. Por onde, o sacerdócio de Cristo é chamado segundo à ordem de Melquisedeque, por causa da excelência do verdadeiro sacerdócio sobre o sacerdócio figurado da lei.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Cristo não é considerado como da ordem de Melquisedeque, quase de um sacerdote mais principal; mas como do que prefigura a excelência do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico.
RESPOSTA À SEGUNDA· — Duas coisas podemos considerar no sacerdócio de Cristo: a oblação mesma de Cristo e a sua participação. Quanto à oblação, o sacerdócio da lei mais expressamente figurava, pela efusão do sangue, o sacerdócio de Cristo, que o sacerdócio de Melquisedeque, onde não havia essa efusão. Mas, quanto à participação do sacrifício de Cristo e do seu efeito, pela qual principalmente se lhe manifesta a excelência do sacerdócio sobre o sacerdócio da lei, ele era mais expressamente prefigurado pelo sacerdócio de Melquisedeque, que oferecia pão e vinho, significativos, como diz Agostinho, da união eclesiástica, constituída pela participação do sacrifício de Cristo. Por isso também na lei nova o verdadeiro sacrifício de Cristo é comunicado aos fiéis sob a espécie de pão e de vinho.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Diz-se que Melquisedeque é sem pai nem mãe e sem genealogia, e que não tem princípio de dias nem fim de vida, não pelos não ter, mas por não lermos na Escritura que os tivesse. E por isso mesmo, como diz o Apóstolo no mesmo lugar, foi feito semelhante ao Filho de Deus, que não tem na terra pai e, no céu, não tem mãe nem genealogia, conforme àquilo da Escritura: Quem contara a sua geração? E, segundo a divindade, não tem princípio nem fim de dias.