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Art. 4 — Se o Filho de Deus assumiu o entendimento humano ou intelecto.

O quarto discute-se assim. — Parece que o Filho de Deus não assumiu o entendimento humano ou intelecto.

1 Onde uma coisa está presente, nenhuma necessidade há da sua imagem. Ora, o homem, pela inteligência, é a imagem de Deus, como diz Agostinho. E portanto, como em Cristo estava presente o Verbo divino, não era necessário nele também o estivesse o intelecto humano.

2. Demais. — A luz maior ofusca a menor. Ora, o Verbo de Deus, a luz que alumia todo o homem que vem a este mundo, como diz o Evangelho, está para a nossa inteligência, como a luz maior para a menor; pois, também a inteligência é uma luz, quase uma lucerna iluminada pela luz primeira, no dizer a Escritura. O espiráculo do homem é uma lucerna do Senhor. Logo, em Cristo, que é o Verbo de Deus, não havia necessidade de existir a inteligência humana.

3. Demais. — A assunção da natureza humana pelo Verbo de Deus chama-se a sua Encarnação. Ora, o intelecto ou entendimento humano nem é carne nem ato da carne, porque não é ato de nenhum corpo, como .o prova Aristóteles. Logo, parece que o Filho de Deus não assumiu o entendimento humano.

Mas, em contrário, Agostinho diz: Crê firmissimamente e de nenhum modo duvides, que Cristo, Filho de Deus, tem verdadeiramente a carne da nossa raça e uma alma racional. E da sua carne disse ele próprio: Apalpei e vede; que um espírito não tem carne nem osso como vós vedes que eu tenho. E também mostra que tem uma alma, quando diz: Eu ponho a minha vida para outra vez a assumir. E ainda mostra que tem o intelecto da alma, ao dizer: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Enfim, o Senhor diz de. si mesmo, pelo Profeta: Eis aí está que o meu servo terá inteligência.

SOLUÇÃO. — Agostinho diz: Os Apolinaristas dissentiam da Igreja Católica, no tocante à alma de Cristo, ensinando como os Arianos, que Cristo assumiu só a carne sem a alma. Mas nessa questão, vencidos pelo testemunho do Evangelho, disseram que o lugar da inteligência humana, que não existia na alma de Cristo, ocupou-o o próprio Verbo.

Mas, essa doutrina, como a referida antes, se refuta pelas mesmas razões. Pois, primeiro, contraria à narração Evangélica. quando refere que ele se admirava. Ora, a admiração não pode existir sem a razão, porque implica na relação do efeito com a causa, isto é, porque a alma, vendo um efeito cuja causa ignora, busca-lhe a causa, como diz Aristóteles. Segundo, repugna à utilidade da Encarnação, que é a justificação do homem pecador. Pois, a alma humana não é capaz de pecado, nem da graça justificante, senão pelo intelecto. Por isso e principalmente era necessário que o entendimento humano fosse assumido. Donde o dizer Damasceno, que o Verbo de Deus assumiu o corpo e a alma intelectual e racional. E depois acrescenta: O todo foi unido ao todo para que a mim me gratificasse totalmente com a salvação isto é, me desse graça santificante; pois, o que não pode ser assumido é incurável. Terceiro, repugna à Verdade da Encarnação. Pois, proporcionando-se o corpo à alma, como a matéria à sua forma própria, não é verdadeiramente carne humana a que não é aperfeiçoada pela alma humana, isto é, racional. Por onde, se Cristo tivesse a alma, sem a inteligência, não teria verdadeiramente a carne humana, mas uma carne animal; porque só pela inteligência difere a nossa alma da alma do animal. Donde o dizer Agostinho; que desse erro resultaria ter o Filho de Deus assumido um animal irracional com a figura do corpo humano. O que, de novo repugna à verdade divina, que não se compadece com a falsidade de nenhuma ficção.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Onde uma coisa está realmente presente não há necessidade da sua imagem para se colocar em lugar ela coisa, Assim, onde está o imperador os soldados não lhe irão venerar a imagem. Contudo, é necessário coexistir com a presença da coisa a sua imagem, para completar-se com essa presença mesma Assim, uma imagem na cera se completa pela impressão do sê-lo; e a imagem do homem se reflete no espelho pela presença dele. Por onde, para a perfeição do entendimento humano foi necessário que o Verbo de Deus o unisse a si.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Uma luz maior inutiliza a menor, de outro corpo luminoso; mas longe de inutilizá-la aperfeiçoa a luz do corpo iluminado. Assim, a presença do sol obscurece a luz das estrelas ; mas, aumenta a do ar. Ora, o intelecto ou o entendimento do homem é quase uma luz iluminada pela do Verbo divino. Por onde, a luz do divino Verbo não inutiliza o entendimento humano, mas antes, a completa.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora a potência intelectiva não seja ato de nenhum corpo. contudo, a essência mesma da alma humana, que é a forma do corpo, há de ser mais nobre para ter o poder de inteligir. Por onde, é necessário lhe corresponda um corpo melhor disposto.

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