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Art. 1 — Se a ressurreição de Cristo devia manifestar-se a todos.

 O primeiro discute-se assim. — Parece que a ressurreição de Cristo devia manifesta-se a todos.

 Pois, a um pecado público é devida uma pena pública, segundo aquilo do Apóstolo: Aos que pecarem repreende-os diante de todos. Assim também a quem publicamente mereceu é devido um premio público. Ora, a glória da ressurreição foi o premio das humilhações da Paixão, como diz Agostinho. Logo, tendo a Paixão de Cristo sido manifesta a todos, pois publicamente a sofreu, parece que a glória da sua ressurreição também devia manifestar-se a todos.
 
2. Demais. — Assim como a Paixão de Cristo se ordenava à nossa salvação, assim também a sua ressurreição, conforme àquilo do Apóstolo: Ressuscitou para a nossa justificação. Ora, o respeitante à utilidade pública deve manifestar-se a todos. Logo, a ressurreição de Cristo devia manifestar-se a todos e não especialmente a certos.
 
3. Demais. — Aqueles a quem se manifestou a ressurreição de Cristo foram testemunhas da ressurreição, conforme aquilo da Escritura: A quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunha. Ora, esse testemunho o davam proclamando-o publicamente. O que não é próprio das mulheres, segundo o Apóstolo: As mulheres estejam caladas na Igreja. E noutro lugar: Eu não permito à mulher, que ensine. Logo, parece que inconvenientemente a ressurreição de Cristo foi manifesta primeiro às mulheres que aos homens em geral.
 
Mas, em contrário, a Escritura: A quem Deus ressuscitou ao terceiro dia e quis que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia ordenado antes.
 
SOLUÇÃO.  As coisas que conhecemos, umas as conhecemos pela lei geral da natureza; outras por um especial dom da graça, como as reveladas por Deus. E estas como diz Dionísio, estão sujeitos à lei divina, de serem por Deus revelados imediatamente ao superior, mediante aos quais chegam ao conhecimento dos inferiores, como o demonstra a ordenação dos espíritos celestes. Ora, o concernente àglória futura excede o conhecimento comum dos homens, conforme àquilo da Escritura: O olho não viu, exceto tu, ó Deus, o que tens preparado para os que te esperam. Por isso, tais coisas o homem não as conhece senão revelados por Deus conforme o diz o Apóstolo: Deus nô-lo revelou a nós pelo seu Espírito. Ora, como Cristo ressurgiu gloriosamente, por isso a sua ressurreição não foi manifesta a todo o povo, mas só a certos, cujo testemunho deu-a a conhecer aos demais.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO.  A Paixão de Cristo se consumou num corpo dotado ainda de uma natureza passível, conhecida de todos por uma lei comum. Por isso a Paixão de Cristo podia manifestar-se imediatamente a todo o povo. Ao passo que a Ressurreição de Cristo se operou pela glória do Pai, como diz o Apóstolo. Por isso manifestou-se imediatamente, não a todos, mas a certos.  Quanto a ser uma pena pública imposta aos pecadores públicos, isso se entende das penas da vida presente. E semelhantemente, méritos públicos hão de premiar-se em público, para estímulo dos outros. Mas as penas e os prêmios da vida futura não são manifestados publicamente a todos; mas especialmente àqueles a quem Deus o pre-ordenou.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A ressurreição de Cristo, ordenada à salvação de todos, também chegou ao conhecimento de todos, não que se manifestasse a todos Imediatamente, mas a certos, mediante cujo testemunho, a conhecessem os demais.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — À mulher não é permitido ensinar publicamente na Igreja; mas permitido lhe é instruir privadamente a certos, num ensinamento doméstico. Por onde como Ambrósio diz, uma mulher foi enviada aos da família de Cristo; mas não a dar testemunho da ressurreição do povo.  E se Cristo apareceu primeiro às mulheres, foi para a mulher, que fora a primeira a levar ao homem a mensagem da morte, fosse também a primeira a anunciar a vida de Cristo ressurecto para a glória. Donde o dizer Cirilo: A mulher, outrora ministra da morte, foi a primeira a perceber e a anunciar o venerando mistério da redenção. Assim, o gênero feminino alcançou tanto a absolvição da ignomínia como o repúdio da maldição. E também se mostrava desse modo simultaneamente que no concernente ao estado da glória, nenhum detrimento sofreria o sexo feminino; mas, se tiverem mais ardente a caridade, de maior glória também gozarão da visão divina. Por isso as mulheres, que mais ardentemente amaram o Senhor, a ponto de não se afastarem do seu sepulcro, que os próprios discípulos tinham abandonado, também foram as primeiras a ver o Senhor na glória da ressurreição. 
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