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Art. 4 — Se convenientemente se acrescentou o testemunho da voz paterna que dizia: Este é o meu filho dileto.

 O quarto discute-se assim. — Parece que se acrescentou inconvenientemente o testemunho da voz paterna que dizia: este é o meu filho dileto.

1. — Pois, como diz a Escritura, Deus fala uma vez e segunda vez não repete uma mesma causa. Ora, no batismo, isso mesmo o proclamara a voz paterna. Logo, não era conveniente que ainda fosse de novo proclamado na transfiguração.
 
2. Demais. — No batismo, simultaneamente com a voz paterna apareceu o Espírito Santo em forma de pomba. O que não se deu na transfiguração. Logo, parece não devia ter havido a proclamação do Pai.
 
3. Demais. — Cristo começou a ensinar depois do batismo. E contudo no batismo a voz do Pai não veio advertir os homens a ouví-Io. Logo, nem o devia ter feito na transfiguração.
 
4. Demais. — Não devemos dizer a outros o que não poderiam suportar, conforme aquilo do Evangelho: Eu tenho ainda muitas coisas, que vos dizer, mas vós não nas podeis suportar agora. Ora, os discípulos não podiam suportar a voz do Pai, pois, diz o Evangelho: Ouvindo isto, os discípulos caíram de braços e tiveram grande medo. Logo, a voz paterna não se lhes devia manifestar.
 
Mas, em contrário, a autoridade da Escritura Evangélica.
 
SOLUÇÃO. — A adoção de filhos de Deus supõe uma certa conformidade entre a imagem e quem é realmente Filho de Deus. O que de dois modos se dá. Primeiro, pela graça, conferida nesta vida; que é uma conformidade imperfeita. Segundo, pela glória da pátria, que será a conformidade perfeita, segundo aquilo do Evangelho: Agora somos filhos de Deus e não apareceu ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele; porquanto nos outros o teremos bem como ele é. Ora, como recebemos a graça pelo batismo, e a transfiguração foi um prenúncio do esplendor da glória futura, por isso, tanto no batismo como na transfiguração foi conveniente manifestar-se a filiação natural de Cristo, pelo testemunho do Pai. Por que só o Pai é perfeitamente cônscio dessa perfeita geração, simultaneamente com o Filho e o Espírito Santo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O lugar citado deve ser referido à eterna locução de Deus, pela qual Deus Padre proferiu o Verbo, coeterno consigo. E contudo podemos dizer que Deus, com voz material, proferiu duas vezes o mesmo verbo, mas não com o mesmo fundamento; mas para mostrar o modo diverso pelo qual os homens podem participar da semelhança da filiação eterna.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — No batismo quando foi anunciado o mistério da primeira regeneração, manifestou-se a obra de toda a Trindade, porque aí se manifestou o Filho encarnado, apareceu o Espírito Santo em figura de pomba e o Pai se anunciou verbalmente. Assim também na transfiguração, que é o sacramento da segunda regeneração, toda a Trindade manifestou-se  o Pai, pela voz; o Filho, pela sua humanidade; o Espírito Santo, pela nuvem luminosa. Porque, assim como, no batismo dá a inocência, designada pela simplicidade da pomba, assim na ressurreição dará aos eleitos o esplendor da sua glória e a libertação de todo mal, simbolizados pela nuvem lúcida.
 
RESPOSTA ÀTERCEIRA  Cristo veio nos dar a graça atual, mas só prometer a glória, com a sua palavra. Por isso e convenientemente na transfiguração os homens são advertidos a ouvi-lo, não porem no batismo.
 
RESPOSTA À QUARTA. — Foi conveniente os discípulos se aterrorizarem com a voz do Pai e se prosternarem, a fim de ficar assim claro que a excelência dessa glória que então se manifestava, excede toda a compreensão e toda a capacidade dos mortais, segundo aquilo da Escritura: Nenhum homem me verá e depois viverá. E por isso diz Jerônimo, que a fragilidade humana não pode suportar o esplendor de uma tão grande glória. Mas Cristo nos cura dessa fragilidade, introduzindo-nos na glória. O que significam as, palavras que lhes disse: Levantai-vos e não temais. 
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