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Art. 4 — Se Cristo, no primeiro instante da sua concepção, gozou plenamente da visão beatífica.

 O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo, no primeiro instante da sua concepção, não gozou plenamente da visão beatifica. 

1. — Pois, o mérito precede o prêmio, assim como a culpa, a pena. Ora, Cristo no primeiro instante da sua concepção mereceu, como se disse. Mas, como a visão beatífica é a principal recompensa do mérito, parece que Cristo, no primeiro instante da sua concepção não gozou da visão beatífica.
 
2. Demais. — O Senhor diz: Importava que Cristo sofresse estas coisas e assim entrasse na sua glória. Ora, a glória é própria dos que gozam da visão beatifica. Logo, Cristo, no primeiro instante da sua concepção, quando ainda não tinha padecido nenhum sofrimento, não gozava da visão beatífica.
 
3. Demais. — O que não convém nem ao homem nem ao Anjo, parece próprio de Deus; e portanto não convém a Cristo enquanto homem. Ora, ser sempre bem-aventurado não convém ao homem nem ao anjo; pois, se tivessem sido criados bem-aventurados, não teriam depois pecado. Logo, Cristo, enquanto homem, não foi bem-aventurado desde o primeiro instante da sua concepção.
 
Mas, em contrário, a Escritura: Bem-aventurado o que elegeste e tomaste para o teu serviço; o que, segundo a Glosa, se refere à natureza humana de Cristo, assumida pelo Verbo no unidade da pessoa. Ora, no primeiro instante da sua concepção a natureza humana foi assumida pelo Verbo de Deus. Logo, no primeiro instante da sua concepção Cristo, enquanto homem, foi bem-aventurado; isto é, gozou da visão beatifica.
 
SOLUÇÃO. — Como do sobredito resulta, não era conveniente que Cristo, na sua concepção, recebesse a graça habitual somente, - sem lhe exercer os atos. Mas, recebeu a graça sem medida, como estabelecemos. Ora, a graça de um peregrino terrestre, distante da graça do bem-aventurado, tem uma medida menor que a deste. Por onde é manifesto, que Cristo, no primeiro instante da sua concepção, recebeu não somente tanta graça como a tem os que vem a Deus, mas ainda maior que a de todos eles. E como a sua graça era acompanhada do exercício dela, resulta por consequência, que gozou em ato da visão beatífica, vendo a Deus por essência mais claramente que as outras criaturas.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como dissemos, Cristo não mereceu a glória da alma, pela qual gozava da visão beatífica; mas, a glória do corpo, que conquistou com a sua paixão.
Donde se deduz clara a RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo, por ser Deus e homem, mesmo pela sua humanidade teve algo de superior às outras criaturas, pois, gozou da visão beatífica logo desde o principio da sua concepção. 
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