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Art. 4 — Se a concepção de Cristo foi natural.

 O quarto discute-se assim. — Parece que a concepção de Cristo foi natural.

1. — Pois, pela concepção da carne é Cristo chamado Filho do homem. Ora, é verdadeiro e naturalmente filho do homem, como verdadeiro e naturalmente é Filho de Deus. Logo, a sua concepção foi natural.
 
2. Demais. — Nenhuma criatura é capaz de realizar um ato milagroso. Ora, a concepção de Cristo é atribuída à Santa Virgem, que é uma simples criatura; assim, diz-se que a Virgem concebeu a Cristo. Logo, a sua concepção não foi miraculosa, mas natural.
 
3. Demais. — Para uma transformação ser natural, basta que o seu princípio passivo o seja, como se estabeleceu. Ora, o princípio passivo, pelo lado da mãe, na concepção de Cristo, foi natural, como do sobredito se colhe. Logo, a concepção de Cristo. foi natural.
 
Mas, em contrário, diz Dionísio: Cristo praticou as ações humanas de um modo sobre-humano; e isso demonstra ter sido sobrenatural a concepção da Virgem.
 
SOLUÇÃO. — Como diz Ambrósio, neste mistérios descobrirás muitas causas naturais e muitas outras sobrenaturais. Assim, se atendermos à matéria da concepção, que a Mãe ministrou, tudo é natural. E se considerarmos a influência do principio ativo, tudo é milagroso. Ora, nós julgamos um ser, fundados antes na sua forma, que na sua matéria; e semelhantemente, antes, pelo seu princípio ativo que pelo passivo. Donde, a concepção de Cristo devemos considerá-la absolutamente milagrosa e sobrenatural; mas, de certo modo, natural.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Dizemos que Cristo é naturalmente filho do homem, por ter verdadeiramente a natureza humana, que o torna filho do homem embora por milagre a tivesse. Assim, um cego, que recobrou a vista, vê naturalmente pela potência visiva que milagrosamente recebeu.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A concepção é atribuída à Santa Virgem, não como ao princípio ativo; mas por ter ministrado a matéria da concepção e por ter-se esta consumado no seu ventre.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O principio passivo natural basta para uma transformação natural, quando for, do modo natural e costumado, movido pelo princípio ativo próprio. Mas, isto não tem lugar no caso vertente. Logo, a concepção de Cristo não pode ser considerada simplesmente natural. 
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