O quarto discute-se assim. — Parece que a Mãe de Deus não fez voto de virgindade.
1. — Pois, diz a Escritura: Não haverá em ti estéril nem de um nem de outro sexo. Ora, a esterilidade é consequente à virgindade Logo, a conservação da virgindade era contra o preceito da lei antiga. Ora, a lei antiga ainda vigorava quando Cristo nasceu. Logo, nesse tempo, a Santa Virgem não podia licitamente fazer voto de virgindade.
2. Demais. — O Apóstolo diz: Quanto porém às virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou conselho. Ora, a perfeição do conselho devia começar com Cristo, que é o fim da lei, como diz o Apóstolo. Logo, não foi conveniente que a Virgem fizesse voto de virgindade.
3. Demais. — A Glosa de Jerônimo diz: Aos que fizeram voto de castidade é condenável não só casar, mas querer casar. Ora, a Mãe de Cristo não cometeu nenhum pecado condenável, como se estabeleceu. Logo, como foi desposada, parece que não fez voto de virgindade.
Mas, em contrário, Agostinho: Ao anjo que lhe anunciava, Maria respondeu: Como se fará isso, pois eu não conheço varão? O que certamente não diria, se antes não tivesse feito voto da sua virgindade a Deus.
SOLUÇÃO. — Como estabelecemos na Segunda Parte, as obras de perfeição mais louváveis são quando celebradas com voto. Ora, a Virgindade devia por excelência resplender na Virgem Mãe, pelas razões já aduzidas. Por isso foi conveniente consagrasse por voto a sua virgindade a Deus. Ora, no tempo da lei, tanto as mulheres como os varões deviam gerar, porque a propagação do culto de Deus dependia de uma nação rica em homens, antes de Deus ter nascido desse povo. Por onde, não se crê que a Mãe de Deus tivesse, absolutamente falando, feito voto de virgindade, antes de desposar José; mas, embora tivesse o desejo de o fazer, cometeu, contudo, a sua vontade ao arbítrio divino. Mas depois que recebeu esposo, como o exigiam os costumes do tempo, simultaneamente fez voto de virgindade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como era proibido pela lei o não se esforçar um por deixar descendência na terra, por isso a Mãe de Deus não fez voto de virgindade, absolutamente, mas, condicionalmente, isto é, se agradasse a Deus. Mas depois de ter conhecido que Deus assim o aceitara, fez voto absoluto de virgindade, antes de receber o anúncio do anjo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como Cristo teve a plenitude da graça perfeitamente, e contudo certas graças preexistiram incoativamente em sua mãe, assim também a observância dos conselhos, que se realiza pela graça de Deus, começou, certo, perfeitamente em Cristo, mas de algum modo teve início em sua mãe.
RESPOSTA À TERCEIRA. — As palavras citadas do Apóstolo devem entender-se como aplicáveis aos que fazem voto absoluto de castidade, o que a Mãe de Deus não fez antes de ter desposado José. Mas, depois de tê-lo desposado, de vontade própria juntamente com seu esposo, existiu o voto de virgindade.