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Ainda as comunicações com Brasília

Tentei ontem resumir uma explicação para o leigo, mostrando que há dois serviços em andamento para o mesmo fim: comunicações telefônicas entre Brasília, Rio e São Paulo. O primeiro é constituído por uma instalação de rádio de ondas curtas, como usam os amadores que conseguem falar com a Austrália, se as condições atmosféricas são favoráveis. Se não são, o amador fecha a estação e vai ao cinema. O outro serviço, de padrão, de padrão comparável ao que a Companhia Telefônica Brasileira usa entre São Paulo e Rio, é o chamado micro-ondas, e consiste numa série de estações intermediárias escalonadas entre os dois pontos. O primeiro serviço devia ser instalado nos inícios da obra para facilitar as comunicações e as ordens de serviço; não se entende que seja instalado agora com pretensões a fazer serviço público. Instalado agora é uma despesa a mais para puro efeito propagandístico, para demagogia, e nada mais. Nós estamos aqui para pagar tudo.

 

O serviço de micro-ondas deveria ter sido iniciado em 1956, e já estaria pronto, se na NOVACAP alguém soubesse que uma capital só pode funcionar bem se possuir um excelente serviço de comunicações, mormente quando a fantasia a colocou no lugar mais igualmente distante de todos os pontos habitados do país. Está atrasado. Não terá seus 120 canais (o mínimo necessário para uma capital) antes de um ou dois anos. O cronista do “Diário Carioca” que disse hoje, a propósito da conversa entre o sr. Israel e “O Globo”, que eu perdi minha aposta, está fazendo o que pode para ser promovido de posto no exército da nova classe. Ele deve saber que apostei na possibilidade de inaugurarem os 120 canais de micro-ondas, e que não sou tão idiota e tão alheio ao assunto para negar a possibilidade de ser instalado, em poucos dias, uma estação transmissora de rádio-telefonia de emergência. Ele sabe, mas finge que não sabe, e vai assim caminhando no seu jornalismo, progredindo em sua carreira numa linha que não invejo, para mim e para meus filhos.

 

Agora alguns pormenores sobre a situação em que se acha a micro-onda. Não tenho notícias do estado em que se acham as vinte e tantas estações que a NOVACAP deverá construir entre Belo Horizonte e Brasília. Tenho, entretanto, notícia de uma estação próxima, a que se situa em Juiz de Fora e que leva a enorme vantagem de não precisar de estradas de acesso. O colega que me telefonou de lá (vejam como é bom o telefone!) informou que as quatro paredes do prédio estão levantadas, sem piso, sem fundações para as máquinas, e sem vestígios de torre. No dia da semana passada em que recebi este telefonema, os 16 operários tinham abandonado a obra por falta de pagamento e o pobre do empreiteiro anda por aí, entre o Rio e Brasília, a procurar quem lhe pague o que ficou combinado. Como os tempos são de Carnaval, imagino o empreiteiro a cantar pelas ruas: “Me dá um dinheiro aí!”. Na semana passada saiu uma notícia de um decreto presidencial desapropriando um terreno em Paulo de Frontin para aí montar uma das vinte e tantas estações. Por onde se vê que as comunicações regulares e excelentes entre Brasília e Rio só ficarão prontas, se ficarem, dentro de um ou dois anos.

  

                                                                                                                             Diário de Notícias, 20-02-1960.

 

 

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