O primeiro discute-se assim. — Parece que não devemos distinguir partes na penitência.
1. — Pois, é por via dos sacramentos que a virtude divina obra secretamente a nossa salvação. Ora, a virtude divina é una e simples. Logo, não devemos distinguir parte na penitência, que é um sacramento.
2. Demais. — A penitência tanto é virtude como sacramento. Ora, enquanto virtude, não tem partes, porque a virtude é um hábito, que é uma simples qualidade da alma, semelhantemente, não devemos atribuir partes à penitência, como sacramento, porque não distinguimos partes no batismo e nos outros sacramentos. Logo, de nenhum modo devemos introduzir partes na penitência.
3. Demais. — A matéria da penitência é o pecado, como se disse. Ora, no pecado não distinguimos partes. Logo, nem na penitência devemos distingui-las.
Mas, em contrário, as partes são as que integram a perfeição de um ser. Ora, a perfeição da penitência se integra por muitos elementos, a saber: a contrição, a confissão e a satisfação. Logo, a penitência tem partes.
SOLUÇÃO. — Partes de um todo se chamam as em que ele materialmente se divide; pois, as partes estão para o todo, como a matéria para a forma. Por isso Aristóteles coloca as partes no gênero da causa material; mas o todo, no gênero da causa formal. Por isso, onde quer que encontremos uma pluralidade material, aí encontraremos partes. Ora, como dissemos da penitência são os atos humanos a matéria. Por onde, sendo vários os atos humanos necessários à perfeição da penitência, a saber - a contrição, a confissão e a satisfação, como se dirá mais abaixo, resulta que o sacramento da penitência tem partes.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Todos os sacramentos têm a simplicidade em razão da virtude divina que neles obra. Ora, a virtude divina, por causa da sua magnitude, pode obrar por um só ou por muitos. Razão por que podemos distinguir partes em certos sacramentos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A penitência, como virtude, não é susceptível de partes; pois, os atos humanos, multiplicados na penitência, não se relacionam com o hábito da virtude como partes, mas como efeitos. Donde se conclui que a penitência é susceptível de partes como sacramento, do qual os atos humanos constituem a matéria. Ao passo que esses atos não constituem a matéria dos outros sacramentos, que é a realidade exterior; ou simples, como a água ou composta, como o óleo, ou crisma. Por isso os outros sacramentos não são susceptíveis de partes.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os pecados são a matéria remota da penitência, isto é, enquanto matéria ou objeto dos atos humanos, que constituem a matéria própria da penitência, como sacramento.