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Art. 4 — Se as obras virtuosas feitas com caridade, podem ser mortificadas.

O quarto discute-se assim. — Parece que as obras virtuosas feitas com caridades não podem ser mortificadas.
 
1. — Pois, o não existente não é susceptível de qualquer mudança. Ora, morrer é passar da vida para a morte. Logo, como as obras virtuo­sas, depois de feitas, já não existem, parece que não podem já ser mortificadas.
 
2. Demais. — Pelas obras virtuosas feitas com caridade merecemos a vida eterna. Ora, subtrair o prêmio a quem o merece é injustiça, de que Deus não é capaz. Logo, não é possível as obras virtuosas feitas com caridade serem mortificadas pelo pecado subsequente.
 
3. Demais. — O mais forte não pode ser destruído pelo mais fraco. Ora, as obras de ca­ridade são mais fortes que quaisquer pecados; pois, como diz a Escritura, a caridade cobre todos os delitos. Logo, parece que as obras feitas com caridade não podem ser mortificadas pelo peca­do mortal.
 
Mas, em contrário, a Escritura: Se o justo se apartar da sua justiça, de nenhuma das obras de justiça que tiver leito se fará memória.
 
SOLUÇÃO. — Os seres vivos perdem pela mor­te as suas operações vitais. Por isso, em vir­tude de uma certa semelhança, dizemos que estão mortificadas as coisas impedidas de pro­duzir o seu efeito ou operação própria. Ora, o efeito das obras virtuosas, feitas com caridade, é levar à vida eterna. E esta fica impedida pelo pecado mortal subsequente, que priva da graça. E assim, dizemos que as obras feitas com cari­dade são mortificadas pelo pecado mortal sub­sequente.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como as obras pecaminosas passam em ato, mas ficam em reato, assim as obras feitas com caridade, depois de passadas em ato, per­manecem pelo mérito na aceitação de Deus. E sendo assim, são mortificadas, enquanto ficamos impedidos de obter a recompensa delas.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Sem injustiça pode­mos ficar privados das recompensas que mere­cemos, quando delas nos tornamos indignos pela culpa subsequente. Pois, o que já recebemos as vezes justamente o perdemos, por nossa culpa.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Não é pelo poder das obras pecaminosas que são mortificadas as obras anteriormente feitas com caridade; mas, pela liberdade da vontade, em virtude da qual pode­mos decair do bem para o mal.

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