O oitavo discute-se assim. — Parece que o pecado venial não impede o efeito deste sacramento.
1. — Pois, diz Agostinho; comentando àquilo do Evangelho - Os vossos pais comeram o maná: Comei espiritualmente o pão celeste; aproximai-vos do altar revestidos de inocência, os pecados, embora quotidianos, não são mortíferos. Por onde é claro, que os pecados quotidianos, chamados veniais, não impedem a manducação espiritual. Ora, os que o comem espiritualmente recebem o efeito deste sacramento. Logo, os pecados veniais não impedem esse efeito.
2. Demais. — Este sacramento não tem menor virtude que o batismo. Ora, o efeito do batismo só dissimulação o impede, como dissemos; e essa não pode constituir um pecado venial. Pois, como diz a Escritura, o Espírito Santo, mestre da disciplina, fugirá do fingido, que contudo, não fugirá de quem comete pecado venial. Portanto, os pecados veniais não impedem o efeito deste.
3. Demais. — Nada do que é removido pela ação de uma causa pode impedir-lhe o efeito. Ora, este sacramento dele os pecados veniais. Logo, estes não lhe impedem o efeito.
Mas, em contrário, diz Damasceno: O fogo do desejo, que arde em nós, de receber a Cristo, acendendo-se no braseiro da Eucaristia, delirá os nossos pecados e nos iluminará os corações, a fim de nos inflamarmos pela participação do fogo divino e nos deificarmos. Ora, o fogo do nosso desejo ou amor fica apagado pelos pecados veniais, que impedem o fervor da caridade, como se estabeleceu na Segunda Parte. Logo, os pecados veniais impedem o efeito deste sacramento.
SOLUÇÃO. — Os pecados veniais podem ser considerados a dupla luz: enquanto passados ou enquanto atualmente praticados. - A primeira luz de nenhum modo impedem o efeito deste sacramento. Pois, pode dar-se que alguém depois de ter cometido muitos pecados veniais se achegue devotamente a este sacramento e lhe alcance plenamente o efeito. - A outra luz, os pecados veniais não impedem de todo o efeito deste sacramento, mas só em parte. Pois, como dissemos, é efeito deste sacramento não só fazer-nos alcançar a graça habitual ou da caridade, mas ser também uma como nutrição da doçura espiritual. E essa fica impedida para quem o receber com o coração dissipado pelos pecados veniais. Mas isso não impede o aumento da graça ou da caridade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Quem em estado atual de pecado venial se achega a este sacramento, come espiritualmente, de maneira habitual; mas não de maneira atual. E portanto, recebe o efeito habitual deste sacramento, não porém, o atual.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O batismo não se ordena a um efeito atual, isto é, ao fervor da caridade, como este sacramento. Pois, o batismo é uma regeneração espiritual, pela qual, adquirimos a perfeição primeira, que é o hábito ou a forma. Ao passo que este sacramento é uma espiritual manducação, que traz consigo um prazer atual.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A objeção colhe, quanto aos pecados passados que este sacramento dele.