O sétimo discute-se assim. — Parece que o corpo de Cristo, enquanto está neste sacramento, pode ser visto por certos olhos, ao menos pelos dos glorificados.
1. — Pois, os nossos olhos ficam impedidos de ver o corpo de Cristo, existente neste sacramento, por causa das espécies sacramentais que o velam. Ora, os olhos dos glorificados não sofrem nenhum impedimento que o impedisse de ver quaisquer corpos como são. Logo, os olhos dos glorificados podem ver o corpo de Cristo como está neste sacramento.
2. Demais. — Os corpos gloriosos; dos santos serão conformes ao corpo glorioso de Cristo, como diz a Escritura. Ora os olhos de Cristo o vêem a ele tal qual está neste sacramento. Lugo, pela mesma razão, quaisquer outros olhos glorificados podem vê-la.
3. Demais. — Os santos na ressurreição serão iguais aos anjos, no dizer do Evangelho. Ora, os anjos vêem o corpo de Cristo tal qual está neste sacramento; pois, mesmo os demônios foram vistos prestar-lhe reverência e temê-lo. Logo, pela mesma razão, os olhos dos glorificados podem vê-la tal como neste sacramento está.
Mas, em contrário. - O que existe sempre do mesmo modo não· pode ser visto por ninguém sob espécies diversas. Ora, os olhos dos glorificados sempre vêem a Cristo como ele é em espécie, segundo àquilo da Escritura: Verão o rei no seu esplendor. Logo, parece que não vêem a Cristo na espécie que tem neste sacramento.
SOLUÇÃO. — Há duas espécies de olhos: os do corpo, que são propriamente, e os da inteligência, assim chamados por semelhança. Ora, por nenhuns olhos corpóreos pode o corpo de Cristo ser visto tal como está neste sacramento. Primeiro, porque o corpo visível, pelos seus acidentes modifica o meio. Ora, os acidentes do corpo de Cristo estão neste sacramento mediante a substância. Mas de modo que os acidentes do corpo de Cristo não têm relação imediata nem com este sacramento, nem com os corpos que o circundam. E assim nenhuma mudança podem causar no meio, de maneira a poderem ser vistos por quaisquer olhos corpóreos. - Segundo, porque, como dissemos, o corpo de Cristo está neste sacramento a modo de substância. Ora, a substância como tal não é visível pelos olhos do corpo, nem é perceptível por nenhum sentido, nem mesmo pela imaginação, mas só pelo intelecto, chamado olho do espírito, cujo objeto é a quididade, como diz Aristóteles. - Por onde, propriamente falando, o corpo de Cristo, pelo modo de ser que tem neste sacramento, não é perceptível nem pelos sentidos nem pela imaginação, mas só pelo intelecto, que são os olhos do espírito. É percebido porém diversamente pelos diversos intelectos. Pois, o modo de ser pelo qual Cristo está neste sacramento sendo completamente sobrenatural, pelo intelecto sobrenatural, isto é, divino, é em si mesmo visível; e por consequência, pelo intelecto do anjo ou do homem bem-aventurados - que, segundo a claridade participada do intelecto divino vêem o sobrenatural - pela visão da essência divina. Mas, pelo intelecto do homem nesta vida, não pode ser visto senão ajudado da fé, pois é assim que também percebe tudo o mais sobrenatural. Mas nem ainda o intelecto angélico, pela suas potências naturais, é capaz dessa visão. Por isso os demônios não podem pelo intelecto ver a Cristo neste sacramento, senão com olhos da fé; à qual não assentem voluntàriamente, mas a evidência dos sinais disso os convencem, conforme àquilo da Escritura - os demônios crêem e estremecem.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Os olhos do nosso corpo ficam pelas espécies sacramentais impedidos de ver o corpo de Cristo sob elas existentes. E não só por nos impedirem, por serem eles uma como cobertura, assim como ficamos impedidos de ver o que está velado por qualquer velame corpóreos; mas porque o corpo de Cristo não tem relação com o meio que circunda este sacramento, mediante os acidentes próprios, senão mediante as espécies sacramentais.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Os olhos corpóreos de Cristo vêm-no a ele mesmo existente sob o sacramento; mas não podem ver o modo mesmo pelo qual existe sob o sacramento, o que só o intelecto o pode. Mas não há aí símile com a visão dos bem aventurados, porque os olhos mesmos de Cristo estão sob este sacramento, no que com ele não se conformam nenhuns olhos de bem aventurados.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O anjo bom ou mau não pode ver com olhos corpóreos, mas unicamente com os olhos do intelecto. Logo, não há semelhança de razão, como se infere do que ficou dito.