O quinto discute-se assim. — Parece que não é a matéria própria deste sacramento o vinho da vide.
1. — Pois, assim como a água é a matéria do batismo, assim o vinho, a deste sacramento. Ora, com qualquer água pode-se celebrar o batismo. Logo, com qualquer vinho, por exemplo, com o de maçãs granadas, de amoras ou de frutas semelhantes, pode-se celebrar este sacramento; tanto mais quanto em certas terras não cresce a videira.
2. Demais. — O vinagre é uma espécie de vinho, extraído da uva, como diz Isidoro. Ora, com vinagre não se pode celebrar este sacramento. Logo, parece que o vinho da vide não é a matéria própria dele.
3. Demais. — Assim como da vide se extrai o vinho puro, assim também o agraço e o mosto. Ora, com estes não se pode celebrar a Eucaristia, conforme àquela disposição do Sexto Sínodo: Fomos informados que em certas Igrejas os sacerdotes ajustavam uvas ao sacrifício da oblação; e assim distribuíam ao povo uvas e vinho. Nós determinamos porém que os sacerdotes não mais assim procedam. E Júlio Papa repreende certos que oferecem no sacramento do cálice do Senhor vinho que acabara de expremer, da uva. Logo, parece que o vinho da uva não é a matéria própria deste sacramento.
Mas, em contrário, assim como o Senhor se comparou ao grão de trigo, assim também se comparou ao da vide, quando disse: Eu sou a videira verdadeira. Ora, só o pão de trigo é a matéria deste sacramento, como se disse. Logo, só o vinho da videira é a matéria própria dele.
SOLUÇÃO. — Só com o vinho da videira se pode celebrar este sacramento. — Primeiro, por causa da instituição de Cristo, que o instituiu com esse vinho, como o demonstra o que êle próprio disse quando o fez: Não tomarei a beber do fruto da vide. — Segundo, porque, como dissemos, para matéria deste sacramento se toma o que própria e geralmente tem tal espécie. Ora, propriamente se chama vinho ao extraído da uva; ao passo que outros líquidos assim se chamam por causa de certa semelhança com o vinho da vide. — Terceiro, porque o vinho da vide, é mais conducente ao efeito deste sacramento. que é a alegria espiritual; pois, está escrito o vinho alegra o coração do homem.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Esses líquidos não se chamam propriamente vinho, senão por certa semelhança. Quanto ao verdadeiro vinho, pode ser levado às terras onde não crescem as vides, o quanto baste para este sacramento.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O vinho pela corrupção se torna vinagre; por isso, o vinagre não vem de novo a ser vinho, como o explica Aristóteles. Por onde, assim como com pão totalmente corrupto não se pode celebrar este sacramento, assim nem com vinagre. Podemos porém celebrá-lo com vinho que se vai azedando, como com o pão em via de corrupção, embora peque quem assim o fizer, como dissemos.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O agraço, estando em via de geração, ainda não tem a espécie de vinho. E por isso não se pode com êle celebrar este sacramento. - Ao contrário, o mosto já tem essa espécie; pois, como a sua doçura o prova, o vinho já está formado; isto é, que o calor natural já lhe deu seu complemento, como o diz Aristóteles. E portanto, com o mosto pode-se celebrar este sacramento. — Mas uvas inteiras a êle se não devem acrescentar, porque então já ai haveria outra coisa além do vinho. - Também é proibido oferecer no cálice o mosto recém-exprimido da uva, o que não convém por causa da impureza do mosto. É permitido porém oferecê-lo em caso de necessidade, pois, o mesmo Papa Júlio diz (no logo cit.): Se for necessário, esprema-se um cacho de uvas no cálice.