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Art. 2 — Se a circuncisão foi convenientemente instituída.

O segundo discute-se assim. — Parece que a circuncisão foi inconvenientemente instituída.
 
1. — Pois, como se disse, na circuncisão fa­zia-se uma profissão de fé. Ora, do pecado do primeiro homem nunca ninguém pôde livrar-se senão pela fé na Paixão de Cristo segundo aquilo do Apóstolo: Ao qual propôs Deus para ser vítima de propiciação pela fé no seu sangue. Logo, a circuncisão devia ter sido instituída logo depois do pecado do primeiro homem, e não no tempo de Abraão.
 
2. Demais. — Na circuncisão tomava-se o compromisso de observar a lei antiga, como no batismo, o da nova. Por isso diz o Apóstolo: Protesto a todo homem que se circuncida que está obrigado a guardar toda a lei. Ora, a observância da lei não foi estabelecida no tempo de Abraão, mas, antes, no de Moisés. Logo, foi inconvenientemente instituída a circuncisão no tempo de Abraão.
 
3. Demais. — A círcuncisão era figurativa e reparatória do batismo. Ora, o batismo é oferecido a todos, conforme àquilo do Evangelho: Ide e ensinai a todos os povos, batizando-os. Logo, a circuncisão não devia ser instituída para ser observada somente pelo povo dos Judeus, mas por todos os povos.
 
4. Demais. — A circuncisão carnal deve corresponder à espiritual, como a figura, ao figurado. Ora, a circuncisão espiritual, feita por Cristo, convém indiferentemente a ambos os sexos; pois em Jesus Cristo não há homem nem mulher, como diz o Apóstolo. Logo, não foi acer­tadamente instituída a circuncisão, que convém só aos homens.
 
Mas, em contrário, como se lê na Escritura, a circuncisão foi instituída por Deus, cujas obras são perfeitas.
SOLUÇÃO. — Como dissemos, a circuncisão era preparatória para o batismo, por ser ela uma profissão de fé em Cristo, que também manifes­tamos no batismo. Ora, dentre os antigos Pa­triarcas, Abraão foi o primeiro a receber a pro­messa do nascimento futuro de Cristo, como o diz a Escritura: Todas as gentes da terra serão benditos naquele que há de proceder de ti. E também foi ele o primeiro que se reparou da sociedade dos infiéis, obedecendo à ordem de Deus, que lhe disse: Sai da tua terra e da tua parentela. Logo, a circuncisão foi conveniente­mente instituída em Abraão.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Imediatamente depois do pecado dos nossos pri­meiros pais, a ciência pessoal de Adão, que tinha sido plenamente instruído nas coisas divinas, comunicava à fé e à razão natural um vigor bas­tante forte que tornava inútil então determinar os sinais da fé e os meios da salvação. Mas cada um manifestava a sua crença mediante os sinais que lhe mais agradavam. No tempo de Abraão porem diminuía a fé e muitos caíam na idolatria; E também a razão natural se debilitava pelo aumento da concupiscência da carne, que chegou até aos pecados contra a natureza. Por isso, então e não antes, foi instituída a circuncisão como uma profissão de fé e para diminuir a concupiscência carnal.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A observância da lei não devia ser imposta senão ao povo já organi­zado; pois, a lei se ordena para o bem público, como se disse. Ora, o povo dos fiéis devia con­gregar-se mediante um sinal sensível, necessário para se os homens adunarem em qualquer reli­gião, como diz Agostinho. Por isso era necessário instituir primeiro a circuncisão, que dar a lei. Quanto aos Patriarcas que viveram antes da lei, instruíam as suas famílias sobre as coisas divi­nas, a modo de paternas advertências. Por isso o Senhor disse de Abraão: Eu sei que ele há de ordenar a seus filhos e a toda a sua família de­pois dele, que guardem os caminhos do Senhor.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — O batismo em si mes­mo contém a perfeição da salvação, a que Deus chama todos os homens, segundo àquilo do Após­tolo: Que quer que todos os homens se salvem. Por isso o batismo é proposto a todos os povos. Ao contrário, a circuncisão não continha a per­feição da salvação; mas a figurava como devendo ser realizada por Cristo, que havia de nascer do povo judeu. Por isso só a esse povo foi dada a circuncisão.
 
RESPOSTA À QUARTA. — A circuncisão foi ins­tituída como um sinal de fé para Abraão, crente que havia de ser o pai de Cristo que lhe foi pro­metido; por isso era reservada só aos do sexo masculino. E também o pecado original, para o qual foi especialmente como remédio, ordenada a circuncisão, transmite-se pelo pai e não pela mãe, como dissemos na Segunda Parte. Mas O batismo contém a virtude de Cristo, causa uni­versal da salvação de todos, e remissão de todos os pecados.

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